Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
terça-feira, 24 de novembro de 2015
A VOLTA AO MUNDO EM 80 MINIATURAS E ARTE SEM FRONTEIRAS
Ida Luppi é colecionadora de miniaturas e postais.
Guarda dentro de armários envidraçados um verdadeiro exército de miniaturas que
revelam o seu amor a esses pequenos símbolos. Sua coleção ficou famosa e as
pessoas da família quando voltam das viagens sempre lhe trazem como lembrança
uma pequena miniatura. Ida é mãe de Luciano Luppi, ator e diretor de teatro.
Luciano escreve, atua, participa de eventos com sua esposa Ivana, artista
plástica e cantora.
Agora o casal elaborou um pequeno palco onde as
miniaturas de Ida Luppi puderam sair das vitrines para também participarem de
eventos. Escolheram 80 miniaturas de diversos países, coladas no mapa de um
globo terrestre para compor o espetáculo “A volta ao mundo em 80 miniaturas”. É
um espetáculo que acontece em uma caixa escura decorada com cartões postais, que
também pertenceram a Ida Luppi.
Apresentado para 1 ou 2 espectadores, integra a proposta das chamadas
“Caixas lambe-lambe” encontradas há anos em festivais de bonecos em diversos
países. O espetáculo revisita o clássico de Júlio Verne “A volta ao mundo em 80
dias”, estimulando não somente os sonhos de viagem para lugares diferentes,
como também para a viagem em direção ao interior de nós mesmos, a “volta para
casa”. São 80 miniaturas provenientes de
diversos países, coladas no mapa de um globo terrestre ou espalhadas no chão da
caixa. O espetáculo tem a duração de 3 minutos e acontece com música e
iluminação adequadas para a grande função de rodar o mundo. No início, mãos
humanas sustentam o globo, num gesto de proteção. Durante a música, o globo
gira, mostrando suas miniaturas, suas terras e seus mares. No final, um pequeno
anjo sobe até sua estrela que brilha ao longe, num apelo comovente. Há um impacto emocional neste teatrinho, que
ressuscita no espectador imagens da infância e sonhos de viagem da juventude. A
iluminação é de Luciano Luppi e a trilha sonora é de Evaldo Nogueira e Ivana
Andrés com poesia final de Luciano
Luppi.
O espetáculo acaba de participar do Festival de
Caixas de Teatro, que integrou o Festival Internacional de Teatro de Bonecos,
no Centro Cultural Banco do Brasil, em Belo Horizonte.
O casal está sempre elaborando algo novo, inclusive
ajudando pessoas deficientes a encontrar um caminho dentro da arte. Trabalham
com Evaldo Nogueira, músico deficiente visual e o trio já percorreu festivais
de música, saraus, empresas e teatros, sempre trazendo alegria para o público.
Arte sem fronteiras é uma das mais importantes
iniciativas do grupo Voz e Poesia. É uma
palestra-show, focando o debate em
estórias de superação.
O espetáculo está ligado à causa da diversidade, em especial à da pessoa com deficiência, que é o caso de três dos cinco artistas do grupo: os reconhecidos músicos Evaldo Nogueira e Márcio Batista e a artista plástica Kátia Santana.
O espetáculo abre com uma palestra e vai sendo entremeado com canções e poesias, sendo aberto ao público para livre expressão de depoimentos. Ao mesmo tempo, Kátia Santana (cadeirante e portadora de paralisia cerebral) pinta um quadro ao vivo que, depois de pronto, é doado para a instituição.
O espetáculo está ligado à causa da diversidade, em especial à da pessoa com deficiência, que é o caso de três dos cinco artistas do grupo: os reconhecidos músicos Evaldo Nogueira e Márcio Batista e a artista plástica Kátia Santana.
O espetáculo abre com uma palestra e vai sendo entremeado com canções e poesias, sendo aberto ao público para livre expressão de depoimentos. Ao mesmo tempo, Kátia Santana (cadeirante e portadora de paralisia cerebral) pinta um quadro ao vivo que, depois de pronto, é doado para a instituição.
*Fotos de arquivo
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terça-feira, 17 de novembro de 2015
II JORNADA DE ESTUDOS INDIANOS
A II Jornada de Estudos Indianos
aconteceu em Belo Horizonte, na UFMG, com o intuito de congregar interessados
nos diálogos científicos e culturais entre Brasil e Índia.
