Falamos
sobre várias questões que envolvem o tema, como os diferentes processos de
gravação musical e também sobre a evolução dessa área.
Independente
do tipo de gravação, se ela é analógica, digital, se é feita ao vivo ou de
maneira separada (a conhecida gravação em overdub), isso corresponde somente a
uma das diversas vertentes que compõe o tema.
A
produção musical se trata de uma função primordial para qualquer músico que
queira desenvolver uma carreira, gravar e lançar discos. Essa prática abrange
diversas vertentes: não somente a gravação do conteúdo musical, mas toda a
criação estética do trabalho, desde a escolha das músicas que irão compor o
repertório, os arranjos dessas composições, os músicos que estarão envolvidos
na gravação, o local onde será gravado, como será gravado e qualquer outra
questão que possa modificar esteticamente o projeto.
Ou
seja, o produtor musical não precisa necessariamente executar as diversas ações
dentro de uma produção, ele não precisa necessariamente ser o engenheiro, ser o
arranjador e um dos músicos da banda. Ele pode ser somente um visionário, que
consegue escolher todos os ingredientes de uma receita que deve ficar
extremamente saborosa em seu desfecho. Contudo, ele pode cumprir todas essas
funções e, ao meu ver, quando ele se envolve praticamente nas diversas ações,
há uma postura ainda mais musical, talvez por haver ali uma maior intimidade
com a área.
Por
fim podemos dizer que é esse produtor musical o responsável pelo sucesso ou
fracasso de uma obra conduzida por ele. É ele quem assina essa função, que tem
como objetivo principal o sucesso da gravação de uma obra, obviamente em acordo
com as pretensões apresentadas pelo artista principal.
Na
minha apresentação ao IMHA falei, dentre outros temas, a respeito da produção
que fiz do disco do Duo Foz, duo que corresponde a parceria da vibrafonista
Natália Mitre com o guitarrista P.C. Guimarães. Acabei assinando a produção do
disco junto aos músicos, e gravando no meu estúdio “Macieiras”.
Todo
esse processo começou quando assisti um vídeo de Natália e do P.C., uma live
desenvolvida pela “Veredas Produções” e pude perceber ali uma incrível conexão
entre os músicos, algo raro, a meu ver, em produções semelhantes. Nesse momento
eu buscava a gravação de um disco para estrear meu estúdio, que acabara de ser
reformado. O convite foi feito aos músicos e respondido imediatamente por eles,
que se mostraram extremamente motivados e agradecidos.
A
produção ocorreu no mês de agosto de 2020, bem no meio da pandemia. Para isso,
fizemos uma boa quarentena e partimos para uma imersão na fazenda das Macieiras,
onde trabalhamos juntos por cinco dias (nós três e o vídeo-maker Lucca
Mezzacappa), que registrou todo o processo.
Essa
produção consistiu, dentre todo o trabalho musical, das reformulações de cada
música, a criação musical sobre o material levantado pelos músicos e
reformulações gerais de cada composição, na busca pela presença durante cada
processo de ensaio e/ou gravação.
Mas
o que seria essa tal presença? Vale ressaltar que isso tem total ligação com a
proposta de trabalho de Maria Helena Andrés, que sugere a integração da arte
com a espiritualidade e, naturalmente, com a busca espiritual. Naturalmente,
esse viés parece promover uma amplificação do conteúdo artístico, uma vez que esse
passa a ser desenvolvido em um terreno onde o espiritual é valorizado e
buscado, em consonância com cada movimento artístico.
Partindo
desse viés de produção artística, apresentei a seguinte proposta para Natália,
P.C. e Lucca: cada momento que estivéssemos tocando, dentro do estúdio,
estaríamos ali buscando a presença. Essa, para mim, se trata de estar, o máximo
possível, consciente de cada movimento, de cada escuta, respiração e a sensação
do corpo como uma âncora que nos trás, a todo momento, de volta para dentro de
nós mesmos. O fazer musical suscita uma infinidade de forças, dentre elas o ego
do artista, que se preocupa a todo momento com os erros e acertos, com o bonito
e o feio. Assim o artista se irrita frequentemente, sempre que algo não
acontece como o planejado.
A
proposta mais importante da nossa produção foi justamente a de se desprender de
todas essas preocupações e de estar conectados, ao máximo, a nós mesmos e aos
que estariam junto de nós. A ideia é que isso que poderíamos produzir ali,
energeticamente falando, é o que seria registrado em disco. Isso é o que, hoje,
acredito: se tocamos e gravamos e nesse momento estamos com raiva, estamos
registrando ali a nossa raiva; se estamos tocando com medo, estamos registrando
o nosso medo; se no momento da performance estamos mais conectados, buscando
estar presentes, ou melhor, atentos a cada centímetro de vida que se passa, há,
naturalmente, uma amplificação daquilo que se produz e, em uma gravação, isso é
o que se registra.
A
minha maneira de produzir música, para além de todas as questões musicais, se
encontra em consonância com essas ideias e, certamente, desenvolvi tais
ferramentas por influência direta de minha vó Maria Helena Andrés. Foi extremamente
importante ver de perto sua maneira ímpar de produzir arte. Me percebo hoje buscando
algo muito semelhante ao que vejo ela fazendo e ensinando no âmbito das artes
plásticas e em outras vertentes artísticas onde transita. Estamos falando de
uma das maiores artistas e espiritualistas, que construiu um trabalho enorme
com respeito a possibilidade de se fazer arte partindo de lugares diferentes,
mais profundos e conectados a outros planos astrais. Trata-se de um segredo
muito valioso que, quando compreendido por um artista, pode elevar seus
caminhos artísticos de forma exponencial. Como músico e produtor musical, deixo
aqui meu agradecimento a minha vó e amiga, Maria Helena Andrés, por tudo que me
ensinou e por todo o conhecimento que tem deixado registrado, para os artistas
que tiverem uma mínima abertura à esse segredo profundo que se pode ter
contato.
*FOTOS
DE ARQUIVO
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