A
passagem da pintura para a fotografia de paisagens, do desenho linear para as
esculturas tridimensionais, não foram saltos no meu caminho, mas transições
naturais, um deslocamento espontâneo de fases anteriores, sem quebrar o ritmo
do passado, mas situando-se corajosamente no presente, no aqui e agora.
Arte
e vida são companheiras inseparáveis e a minha vida foi mudando da necessidade
das grandes viagens, ao cotidiano, a me situar no meu dia a dia, no meu em
torno. Agora vejo as montanhas que se estendem a perder de vista da minha
janela, o raio de sol que penetra dentro de casa e desenha formas geométricas
sobre a mesa.
Parti
da necessidade de me expressar com tintas e pinceis, do meu desejo lírico de transmitir
em cores, nuances, pinceladas fortes ou esponjadas transparentes, tudo aquilo
que eu via fora e correspondia ao que eu sentia naquele momento.
“É
preciso ver muitas cidades, e coisas” nos dizia Rilke em cartas a um jovem
poeta. Tendo como bandeira essa necessidade interior de viajar, conhecer outros
povos, dediquei grande parte da minha vida a pesquisar o mundo, falar outras
línguas, criar novas amizades. Buscava conhecer o todo, para voltar ao meu
país, a minha região montanhosa, à minha casa. Atualmente viajo pela internet, onde
tenho dois blogs.
Hoje
continuo o meu caminho nas artes, de forma mais intimista. Vejo ao redor de mim
as pedras do alto do morro, junto à capela. Elas ali estão há milênios como
esculturas naturais em grandes formatos.
Caminho
pelas montanhas levando o meu iPad, ou meu celular, e, algumas vezes pedindo
emprestado à Marília a sua câmera pequenina, fácil de carregar.
Vou
olhando a paisagem e fotografando a incidência da luz solar sobre as curvas
sensuais, dos montes, nas diferentes horas do dia. Muitas vezes as nuvens do
céu me parecem semelhantes aos meus quadros mais antigos, da minha fase
abstrato-lírica. Estou registrando o que vejo, o que sinto e o que me cerca
neste meu cotidiano de buscar uma celebração à natureza. A fotografia é uma das
minhas formas de expressão. Com ela, me volto também para um registro de minhas
esculturas ou mais especificamente os meus projetos de escultura feitos em
papeis de cores variadas. Com ajuda do sol que se projeta generosamente pelas
frestas das janelas, as esculturas de papel vão tomando características
diversas.
Criar
é perceber o novo a cada instante e o meu aqui e agora é sempre interessante,
registrando a sombra e a luz.
O
que é a fotografia senão este registro de sombra e luz?
Através
da fotografia aliada aos projetos de escultura, vou experimentando duas formas de arte ao mesmo
tempo, pois os projetos estão se tornando modelos para a fotografia. Gosto de
fotografa-los em posições diversas, com a ajuda do sol. São formas de arte que
refletem o cotidiano de uma pessoa. Dentro de minha sala posso ver formas
geométricas nas paredes, projetadas pelo sol através de uma fresta da cortina.
Meu
aqui e agora vai se desdobrando como um filme.
Aprendi
há muitos anos, com o mestre Guignard a perceber anjos e guerreiros nas nuvens
do céu, paisagens surrealistas nas manchas dos muros velhos. Hoje vejo estes
anjos e guerreiros nas pedras das montanhas e isto me ressuscita memórias do
passado.
A
educação do olhar é treinamento essencial para qualquer artista e é através
dela que chegamos à fotografia.
A
arte de fotografar é perceber o novo a cada instante e este novo não acaba com
o tempo, mas se prolonga ao longo dos anos como uma celebração contínua da arte
de viver.
*Fotos
de Maria Helena Andrés
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TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA
Maravilha. A fotografia é isso aí também e o olhar fotográfico está presente na sua fotografia. Parabéns!!!
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