Aconteceu discretamente, sem grandes
alardes da mídia, apresentando uma forma positiva de incentivar a nossa
aproximação com aquele país asiático. A Índia continua sendo uma fonte
inesgotável de conhecimentos e propostas para um mundo melhor.
Fui convidada a participar dessa Jornada
com uma exposição de trabalhos sobre a Índia, realizados desde a década de 1970,
e meu livro Oriente – Ocidente –
integração de culturas foi apresentado numa mesa em forma de livro de
artista. Ao mesmo tempo, um vídeo projetado na parede mostrava minhas andanças
pela Índia. Foram 45 anos de trabalho visando essa aproximação que agora está
acontecendo.
A curadoria da mostra coube à Marília
Andrés Ribeiro e ao Paulo Baeta, a coordenação da Jornada coube ao Roberto Luís
Monte-Mor, diretor do Centro de Estudos Indianos da UFMG. A exposição foi uma
parceria do Instituto Maria Helena Andrés (IMHA) com o Centro de Estudos
Indianos (CEI).
Assisti, no dia 11 de novembro, à
palestra de meu filho Maurício Andrés Ribeiro. Ele apresentou uma visão
panorâmica da evolução e o itinerário do ser humano sobre o planeta, desde a
época dos primeiros habitantes até os dias de hoje. A proposta de aprofundar o
conhecimento sobre a evolução da consciência nos revelou com extrema clareza
uma visão positiva neste mundo conturbado por guerras e tragédias.
Para essa mesa redonda sobre a Evolução da Consciência Humana, vieram Deepti Tewari Puri e Ariamani, duas representantes
da Índia, radicadas em Auroville, no sul da Índia. Ali existe, desde a década de 1960, uma comunidade
que foi considerada pela Unesco como um exemplo para o futuro da humanidade.
Na década de 1970 ali estive conhecendo
os vários departamentos, todos eles dedicados ao desenvolvimento da
consciência, por meio dos recursos mais abrangentes de educação pela arte. Há
uma preocupação constante em fazer a criança se desenvolver através do
exercício de suas potencialidades.
Auroville é um exemplo que continua
dando certo, regido pelas ideias de Sri Aurobindo, grande mestre indiano, que
abriu uma perspectiva para o nosso futuro. Professores vindos da Europa e das
Américas visitam aquela comunidade que se baseia na Yoga Integral, onde a arte
e a espiritualidade estão sempre presentes, junto com a ciência, a ecologia e o
esporte. A presença das duas representantes de Auroville foi muito importante
para se compreender a dimensão do trabalho de internacionalização da UFMG,
incentivando diálogos científicos e culturais dos brasileiros com os países do
Oriente.
Acrescento aqui alguns textos sobre Sri
Aurobindo recolhidos do meu livro Encontro com Mestres no Oriente.
“O Yoga Integral de Sri Aurobindo é a
união de todos os caminhos: Bhakti (devoção), Karma (trabalho), Jnãna
(sabedoria) e Raja (meditação).”
“Sri Aurobindo, em suas meditações,
previu a queda dos mitos e a unidade planetária em níveis espirituais. O
Supramental desceria sobre a humanidade do futuro, colocando os seres humanos
diretamente ligados ao Cosmos. Uma educação baseada no despertar da
criatividade e nas tendências naturais da criança possibilitaria maior
receptividade para a descida dessa luz, que Aurobindo percebeu em seus momentos
de meditação.”
*Fotos de Maurício Andrés e Marília
Andrés
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segunda-feira, 9 de novembro de 2015
INFLUÊNCIAS E TROCAS
Observando os ornamentos florais dos oratórios em
Minas Gerais e a ornamentação da capela do Taquaral, perto de Ouro Preto e
Mariana, sentimos a proximidade com a Índia hindu e islâmica.
Os padrões portugueses, chegando ao Brasil em naus
colonizadoras, trouxeram inspirações de além-mar freqüentemente assimiladas na
Índia ou na China.
A historiadora Maria Luiza Galeffi, numa palestra
dada em congresso do barroco em Ouro Preto, relata o seguinte fato: quando padrões
de Portugal chegaram à Bahia para serem colocados como ornamentação nas colunas
das igrejas barrocas, o mito hindu do pavão foi substituído pelo do pelicano,
símbolo do Cristo, que deu a vida por seus filhos.
