segunda-feira, 5 de setembro de 2016

EXPERIÊNCIA ARTÍSTICA III

     Compara-se o artista ao místico. Tanto um quanto o outro voltam-se para o infinito, buscando alguma coisa mais que as simples tarefas utilitárias. O místico, no plano sobrenatural, e o artista, no plano natural, estão ligados por uma semelhança que se traduz na ascese, na busca do espiritual. Um procura a vida espiritual, o outro a ideia criadora, mas ambos transcendem o mundo com suas limitações e incertezas. Ambos se inclinam à vida interior, tentando sondar a profundidade de sua própria alma, onde se encontram as verdadeiras riquezas. 
Mas a maioria dos homens não sente necessidade do místico nem do artista. Vivemos numa civilização baseada na indústria, aprisionada à máquina, onde os valores espirituais são relegados a segundo plano. Tudo na nossa vida moderna contribui para subestimar os valores espirituais, tudo impede que o homem entre em si mesmo, penetrando no mistério de sua alma. 
E os próprios artistas, às vezes, apressados e envolvidos na engrenagem do século, preferem abdicar de sua fonte criadora para procurar algo que os ponha em evidência com maior facilidade. O sucesso é um dos grandes mitos de nosso tempo, mas nem sempre é o caminho mais seguro para o aperfeiçoamento consciente. O progresso em arte vem do sofrimento e da conquista diária, do constante apelo a ultrapassar-se a si mesmo, a renovar-se.

         Sem esta inquietação, esta sede de acrescentar alguma coisa a mais ao que já foi feito não poderia haver progresso artístico.

         "Por isso a única saída para o artista é não se deixar petrificar em ídolo. É nunca repetir a obra aplaudida, nunca lisonjear o gosto de seus leitores. Em vez de ser dirigido, dirigir. Dar poemas ao público quando ele pede romances, e romances quando ele pede poemas." Estas palavras de Miguel Torga em seu Diário lembrando a independência absoluta que o escritor deveria ter em relação ao público poderão se adaptar ao artista plástico.

         Os admiradores e os aplausos não significam tanto na obra, o importante é continuar, seguir para a frente, apesar dos sucessos, das vitórias conquistadas. . (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, Editora Agir, 1966, já esgotado)

*Fotos da internet

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