Transcrevo aqui o relato de Ivana Andrés e Luciano Luppi sobre o trabalho de documentação artística de Unidades de Conservação, realizado nos anos 90.
Retornando a Belo Horizonte enviei algumas imagens para ele, com uma carta propondo uma possível parceria, que incluía exposições e workshops. A resposta positiva foi surpreendente e marcou todos os trabalhos posteriores: havia interesse, sim, por exposições e workshops. Porém, o interesse maior era pela utilização das imagens em materiais de divulgação do parque, como camisetas, bottons, postais, adesivos, folders, cartazes, etc. Era muito além das nossas expectativas.
Programamos
um retorno a Abrolhos com o objetivo de documentar, utilizando uma câmera
subaquática paisagens dentro e fora
d’água. Assim o fizemos. Depois de 3 meses retornamos a Caravelas, carregados
de desenhos montados em pranchas e
realizamos a exposição dos desenhos e fotos no Centro Abrolhos.
Através do CEMAVE voltamos a Abrolhos acompanhando expedições para o anilhamento das aves. Ficou em nossa lembrança a reação das enormes fragatas nos olhando e voando em círculo sobre nossas cabeças ao penetrarmos aquele espaço retirado no alto das montanhas onde elas construíam seus grandes ninhos. Resultaram em desenhos expressivos das aves do arquipélago.
Numa outra
viagem à Abrolhos participamos de “baleadas” com a finalidade de documentar as
baleias que ali vão ter seus filhotes. E houve o mergulho com as baleias , que
são animais dóceis e interessados na espécie humana.
Três baleias que pareciam estar acasalando, vieram devagar, curiosas em conhecer aquela nova espécie. Duas aproximaram pelos lados, a ultima por baixo. E nos olhamos nos olhos. As duas espécies, baleias e humanos, dóceis e curiosas, dividindo o mesmo espaço neste planeta Terra... Nunca irei me esquecer daqueles olhos enormes. Quando voltamos para o barco, ríamos de pura excitação e alegria. Foi a maior emoção da minha vida...
O Projeto Tamar, que protege as diversas espécies de tartarugas marinhas, existe em diversos pontos da costa do Brasil. As tartarugas voltam para desovar na mesma praia onde nasceram, depois de viajarem o ano todo pelos mais diversos oceanos. Ali elas cavam uma buraco na areia e depositam dezenas de ovos grandes e redondos. Fecham o buraco e voltam para o mar. Os filhotes eclodem dos ovos, semanas mais tarde, sem verem a mãe. Saem da casca e correm em debandada em direção ao mar, fugindo dos pássaros e crustáceos que os perseguem. Dentro d’água ainda enfrentam outros predadores. Apenas uma pequena fração deles irá se tornar uma tartaruga adulta e voltar à praia onde nasceu. Em Guriri, no Espírito Santo, assistimos a eclosão dos ovos e a corrida desesperada das tartaruguinhas batendo nadadeiras como se fossem asas. Meses depois voltamos para exposições nas sedes do Projeto Tamar em Guriri e em Itaúnas.
Sempre ouvimos falar da Ilha da Trindade, um terço da distância até a costa da África, o ponto mais distante do território brasileiro, partindo da costa do Espírito Santo. Lá está sediado o Posto Oceanográfico da Ilha de Trindade uma guarnição da Marinha. De 3 em 3 meses acontece uma visita de um navio da marinha a Trindade e, em algumas ocasiões, eles levam jornalistas ou estudiosos.
O contato
para a ida à Ilha da Trindade foi completamente sem intermediários. Após alguns
meses de um contato ocasional na Sede da Marinha do Brasil, eles me retornaram
positivamente. Em uma semana eu deveria estar no Rio, para partir no Navio de
socorro da Marinha, Felinto Perry. Chovia torrencialmente na saída do Rio.
Desde a primeira hora de viagem iniciei meus desenhos: em bico de pena retratei
a intrincada parafernália de roldanas e cabos que via diante de mim. Durante os
4 dias de viagem desenhei vários ângulos do navio. Na ilha eu fotografava sem
parar. Fotos realmente inéditas, inclusive sobrevoando a ilha num helicóptero
da Marinha. Trindade é um paraíso, pedra
e águas revoltas em torno do que foi um vulcão. É o posto mais distante do
Projeto Tamar. Alguns meses depois foi
realizada uma exposição dos desenhos numa sede no Rio. Alguns integraram um número da revista marítima,
ilustrando um artigo meu com memórias de Trindade vista por uma artista. Soube
mais tarde que os desenhos em bico de pena estão adornando as paredes do navio.
Também tive a surpresa de, em 1993, ser convidada para uma Sala Especial no XIX Salão Marinheiro, em Brasília." (Ivana Andrés)
*Fotos de
arquivo
VISITE
TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário