Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
segunda-feira, 26 de setembro de 2016
MONDRIAN E A VANGUARDA RUSSA
O Centro Cultural Banco do Brasil, situado no
Circuito Cultural Praça da Liberdade é um ponto de encontro de arte em Belo Horizonte.
Para o CCBB se desloca um público participante que está ali para aprender
alguma coisa sobre os artistas, sua vida e obra.
Nas diversas salas estão expostos os quadros de
Mondrian, mestre holandês que se filiou ao movimento "De Stijl" na Europa.
“A exposição não se esgota com a
história artística de Mondrian. Há uma segunda etapa, igualmente relevante para
compreender o que aconteceu naquele período (1917-1928), que mostra a agitação
provocada pela revista De Stijl (O Estilo), o meio escolhido para que um grupo
de artistas, designers e arquitetos, incluindo Mondrian, defendesse o
neoplasticismo e a utopia da harmonia universal de todas as artes.
Mondrian acreditava que sua visão da
arte moderna transcendia as divisões culturais e poderia se transformar numa
linguagem universal, baseada na pureza das cores primárias, na superfície plana
das formas e na tensão dinâmica em suas telas. E seus companheiros da De Stijl
não só tinham visão semelhante, como aplicaram esses conceitos a todo tipo de
arte.” (trecho do catálogo da exposição do CCBB)
Mondrian foi um artista ligado à Teosofia que
naquela época se difundia pela Europa.
O construtivismo teve na Europa do princípio do
século XX diferentes manifestações em países diversos, inspirados numa
filosofia que estudava o cosmos e a antiga sabedoria do mundo.
Na exposição a vida de Mondrian está projetada em
vídeo e cronologicamente alinhada em pequenas fotos da época. Percorrendo a mostra,
podemos observar como a sua arte o conduziu a propostas no campo da arquitetura
de interiores, do design e do mobiliário.
Quando estourou a segunda guerra mundial, Mondrian
mudou-se para Nova York, onde desenvolveu suas propostas e realizou seu famoso “Broadway
Boogie Woogie”, inspirado no ritmo americano.
Lembramos aqui de nossos estudos sobre a Vanguarda
Russa, pioneira desta corrente artística. Releio o texto que escrevi em 1974,
capítulo do meu livro “Os caminhos da Arte”:
“Na Rússia pré-revolucionária,
Nathalie Gontcharova e Michel Larionov apresentaram as primeiras telas
rayonistas, nas quais a cor buscava a mesma independência do som. A libertação
da cor e da forma de qualquer significado real, a ideia de que têm vida
própria, marcou o início de uma série de caminhos na arte moderna. Dentro dessa
mística, a vanguarda russa, entre 1910 e 1920, teve um papel fundamental.
Poetas e pintores aliaram-se em torno das novas ideias. A liberdade pleiteada
pelos artistas significava, antes de tudo, um desligamento de pressões
externas, dos cânones e padrões tradicionais.
Maiakovski, na poesia, Malevitch, Kandinsky, Tatlin,
El Lissitzki, Naum Gabo e Pevsner, nas artes visuais, tornar-se-iam os líderes
do novo movimento, gerador de várias correntes estéticas não figurativas.
Malevitch procurava no suprematismo a essência do
sentimento humano. Sua pintura, inteiramente despojada de elementos orgânicos,
libertou-se do objeto, buscando na sensibilidade em seu estado mais puro o
encontro com o Supremo. Malevitch propunha uma arte desinteressada,
inteiramente subjetiva. Gabo e Pevsner, em seu Manifesto Realista , protestavam
em favor de uma arte independente. A busca de uma nova realidade, o sentimento
de ausência do objeto, o encontro com a essência das coisas motivaram o grupo
de vanguarda em torno do Construtivismo e também de uma nova visão da
realidade.” (trecho do meu livro “Os caminhos da arte”)
*Fotos de Ivana Andrés e da internet
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segunda-feira, 19 de setembro de 2016
AUGUSTO RODRIGUES E A ARTE NA EDUCAÇÃO II
As palavras de Augusto Rodrigues nos fazem refletir
sobre Arte e Educação:
“O processo da educação se objetiva, quando se abrem
janelas para que o homem veja a integração arte/ciência como algo normal em sua
vida, a começar pela descoberta de seu próprio corpo como um laboratório
prodigioso e capaz de fazê-lo compreender o universo, chegando normalmente à
descoberta e escolha de suas próprias vocações. Mas, como irei me identificar
com o universo se, antes de tudo, não me identifico com o microcosmo que sou eu
mesmo, que é meu corpo como síntese do universo?”
