Compara-se o artista ao
místico. Tanto um quanto o outro voltam-se para o infinito, buscando alguma
coisa mais que as simples tarefas utilitárias. O místico, no plano
sobrenatural, e o artista, no plano natural, estão ligados por uma semelhança
que se traduz na ascese, na busca do espiritual. Um procura a vida espiritual,
o outro a ideia criadora, mas ambos transcendem o mundo com suas limitações e
incertezas. Ambos se inclinam à vida interior, tentando sondar a profundidade
de sua própria alma, onde se encontram as verdadeiras riquezas.
Mas a maioria
dos homens não sente necessidade do místico nem do artista. Vivemos numa
civilização baseada na indústria, aprisionada à máquina, onde os valores
espirituais são relegados a segundo plano. Tudo na nossa vida moderna contribui
para subestimar os valores espirituais, tudo impede que o homem entre em si
mesmo, penetrando no mistério de sua alma.
E os próprios artistas, às vezes,
apressados e envolvidos na engrenagem do século, preferem abdicar de sua fonte
criadora para procurar algo que os ponha em evidência com maior facilidade. O
sucesso é um dos grandes mitos de nosso tempo, mas nem sempre é o caminho mais
seguro para o aperfeiçoamento consciente. O progresso em arte vem do sofrimento
e da conquista diária, do constante apelo a ultrapassar-se a si mesmo, a
renovar-se.
Sem esta inquietação, esta sede de acrescentar alguma coisa
a mais ao que já foi feito não poderia haver progresso artístico.
"Por isso a única saída para o artista é não se deixar
petrificar em ídolo. É nunca repetir a obra aplaudida, nunca lisonjear o gosto
de seus leitores. Em vez de ser dirigido, dirigir. Dar poemas ao público quando
ele pede romances, e romances quando ele pede poemas." Estas
palavras de Miguel Torga em seu Diário lembrando
a independência absoluta que o escritor deveria ter em relação ao público
poderão se adaptar ao artista plástico.
Os admiradores e os aplausos não significam tanto na obra, o
importante é continuar, seguir para a frente, apesar dos sucessos, das vitórias
conquistadas. . (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, Editora Agir, 1966, já
esgotado)
*Fotos da internet
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