Dando
continuidade ao depoimento de Artur Andrés sobre os exercícios que Gurdjieff
ensinava para seus seguidores, transcrevo o texto abaixo:
“Para
acabar com essa preguiça existencial, uma das propostas de
Gurdjieff
é colocar o corpo para se mexer, por meio da prática de uma
série
de movimentos e danças sagradas desenvolvidas por ele.
Gurdjieff dava enorme importância
à percepção do corpo, que ele
dizia ser uma porta de acesso a
níveis impossíveis de ser atingidos só com a
mente. Por isso, criou os
movimentos e danças sagradas. Assim como as
danças giratórias dos dervixes
sufis, esses movimentos demandam tanta
atenção para serem executados
que, com isso, a pessoa entra num estado de
consciência mais afinado.
É
similar ao que ocorre com diversas outras práticas corporais, como a yoga,
o tai chi ou o kung fu, todas extremamente válidas. No caso das danças
sagradas, elas ainda trabalham junto com amúsica, que ajuda ainda mais a
estabelecer uma profunda conexão interior.
Na realidade, a música não tem
outra função além desta, nos
despertar para níveis superiores
de consciência. No caso das músicas
compostas por Gurdjieff, elas
trabalham com base na lei de ressonância.
Por exemplo, quando se toca uma
determinada nota num instrumento, se há
outro instrumento próximo, ele
ressoa a mesma nota. E o mesmo acontece
conosco. Quando determinada
melodia é tocada, nosso universo interior
também ressoa essa melodia, na
mesma intensidade. Assim, a música não
só toca o nosso centro emocional,
os nossos sentimentos, como os
transforma, nos colocando num
estado mais harmonioso, em sintonia com
as vibrações superiores de nossa
alma.
Gurdjieff
também criou exercícios para se desenvolver o
autoconhecimento
durante as tarefas do cotidiano.
Esses exercícios servem para estimular o que chamamos de
lembrança de si. Um deles é
simples: durante todo o dia, você vai carregar
algum objeto, um jornal, por
exemplo, mas não vai ler. Você deve levá-lo
com você o tempo todo, numa
reunião na empresa, no almoço, seja onde
for, você leva o jornal, mas não
lê. A função desse jornal é apenas servir
como um “despertador”, para que,
sempre que olhar para ele, você se
lembre de si mesmo, de qual é o
seu propósito na vida. Ou você pode botar
um bago de feijão dentro do
sapato; pode usar um modelo de tênis num pé,
e outro modelo no outro; pode
usar meias de cores diferentes. Cada atitude
dessas é um despertador para
ajudá-lo a acordar. Em geral, se usa cada
objeto durante uma semana. Depois
disso, ele começa a perder o efeito, e a
pessoa deve achar outro
despertador.
Um outro “despertador” que
Gurgjieff recomendaria consiste numa situação interessante: sempre que passar
debaixo de uma porta, você
deve procurar lembrar-se de si,
de sentir a si mesmo passando sob aquela
porta. Parece simples, mas, na
maioria das vezes, a pessoa só se lembra do
exercício, ou seja, só se lembra
de si mesma após ter atravessado a porta.
Isso mostra o nosso nível de
desatenção, de desconexão interior. Por isso,
na base de tudo, está o exercício
da lembrança de si. E o que é essa
lembrança de si? É eu me dar
conta de que, ao mesmo tempo em que estou
com a atenção voltada para fora,
outra parte da atenção também é
direcionada para mim. Este é o
ponto-chave: se você consegue lembrar-se
de si a cada instante da vida,
está resolvido o problema.
Isso, claro, não quer dizer que
seja uma lembrança só da cabeça. É
preciso incluir todo o organismo
nesse processo. Saber relaxar o corpo
conscientemente, por exemplo, é
muito importante, pois é através da
sensação corporal que vou entrar
em meu edifício interior. A porta de
entrada é sempre o corpo. A
sensação corporal deve estar sempre presente.
Com isso, uma simples conversa
pode se transformar numa oportunidade
de trabalho interior. Consiste
em procurar estar presente a meu corpo,
sentir alguma parte de mim mesmo, falando de um lugar central de meu ser, em
vez de ficar tagarelando a partir da cabeça. .” (Trechos
da entrevista de Artur Andrés com Lauro Henriques Jr, publicada no livro
“Palavras de Poder”, vol 1, Editora Alaúde)
* Artur Andrés Ribeiro é doutor em música pela
UFMG, onde leciona. É um dos fundadores do grupo Uakti e já trabalhou com Milton
Nascimento, Paul Simon e Philip Glass. É um dos coordenadores do Instituto
Gurdjieff de Belo Horizonte.
*Fotos
da internet
VISITE
TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário