terça-feira, 11 de outubro de 2016

JARDINS DE MEDITAÇÃO E ARTE JAPONESA

Todo ser humano tem necessidade de reflexão, de se afastar do movimento das cidades, de contemplar a natureza, os céus, o bando de aves que passa, as folhas das árvores e as pedras. Essa reflexão é necessária para a sobrevivência do homem como ser total. Na cidade moderna ela é mutilada pelo intenso movimento.

O japonês preserva cuidadosamente seus recantos de meditação. Esses são templos, onde a natureza é o altar para o encontro com a eternidade. Na tranquilidade desses jardins a alma recebe como benção o mistério nascido da terra.

A pedra em seu silêncio nos conta histórias do passado.

Ela não se reproduz como a planta. Existe. Quando foi criada? Ninguém sabe. E neste sentido de eternidade a pedra é mística e tem significado profundo.

Em Kyoto, os jardins de pedras sem plantas, são despojados como a doutrina Zen. O Zen-Budismo foi a alma da arte japonesa. Essa escola de reflexão importada da China expandiu-se também pelo Japão e exerceu sua influência sobre arquitetos, urbanistas e artistas plásticos. Esses artistas pintavam em grandes rolos de 15 metros sobre papel ou seda. A identificação do homem com a natureza é expressa através desses segmentos lineares, onde forma e espaço se equilibram em ritmo sinuoso: rochedos e árvores retorcidas, montanhas em planos superpostos , pintura de sonho e poesia, deixando entreve r um pouco da Eternidade.

A filosofia Zen ordenou sugerir e não demonstrar. O homem desaparece dentro da paisagem. A natureza que o antecipou continua, em seu silêncio, a superá-lo. O homem vive, cresce e morre. A montanha resiste, afronta tempestades, ventanias e às vezes terremotos, mas só uma energia muito forte consegue derrubá-la. Talvez, por isso mesmo, suas pinturas emocionem tanto o homem receptivo á Realidade Espiritual. Foram feitas por monges budistas dedicados à meditação. Não procuram refletir cenas realistas, mas a Eternidade das coisas.

Enquanto o mundo ocidental preocupava-se com o homem, e o renascimento rendia-lhe verdadeiro culto como centro do universo, o Oriente silenciosamente engrandecia a natureza. As grandes  paisagens, em rolos enormes, dos museus de Kyoto ou Tóquio, são testemunhas de uma arte sempre renovadora. De sua influência sobre o Ocidente nasceu a pintura abstrata informal.

Depois da guerra houve maior troca de influências. O povo ocidental trouxe a máquina e o progresso e a tradição milenar desse país levou ao Ocidente um pouco de sua vida interior. A cultura é a soma daquilo que temos por herança com o que nos é incorporado pelo meio. E o meio, hoje, não é apenas a nossa região, mas o mundo todo. Pertencemos a ele como uma parcela viva e dinâmica. Seríamos, talvez, uma célula morta se nos recusássemos ao enriquecimento de fora. Ele é necessário desde que não fragmente aquilo que realmente somos.

O artista japonês não se despersonaliza quando assume o Ocidente, porque o espírito oriental é revelado através da sensibilidade, da inventividade e da intuição, que supera a razão. No museu de Tóquio, entre obras modernas, os rolos antigos não formam contraste. A sobriedade de seus elementos formais, o poder de sugerir mais do que raciocinar, conferem às gerações futuras o caminho da continuidade. (Trecho do livro de minha autoria “Encontro com mestres no oriente”)

*Fotos da internet


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