sábado, 3 de abril de 2021

PRODUÇÃO MUSICAL DE ALEXANDRE ANDRÉS

 


Recebi do meu neto Alexandre Andrés, o texto sobre a sua produção musical, que transcrevo abaixo:

 Na aula que dei para o projeto do IMHA, junto a Aldir Blanc, falei sobre um tema importante para músicos e artistas em geral, que se trada do funcionamento da produção musical, na trajetória e carreira de um músico/performer.

Falamos sobre várias questões que envolvem o tema, como os diferentes processos de gravação musical e também sobre a evolução dessa área.

Independente do tipo de gravação, se ela é analógica, digital, se é feita ao vivo ou de maneira separada (a conhecida gravação em overdub), isso corresponde somente a uma das diversas vertentes que compõe o tema.

A produção musical se trata de uma função primordial para qualquer músico que queira desenvolver uma carreira, gravar e lançar discos. Essa prática abrange diversas vertentes: não somente a gravação do conteúdo musical, mas toda a criação estética do trabalho, desde a escolha das músicas que irão compor o repertório, os arranjos dessas composições, os músicos que estarão envolvidos na gravação, o local onde será gravado, como será gravado e qualquer outra questão que possa modificar esteticamente o projeto.

Ou seja, o produtor musical não precisa necessariamente executar as diversas ações dentro de uma produção, ele não precisa necessariamente ser o engenheiro, ser o arranjador e um dos músicos da banda. Ele pode ser somente um visionário, que consegue escolher todos os ingredientes de uma receita que deve ficar extremamente saborosa em seu desfecho. Contudo, ele pode cumprir todas essas funções e, ao meu ver, quando ele se envolve praticamente nas diversas ações, há uma postura ainda mais musical, talvez por haver ali uma maior intimidade com a área.

Por fim podemos dizer que é esse produtor musical o responsável pelo sucesso ou fracasso de uma obra conduzida por ele. É ele quem assina essa função, que tem como objetivo principal o sucesso da gravação de uma obra, obviamente em acordo com as pretensões apresentadas pelo artista principal.

Na minha apresentação ao IMHA falei, dentre outros temas, a respeito da produção que fiz do disco do Duo Foz, duo que corresponde a parceria da vibrafonista Natália Mitre com o guitarrista P.C. Guimarães. Acabei assinando a produção do disco junto aos músicos, e gravando no meu estúdio “Macieiras”.

Todo esse processo começou quando assisti um vídeo de Natália e do P.C., uma live desenvolvida pela “Veredas Produções” e pude perceber ali uma incrível conexão entre os músicos, algo raro, a meu ver, em produções semelhantes. Nesse momento eu buscava a gravação de um disco para estrear meu estúdio, que acabara de ser reformado. O convite foi feito aos músicos e respondido imediatamente por eles, que se mostraram extremamente motivados e agradecidos.

A produção ocorreu no mês de agosto de 2020, bem no meio da pandemia. Para isso, fizemos uma boa quarentena e partimos para uma imersão na fazenda das Macieiras, onde trabalhamos juntos por cinco dias (nós três e o vídeo-maker Lucca Mezzacappa), que registrou todo o processo.

Essa produção consistiu, dentre todo o trabalho musical, das reformulações de cada música, a criação musical sobre o material levantado pelos músicos e reformulações gerais de cada composição, na busca pela presença durante cada processo de ensaio e/ou gravação.

Mas o que seria essa tal presença? Vale ressaltar que isso tem total ligação com a proposta de trabalho de Maria Helena Andrés, que sugere a integração da arte com a espiritualidade e, naturalmente, com a busca espiritual. Naturalmente, esse viés parece promover uma amplificação do conteúdo artístico, uma vez que esse passa a ser desenvolvido em um terreno onde o espiritual é valorizado e buscado, em consonância com cada movimento artístico.

Partindo desse viés de produção artística, apresentei a seguinte proposta para Natália, P.C. e Lucca: cada momento que estivéssemos tocando, dentro do estúdio, estaríamos ali buscando a presença. Essa, para mim, se trata de estar, o máximo possível, consciente de cada movimento, de cada escuta, respiração e a sensação do corpo como uma âncora que nos trás, a todo momento, de volta para dentro de nós mesmos. O fazer musical suscita uma infinidade de forças, dentre elas o ego do artista, que se preocupa a todo momento com os erros e acertos, com o bonito e o feio. Assim o artista se irrita frequentemente, sempre que algo não acontece como o planejado.

A proposta mais importante da nossa produção foi justamente a de se desprender de todas essas preocupações e de estar conectados, ao máximo, a nós mesmos e aos que estariam junto de nós. A ideia é que isso que poderíamos produzir ali, energeticamente falando, é o que seria registrado em disco. Isso é o que, hoje, acredito: se tocamos e gravamos e nesse momento estamos com raiva, estamos registrando ali a nossa raiva; se estamos tocando com medo, estamos registrando o nosso medo; se no momento da performance estamos mais conectados, buscando estar presentes, ou melhor, atentos a cada centímetro de vida que se passa, há, naturalmente, uma amplificação daquilo que se produz e, em uma gravação, isso é o que se registra.

A minha maneira de produzir música, para além de todas as questões musicais, se encontra em consonância com essas ideias e, certamente, desenvolvi tais ferramentas por influência direta de minha vó Maria Helena Andrés. Foi extremamente importante ver de perto sua maneira ímpar de produzir arte. Me percebo hoje buscando algo muito semelhante ao que vejo ela fazendo e ensinando no âmbito das artes plásticas e em outras vertentes artísticas onde transita. Estamos falando de uma das maiores artistas e espiritualistas, que construiu um trabalho enorme com respeito a possibilidade de se fazer arte partindo de lugares diferentes, mais profundos e conectados a outros planos astrais. Trata-se de um segredo muito valioso que, quando compreendido por um artista, pode elevar seus caminhos artísticos de forma exponencial. Como músico e produtor musical, deixo aqui meu agradecimento a minha vó e amiga, Maria Helena Andrés, por tudo que me ensinou e por todo o conhecimento que tem deixado registrado, para os artistas que tiverem uma mínima abertura à esse segredo profundo que se pode ter contato.

 

*FOTOS DE ARQUIVO

 

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