Todo ser humano tem necessidade de reflexão, de se
afastar do movimento das cidades, de contemplar a natureza, os céus, o bando de
aves que passa, as folhas das árvores e as pedras. Essa reflexão é necessária
para a sobrevivência do homem como ser total. Na cidade moderna ela é mutilada
pelo intenso movimento.
O japonês preserva cuidadosamente seus recantos de
meditação. Esses são templos, onde a natureza é o altar para o encontro com a
eternidade. Na tranquilidade desses jardins a alma recebe como benção o
mistério nascido da terra.
A pedra em seu silêncio nos conta histórias do
passado.
Ela não se reproduz como a planta. Existe. Quando
foi criada? Ninguém sabe. E neste sentido de eternidade a pedra é mística e tem
significado profundo.
Em Kyoto, os jardins de pedras sem plantas, são
despojados como a doutrina Zen. O Zen-Budismo foi a alma da arte japonesa. Essa
escola de reflexão importada da China expandiu-se também pelo Japão e exerceu
sua influência sobre arquitetos, urbanistas e artistas plásticos. Esses
artistas pintavam em grandes rolos de 15 metros sobre papel ou seda. A
identificação do homem com a natureza é expressa através desses segmentos
lineares, onde forma e espaço se equilibram em ritmo sinuoso: rochedos e
árvores retorcidas, montanhas em planos superpostos , pintura de sonho e
poesia, deixando entreve r um pouco da Eternidade.
A filosofia Zen ordenou sugerir e não demonstrar. O
homem desaparece dentro da paisagem. A natureza que o antecipou continua, em
seu silêncio, a superá-lo. O homem vive, cresce e morre. A montanha resiste,
afronta tempestades, ventanias e às vezes terremotos, mas só uma energia muito
forte consegue derrubá-la. Talvez, por isso mesmo, suas pinturas emocionem
tanto o homem receptivo á Realidade Espiritual. Foram feitas por monges
budistas dedicados à meditação. Não procuram refletir cenas realistas, mas a
Eternidade das coisas.
Enquanto o mundo ocidental preocupava-se com o
homem, e o renascimento rendia-lhe verdadeiro culto como centro do universo, o
Oriente silenciosamente engrandecia a natureza. As grandes paisagens, em rolos enormes, dos museus de
Kyoto ou Tóquio, são testemunhas de uma arte sempre renovadora. De sua
influência sobre o Ocidente nasceu a pintura abstrata informal.
Depois da guerra houve maior troca de influências. O
povo ocidental trouxe a máquina e o progresso e a tradição milenar desse país
levou ao Ocidente um pouco de sua vida interior. A cultura é a soma daquilo que
temos por herança com o que nos é incorporado pelo meio. E o meio, hoje, não é
apenas a nossa região, mas o mundo todo. Pertencemos a ele como uma parcela
viva e dinâmica. Seríamos, talvez, uma célula morta se nos recusássemos ao enriquecimento
de fora. Ele é necessário desde que não fragmente aquilo que realmente somos.
O artista japonês não se despersonaliza quando
assume o Ocidente, porque o espírito oriental é revelado através da
sensibilidade, da inventividade e da intuição, que supera a razão. No museu de
Tóquio, entre obras modernas, os rolos antigos não formam contraste. A
sobriedade de seus elementos formais, o poder de sugerir mais do que
raciocinar, conferem às gerações futuras o caminho da continuidade. (Trecho do
livro de minha autoria “Encontro com mestres no oriente”)
*Fotos da internet
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