Dando sequência aos nossos estudos sobre a arte não
figurativa, originária da Vanguarda Russa, retomo um texto do meu livro “Os
Caminhos da Arte”:
“Jean Cassou, crítico europeu, viu a pintura
abstrata como a manifestação espontânea do sentimento religioso e considerou
importantíssimo o papel da arte na segunda metade do século XX. Com grande
agudeza de percepção, abrangeu o panorama da arte abstrata e sua função de
modificar por completo o caminho traçado pelas demais tendências figurativas. A
arte não figurativa, afastando-se da realidade exterior, levou o artista a
mover-se em direção à sua própria essência, na qual encontrou também a ciência,
a física, a matemática e a filosofia.
Que a arte, hoje, satisfaça às aspirações religiosas
quando tantas camadas sociais, por motivos de razão, lassitude, repugnância,
indiferença ou respeito humano se afastam das religiões estabelecidas, não há
que espantar-nos, antes ver aí uma dessas astúcias, dessas táticas e
combinações por meio das quais o gênio todo poderoso das grandes transformações
do mundo trata a natureza humana.
Se para Pevsner e Gabo o ideal era a formação de uma
nova sociedade, para Malevitch a verdadeira realidade da vida e da arte
encontrava-se nessa busca do Supremo por meio da ausência de cores, da pureza e
da sobriedade de formas. Sua arte buscava o vazio e a não objetividade. Branco
sobre Branco, seu último quadro, enfatizava a absorção da forma na totalidade
do Ser, que é impessoal e sem forma. O caminho proposto por Malevitch
mostra-nos o fim da manifestação fenomenal e a entrada em outro plano, onde
qualquer manifestação exterior significa descer ao mundo da multiplicidade. O
branco é a fusão de todas as cores, sem fragmentações. Em Malevitch, a
espiritualidade da Arte Abstrata encontra seu ponto máximo. Formas e cores
desaparecem para dar lugar à claridade e à pureza suprema que é o Branco sobre Branco.
A busca espiritual desses pintores russos nos remete
às fontes orientais da filosofia perene das
Upanishads.
O conceito fundamental do Hinduísmo é que, por
detrás da multiplicidade de formas do mundo imanente, existe uma Causa
Primeira, imutável, inimaginável, sem atributos. Esta é Brahman
e Atman (correspondendo
respectivamente à abordagem objetiva e subjetiva).
O Ser impessoal ou o Supremo, ao qual Malevitch se
refere, corresponde a Brahman, o Criador
do universo, aquele que está presente neste nosso mundo, com sua multiplicidade
de formas, e ao mesmo tempo o transcende.
Atman, da mesma natureza de Brahman, é a sua
abordagem subjetiva, ou a Centelha Divina inerente a cada um de nós.” (Caminhos
da Arte, 3° Edição, Editora C/ARTE)
*Fotos da internet
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