Estou na Galeria de Arte do Minas Tênis Clube,
percorrendo uma exposição de Paulo Laender. Ele mostra sua trajetória na arte,
desde a sua primeira exposição no Minas Tênis Clube, a convite de Palhano
Junior. Na ocasião ele mostrou desenhos de 1963. No catálogo desta mostra coletiva estão : Paulo Frade Laender, Luiz Antonio
Lanza e Antonio Eugênio de Salles Coelho. Para esses três artistas, a vida foi
mostrando caminhos diferentes.
Paulo Laender viveu etapas diversas de sua arte,
sempre conservando uma ligação de uma fase com a outra.
Talvez poderíamos dizer: crescimento orgânico, como
uma árvore que vai conservando as características de sua espécie e vai
crescendo, tomando formas variadas mas sempre ligadas umas com as outras, com
uma coerência impressionante. Exemplo de Unidade na Diversidade. Isto porque na
diversidade de materiais, gravuras em metal, desenhos, pinturas, esculturas, há
sempre uma unidade que caracteriza o artista.
Paulo Laender foi meu aluno, e desde os desenhos dos
primeiros barcos, já demonstrava a sua escolha pelas formas curvas. Há também
uma característica que nos mostra a busca dessas formas curvas. Os barcos de
1963 nos mostram o jovem talento despertando para uma viagem ao desconhecido. O barco simboliza viagem e Paulo Laender
viajou, percorreu o mundo, mas agora em seu atelier de Nova Lima, continua a
grande viagem pelos caminhos da arte. O perfeccionismo de suas obras é
fascinante e a sensualidade de suas formas nos lembra os grandes mestres do
barroco mineiro. Os portugueses trouxeram para nós o barroco e, em terras
brasileiras, produziram suas melhores obras que até hoje estão nas igrejas de
Ouro Preto, Tiradentes, São João Del Rey e Sabará.
Paulo retoma o barroco em seu espírito, transcendendo
a forma e elevando-a a um plano de grande contemporaneidade.
Ele é um artista barroco e contemporâneo, está
presente no seu tempo, corajosamente enfrentando as dificuldades que a arte nos
impõe. Em suas esculturas, inspiradas em andanças pela Índia, admiramos a
figura de Ganesh, aquele que abre os caminhos. Sem reproduzir a figura de
Ganesh, ele nos mostra o seu espírito e a sua atitude resoluta e firme.
Voltando ao Brasil, encontramos o escultor
trabalhando na forma de barcos. Grandes
troncos de árvores são esculpidos lembrando a forma dos nossos barcos indígenas
e dos barqueiros do São Francisco.
Agora, o barco não é mais desenhado, mas esculpido
na madeira laminada, colada e cavilhada, característica muito especial de seu
estilo como escultor. Paulo desce às nossas origens, rebusca seus antepassados
indígenas e os artistas e artesãos que construíram o patrimônio artístico de
Minas Gerais.
Ser universal e ao mesmo tempo regional é a grande
lição que este artista mineiro está dando para as gerações futuras.
Paulo Laender é um artista consciente, maduro. Não
busca modismos nem influências externas, mas é dentro dele mesmo, em seu
interior que ele vai buscar motivações para o seu trabalho.
Esta busca interior às vezes é também figurada em
esculturas ou objetos, onde outras formas menores estão colocadas mostrando o
mundo externo e o mundo interno que continua existindo em toda a natureza e na
criação.
*Fotos de Eliana Andrés
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