Dando prosseguimento ao
tema ecológico, transcrevo a segunda parte da palestra ministrada por Maurício
Andrés Ribeiro.
“As marcas materiais do antropoceno, que os futuros
arqueólogos e geólogos identificarão inscritas na matéria do planeta são traços
de radiação atômica, resíduos de plástico, de alumínio e de concreto, bem como
ossos de galinha. Todos eles são resíduos produzidos pelo homo lixius, a única espécie viva que produz lixo. Mas nossa
espécie autodenominada homo sapiens é também designada por diversos
outras características: o homo ludens,
que brinca e joga; o homo bellicus,
que guerreia; o homo corruptus, que
corrompe e é corrompido; o homo
economicus, que se move por interesses de ganhos e acumulação; o homo stressatus, que se apressa e se
estressa; o homo ecologicus, que
procura se relacionar de modo harmônico com o ambiente; o homo noologicus, que se guia por sua consciência intuitiva e
racional, entre outras designações.
Ecologizar as humanidades,
no contexto da ecologia integral, implica em fecundar as ciências humanas com
os conhecimentos dos vários campos em que se desdobram as ciências ecológicas,
não apenas aqueles derivados de suas origens na biologia – a relação dos
ambientes, com os bichos e plantas – mas também na ecologia social e nos campos
relacionados com a ecologia interior – a ecologia profunda a ecologia do ser, a
ecologia pessoal e transpessoal etc.
A
ecologia, que se originou nas ciências biológicas, se desdobra em inúmeros
campos que crescentemente estudam a presença humana, tais como a ecologia
humana, a ecologia cultural, a ecologia social, a ecologia urbana, a ecologia
industrial, bem como outros campos que estudam a consciência e os aspectos
subjetivos e psicológicos: a ecologia do ser, a ecologia pessoal, a ecologia
mental entre outros. Uma agenda atualizada sobre as
humanidades precisa se apoiar em concepções do que seja o ser humano, o objeto
e o sujeito do que elas cobrem. Isso implica em se aprofundar no
autoconhecimento e no conhecimento sobre o universo interior (as inscapes definidas por Pierre Dansereau)
e sobre as questões subjetivas.
A
ecologia integral, pioneiramente estudada por Pierre Dansereau e adotada em
2015 como conceito central pelo papa Francisco em sua Encíclica Laudato Si,
integra aspectos biológicos, sociais e a ecologia interior. Tal movimento
integrador não se limita às fronteiras das disciplinas e encontra pontes entre
elas, numa visão holística e menos fragmentada.
A
Conferência na UFMG deu destaque ao tema do território. Nesse contexto lembrei
que o meio ambiente pode ser abordado em múltiplas
escalas espaciais, desde o interior do organismo de um indivíduo, que é em si
mesmo um ecossistema complexo habitado por milhões de seres microscópicos, até
a escala do ambiente local, regional, global e cósmico. A mandala desenhada por
Pierre Dansereau torna visível essas várias escalas do território.
Ecologizar as humanidades é
oportuno porque a ecologia adquiriu centralidade nas últimas décadas e
tornou-se um tema de interesse para questões estruturantes da vida e da
sociedade, tais como a segurança e a economia. Exemplificando, as mudanças
climáticas trazem cada vez mais eventos críticos, secas, enchentes, furacões,
que provocam prejuízos às atividades econômicas e que trazem novos riscos à
vida e à segurança humana. Fenômenos tais como os dos refugiados ambientais se
multiplicam e criam novas dinâmicas e tensões entre sociedades, países e
indivíduos.
Para se refundar as
ciências humanas é relevante ecologizá-las, trazer para dentro delas a
perspectiva das relações ecológicas e da consciência ecológica, para que elas
se tornem sintonizadas com o espírito necessário neste século XXI.
Ecologizar as ciências
humanas ajudará que elas tragam sua contribuição nessa nova etapa da evolução
no planeta, caracterizada pelo predomínio da consciência e não mais apenas da
matéria e da vida.”
(Maurício Andrés Ribeiro)
*Fotos de arquivo
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