Para nos compreendermos como síntese do universo,
devemos começar com a educação de todas as potencialidades contidas em nosso
corpo, de nossos movimentos e vibrações mais sutis. Somente compreendendo a
grandeza do mecanismo de nosso próprio corpo: de nosso psiquismo e de nossa
mente com todo o seu potencial, poderemos alcançar a realização de nós mesmos
como seres humanos, vivos e habitantes de um planeta. A verdadeira paz “em
escala planetária”, brota espontânea deste conhecimento de nós mesmos. Só então
seremos livres e poderemos repetir como o oráculo de Delfos: “Conhece-te e sê
livre”. A liberdade interna e a redescoberta do homem interior, é o que Augusto
Rodrigues semeou entre as crianças na sua Escolinha de Arte do Brasil. A sua
semente germinou, atingiu e influenciou diversas escolinhas de arte.
A experiência de Augusto Rodrigues visava o
desenvolvimento de pequenas comunidades, através da criação de três centros
estimuladores de um processo de transformação. Estes centros compreendiam:
1 A
criação da Casa da Memória, que recolhia depoimentos de todos os homens e
mulheres acima de 50 anos, buscando dar uma visão da história e do
desenvolvimento socioeconômico e cultural da comunidade. Este primeiro centro
procurava valorizar o homem como um ser criador do nascimento à morte e
restabelecer o diálogo entre os jovens e aqueles que, em função da idade, são
depositários de uma rica experiência de vida.
2 O
segundo centro seria a casa das “Artes do fazer”, estimulando as experiências
do fazer da comunidade.
3 O
terceiro centro seria a Aldeia das Descobertas, instalada na área rural,
atraindo as crianças para a redescoberta da natureza.
O plano visava a integração do homem com a natureza,
consigo mesmo e com seus semelhantes, através da abertura de consciência e da
descoberta das possibilidades do indivíduo. Esses pequenos núcleos criativos
seriam a base para uma formação da comunidade como um todo harmonioso e
integrado.
As propostas de Augusto Rodrigues só poderiam ser
atingidas em plenitude, se as forças se coordenassem, não através da violência
e da coação, mas da compreensão e do aproveitamento de todas as energias vitais
do homem. Isto porque, para haver realmente progresso, é necessária uma colaboração de todas as forças vivas do planeta em que
vivemos, sem distinção de raças, nacionalidades, crenças e idades.
*Fotos da internet
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segunda-feira, 12 de setembro de 2016
AUGUSTO RODRIGUES E A ARTE NA EDUCAÇÃO I
Encontrei nos meus arquivos anotações de aulas recebidas na Escolinha de Arte do Brasil, sob orientação do grande artista e educador Augusto Rodrigues.
O programa da arte na educação, iniciado e mantido
com sucesso por Augusto Rodrigues, é um dos pontos fundamentais de progresso na
era que se iniciou com a conquista do espaço.
Dentro desse esquema, partindo-se do princípio de
que o indivíduo só se integra à sociedade quando pode criar e desenvolver sua
própria personalidade, podemos imaginar o homem do futuro integrando um
conjunto de forças que visam o impulso para a frente e não a passividade diante
dos conceitos antigos, conceitos e fórmulas que sempre atrasaram o progresso.
Segundo Augusto Rodrigues, a arte na educação visa
antes de tudo essa liberdade da personalidade humana e, portanto, a
conscientização plena do que o indivíduo pode realizar, qual a sua dimensão
nesse mundo tão rico em potencialidades, mas quase sempre tão opressor. A arte
ainda é uma das formas de liberdade mais genuínas.
