Se a visão de todo
artista é irredutível à visão comum, se ele não pode fugir à sua época ou a seu
tempo, tem no entanto a liberdade de escolha nos múltiplos caminhos a seguir.
A influência tem de vir de dentro, tem de ser espontânea,
nunca imposta por uma circunstância do momento. Se por uma questão de ordem
prática, para alcançar maior sucesso, o artista se abstém de criar o que sente,
deformando a expansão de sua personalidade, para copiar, friamente, a
experiência de outro, sua obra será falsa, inautêntica. Razão pela qual Rilke
convida o artista à solidão, desprezando o que vem de fora. Aconselha-o a
sondar se os alicerces de sua arte se constituem, realmente, de uma
necessidade.
Escreve ele em Cartas
a um Jovem Poeta: "Observe se esta necessidade tem raízes nas
profundezas do seu coração. Confesse à sua alma: 'Morreria se não me fosse
permitido escrever? Isto, principalmente. Na hora mais tranquila da noite, faça
a si esta pergunta: 'Sou de fato obrigado a escrever?' "
Devemos considerar esses conselhos de Rilke como uma
eliminatória para o artista. É um ser ou não ser, onde mediocridade, amadorismo
e passatempo não tem entrada. Muito menos o mito do sucesso, dos aplausos
fáceis.
Talvez o povo se engane quanto a essa exigência da alma do
artista, essa sede de se expressar mesmo sabendo que será criticado depois, de
criar sozinho, sem esperar compreensão e prêmios, apenas para satisfazer ao seu
desejo de absoluto, de infinito.
A arte é o transbordamento deste apelo interior e não, como
pensam muitos, um passatempo que se pode abandonar por tarefas mais úteis. O
mundo materializado e aprisionado à técnica não compreende senão o que tem
recompensa imediata. Para ele, o artista é um extravagante, um louco. E é
justamente realizando as coisas inúteis aos olhos do mundo que o homem se eleva
e se aproxima de Deus, em toda a sua grandeza. As investigações filosóficas, a
arte e a religião não tem sentido utilitarista. Procuram o engrandecimento do
homem e a sua integração mais perfeita no universo a que pertence. (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”,
Editora Agir, 1966, já esgotado)
*Fotos de Maurício
Andrés e da internet
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