segunda-feira, 17 de abril de 2017

PINTURA E FOTOGRAFIA

A passagem da pintura para a fotografia de paisagens, do desenho linear para as esculturas tridimensionais, não foram saltos no meu caminho, mas transições naturais, um deslocamento espontâneo de fases anteriores, sem quebrar o ritmo do passado, mas situando-se corajosamente no presente, no aqui e agora.

Arte e vida são companheiras inseparáveis e a minha vida foi mudando da necessidade das grandes viagens, ao cotidiano, a me situar no meu dia a dia, no meu em torno. Agora vejo as montanhas que se estendem a perder de vista da minha janela, o raio de sol que penetra dentro de casa e desenha formas geométricas sobre a mesa.

Parti da necessidade de me expressar com tintas e pinceis, do meu desejo lírico de transmitir em cores, nuances, pinceladas fortes ou esponjadas transparentes, tudo aquilo que eu via fora e correspondia ao que eu sentia naquele momento.

“É preciso ver muitas cidades, e coisas” nos dizia Rilke em cartas a um jovem poeta. Tendo como bandeira essa necessidade interior de viajar, conhecer outros povos, dediquei grande parte da minha vida a pesquisar o mundo, falar outras línguas, criar novas amizades. Buscava conhecer o todo, para voltar ao meu país, a minha região montanhosa, à minha casa. Atualmente viajo pela internet, onde tenho dois blogs.
Hoje continuo o meu caminho nas artes, de forma mais intimista. Vejo ao redor de mim as pedras do alto do morro, junto à capela. Elas ali estão há milênios como esculturas naturais em grandes formatos.

Caminho pelas montanhas levando o meu iPad, ou meu celular, e, algumas vezes pedindo emprestado à Marília a sua câmera pequenina, fácil de carregar.
Vou olhando a paisagem e fotografando a incidência da luz solar sobre as curvas sensuais, dos montes, nas diferentes horas do dia. Muitas vezes as nuvens do céu me parecem semelhantes aos meus quadros mais antigos, da minha fase abstrato-lírica. Estou registrando o que vejo, o que sinto e o que me cerca neste meu cotidiano de buscar uma celebração à natureza. A fotografia é uma das minhas formas de expressão. Com ela, me volto também para um registro de minhas esculturas ou mais especificamente os meus projetos de escultura feitos em papeis de cores variadas. Com ajuda do sol que se projeta generosamente pelas frestas das janelas, as esculturas de papel vão tomando características diversas.

Criar é perceber o novo a cada instante e o meu aqui e agora é sempre interessante, registrando a sombra e a luz.
O que é a fotografia senão este registro de sombra e luz?
Através da fotografia aliada aos projetos de escultura, vou  experimentando duas formas de arte ao mesmo tempo, pois os projetos estão se tornando modelos para a fotografia. Gosto de fotografa-los em posições diversas, com a ajuda do sol. São formas de arte que refletem o cotidiano de uma pessoa. Dentro de minha sala posso ver formas geométricas nas paredes, projetadas pelo sol através de uma fresta da cortina.
Meu aqui e agora vai se desdobrando como um filme.

Aprendi há muitos anos, com o mestre Guignard a perceber anjos e guerreiros nas nuvens do céu, paisagens surrealistas nas manchas dos muros velhos. Hoje vejo estes anjos e guerreiros nas pedras das montanhas e isto me ressuscita memórias do passado.
A educação do olhar é treinamento essencial para qualquer artista e é através dela que chegamos à fotografia.
A arte de fotografar é perceber o novo a cada instante e este novo não acaba com o tempo, mas se prolonga ao longo dos anos como uma celebração contínua da arte de viver.

*Fotos de Maria Helena Andrés

VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA


Um comentário:

  1. Maravilha. A fotografia é isso aí também e o olhar fotográfico está presente na sua fotografia. Parabéns!!!

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