O artista cria porque quer,
dentro do esquema que sua arte exige; se às vezes submete-se às pressões
externas e a exigências de correntes, sempre encontra à sua frente a evasão
para a liberdade, para o pleno domínio de suas energias criadoras. A arte na
educação visa o desenvolvimento das possibilidades criadoras e a libertação da
passividade diante das coisas.
Liberta e coordena ideias. Através da arte na
educação, a criança se afirma e participa melhor da coletividade em que vive,
sabendo desempenhar realmente o seu papel de membro atuante de uma
coletividade. A época em que vivemos exige participação construtiva, pontos de
vista claros, conscientes, sem mistificações. Os frutos da ciência alcançam
órbitas maiores e não se fecham dentro de laboratórios. O progresso é
televisionado, irradiado, filmado, pertence ao mundo. Isto nos irmana de certo
modo. Há de chegar a época em que o homem sem neuroses, integrado dentro da
sociedade, será o esteio desta sociedade. Todos os impulsos negativos serão
ajustados para um progresso que seja realmente de toda a humanidade.
O papel dos psicólogos e educadores assume dimensões
de grandeza neste advento de uma nova era. É através da redescoberta de si
mesmo que o homem pode conhecer também seus semelhantes. Seu núcleo interior é
atingido no momento criador, despertando espontaneamente a consciência de si
mesmo. A arte é o caminho direto para esta redescoberta do eu porque o ato
criador representa o próprio encontro com a vida. É nesse encontro diário,
estimulado e despertado pelo educador, que a criança
poderá se abrir para a sua própria realidade.
*Fotos da internet
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segunda-feira, 5 de setembro de 2016
EXPERIÊNCIA ARTÍSTICA III
Compara-se o artista ao
místico. Tanto um quanto o outro voltam-se para o infinito, buscando alguma
coisa mais que as simples tarefas utilitárias. O místico, no plano
sobrenatural, e o artista, no plano natural, estão ligados por uma semelhança
que se traduz na ascese, na busca do espiritual. Um procura a vida espiritual,
o outro a ideia criadora, mas ambos transcendem o mundo com suas limitações e
incertezas. Ambos se inclinam à vida interior, tentando sondar a profundidade
de sua própria alma, onde se encontram as verdadeiras riquezas.
Mas a maioria
dos homens não sente necessidade do místico nem do artista. Vivemos numa
civilização baseada na indústria, aprisionada à máquina, onde os valores
espirituais são relegados a segundo plano. Tudo na nossa vida moderna contribui
para subestimar os valores espirituais, tudo impede que o homem entre em si
mesmo, penetrando no mistério de sua alma.
E os próprios artistas, às vezes,
apressados e envolvidos na engrenagem do século, preferem abdicar de sua fonte
criadora para procurar algo que os ponha em evidência com maior facilidade. O
sucesso é um dos grandes mitos de nosso tempo, mas nem sempre é o caminho mais
seguro para o aperfeiçoamento consciente. O progresso em arte vem do sofrimento
e da conquista diária, do constante apelo a ultrapassar-se a si mesmo, a
renovar-se.
Sem esta inquietação, esta sede de acrescentar alguma coisa
a mais ao que já foi feito não poderia haver progresso artístico.
"Por isso a única saída para o artista é não se deixar
petrificar em ídolo. É nunca repetir a obra aplaudida, nunca lisonjear o gosto
de seus leitores. Em vez de ser dirigido, dirigir. Dar poemas ao público quando
ele pede romances, e romances quando ele pede poemas." Estas
palavras de Miguel Torga em seu Diário lembrando
a independência absoluta que o escritor deveria ter em relação ao público
poderão se adaptar ao artista plástico.
Os admiradores e os aplausos não significam tanto na obra, o
importante é continuar, seguir para a frente, apesar dos sucessos, das vitórias
conquistadas. . (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, Editora Agir, 1966, já
esgotado)
*Fotos da internet
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