No início da colonização, os portugueses se estabeleceram
por algum tempo na costa leste da Índia, no golfo de Bengala e mais tarde em
São Tome de Mylapore, Madras, fundando ali um centro de atividade têxtil. Característica da arte
daquela região são os desenhos de pavões entrelaçados com guirlandas e
arabescos, na mesma disposição dos arabescos que decoram as igrejas barrocas. São
impressos em tecido, em cores brilhantes, da região de Madras estado de Tamil
Nadul, sul da Índia.
Não seriam esses padrões que inspiraram a
ornamentação barroca de Portugal, chegando posteriormente ao Brasil, onde a
substituição dos mitos ocorreu? Essa pergunta eu deixo para os interessados em
estudos de arte, história e pesquisas culturais. Sendo uma síntese, nossa
pesquisa é somente uma pista para um trabalho mais aprofundado, para uma análise
mais detalhada dos dados obtidos.
Outros estudos poderão ser feitos no futuro por
historiadores, sociólogos, antropólogos e artistas, lembrando que o caminho das
Índias não se fechou com os navegantes, mas pode ir muito além no futuro, por
meio de trocas culturais com as ex-colônias portuguesas. (Quinta parte do
estudo comparativo apresentado no Seminário de Goa, 1983)
*Fotos da internet
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terça-feira, 3 de novembro de 2015
ARTESANATO FAMILIAR E MÚSICA INDIANA
Na Índia, como a máquina ainda não tomou a liderança
nas atividades domésticas e a televisão ainda é um privilégio para poucas
famílias, atividades artísticas e manuais são uma forma de unir as famílias.
Eles sentam-se no chão, com tesouras espalhadas, papéis, arames, tecidos, e
trabalham juntos.
A feitura de bonecas é tarefa da dona de casa,
envolvendo avós e avôs. Há um festival de bonecas a cada ano, que muda de
acordo com o calendário Hindu. O Festival Dasara, como é chamado, dura dez dias
e começa na lua de outubro. Em Mysore há uma cerimônia da boneca feita a mão em
frente à deusa de 16 mãos Shakti (em Chamundi hills, sul da Índia). Os hindus a
veneram como exterminadora do orgulho. Artistas e artesãos se ajoelham com suas
bonecas e humildemente imploram pela destruição do ego.
No vale do Jequitinhonha, no interior de Minas
Gerais, o artesanato é um modo de sobrevivência para um grande número de
famílias. As famílias vivem juntas, como na índia. Há uma fileira de casas
formando um pequeno quarteirão e em cada casa um forno de cerâmica. O barro é
moldado por mãos femininas. Ele é batido numa mesa de forma primitiva e levado
ao forno para cozinhar. Lidando com terra, água e fogo, as artesãs chegam
próximas da essência do ser humano, algumas vezes por meio dos mesmos símbolos
e arquétipos que inspiraram artesãos em outras partes do mundo. Há uma
liberdade para criar figuras de quatro ou cinco cabeças nos grandes vasos de cerâmica
utilitária e também há, como na Índia, descrições de cenas de casamentos e
procissões, hábitos dos homens do interior, suas práticas de trabalho, seus
sonhos.
A cultura milenar da Índia data da era dos Vedas, e
os livros sagrados eram cantados durante sacrifícios ao ar livre. Os livros
eram as composições dos rishis, transmitidas oralmente de geração a geração.
Há uma grande afinidade entre a música religiosa
indiana e o canto gregoriano, música de forma circular e repetitiva. Em seu
aspecto mais popular, a música indiana lembra os desafios cantados por
violeiros nordestinos ou as cantigas do folclore brasileiro de origem africana.
Na música indiana, como nos desafios brasileiros, há
sempre uma parte estrutural formando uma moldura para a improvisação criada no
impulso do momento.
Na Índia, esses desafios e improvisações são feitos
com instrumentos de percussão tais como tablas, uma de metal e outra de
madeira. No Brasil, a percussão é feita com tambores, atabaques, cabaças,
agogôs. Há um ritual completo para criar a tabla, do mesmo modo como no Brasil
há um ritual e mesmo um batismo dos instrumentos com água sagrada da igreja
mais próxima, na construção de um tambor sagrado.
Há também uma troca espontânea com outros países por
meio da música brasileira e sentimos que os músicos em geral são, no presente,
os melhores difusores de nossa cultura na Índia, especialmente em Goa,
ex-colônia de Portugal.(Quarta parte do estudo comparativo apresentado no Seminário de Goa, 1983)
*Fotos de Maurício Andrés e da internet
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