sábado, 24 de abril de 2021


 

PIERRE WEIL

 

Hoje vou tentar fazer um breve registro da passagem de Pierre Weil pelo Retiro das Pedras, como condômino, membro da diretoria e presidente deste espaço abençoado.

Pierre, sempre ligado às belezas naturais, andava todas as manhãs pelas ruas do condomínio. Morava  na rua logo abaixo da minha e às vezes trocávamos ideias sobre arte e espiritualidade. Seu pensamento holístico, que mais tarde veio a se concretizar em Brasília, começou a se manifestar aqui no Retiro.

Devo a ele um prefácio muito bonito para o meu livro “Os Caminhos da Arte”, que eu acabara de escrever. Minha trajetória artística já começava a se delinear com muita nitidez. Uma  outra trajetória, humanística,com abertura para novas pesquisas no campo das religiões comparadas e a Índia, me parecia a direção mais certa.

Naquela época, tive o apoio e o incentivo do Pierre, que já se preparava para largar as montanhas, onde teve uma colaboração ligada às artes e à educação, organizando peças teatrais para crianças, com a ajuda de Zezé e Ronei, artistas do Retiro que tinham acabado de construir um teatro.

Para homenagear Pierre, escolhemos a “Praça do Sol”, criada durante sua gestão e ali, no gramado verde, plantamos uma árvore.

A árvore não pode permanecer por muito tempo, uma criança, passando de bicicleta a derrubou. Plantamos outra árvore. Pierre veio a se radicarem Brasília. Inaugurou a Universidade da Paz e me deu incentivo para participar de um concurso, como professora de arte desta Universidade em Brasília. Aceitei a iniciativa e caminhei nesta direção.

Mais tarde, a experiência gerou uma série de workshops na Cidade da Paz. Tudo isto, devo ao incentivo de Pierre. Agora, olhando este céu muito azul do Retiro das Pedras,vou relembrando o quanto o Retiro deve a este líder espiritual que foi Pierre Weil.

Passo agora a palavra ao Maurício Andrés Ribeiro, meu filho, para falar sobre a atuação de Pierre Weil em Brasília.

 

 

“A UNIPAZ – Universidade Holística Internacional de Brasília – foi criada no Brasil em 1987 e abriu suas atividades em 1988 e desde então expandiu-se por diversas cidades brasileiras e no exterior. Pierre Weil formulou a teoria fundamental da Unipaz. A educação para a paz ali proposta contempla a paz social, a paz com a natureza e a paz consigo mesmo. Convidado pelo governador do Distrito Federal, José Aparecido de Oliveira,  mudou-se para Brasília em 1987, fundou a UNIPAZ e ali viveu até 2008.

Pierre  propôs  como o objetivo principal da Unipaz, incentivar o encontro entre as tradições espirituais milenares e os organismos de pesquisa da paz e promover programas de educação integral para a paz, o que abrange o corpo, as emoções, a mente e o espírito. Na teoria fundamental da UNIPAZ,  expunha de forma didática os conhecimentos  sobre a ecologia interior, a consciência pessoal e a paz consigo mesmo. Ele desvendou mecanismos subjetivos e psicológicos e elaborou um método para se alcançar a paz com a natureza e a  social, a partir da paz consigo mesmo.

Pierre levava a sério o tema da transcomunicação, ou seja,  a comunicação com seres que habitam em outros planos da existência. Ele escreveu: “Parece-me que uma mudança de perspectiva está se operando em mim....  Aliás, eu sou um espírito que mora provisoriamente neste corpo. Um corpo cansado, gordo, pesado, com a vista enfraquecida e coberta  por uma névoa cada vez mais espessa.” Pierre se refere ao glaucoma que praticamente o cegou no final da vida.

A Entrega, título de seu último livro biográfico,  é uma proposta presente nas antigas tradições indianas:  render-se (to surrender) à vontade divina e deixar-se levar na vida  a partir dessa força ou energia, do self universal e não do ego individual, procurando não se mover a partir de seus desejos e vontades pessoais.” (Maurício Andrés Ribeiro)

*FOTOS DE ARQUIVO

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domingo, 18 de abril de 2021


 

MARACATU LUA NOVA

 

Ainda me lembro, como se fosse hoje, da chegada do Maracatu Lua Nova em Entre Rios de Minas, durante o encerramento do 2° Festival de Inverno em 2007.

Eu subi a ladeira de braço dado com meu filho Euler, naquela época presidente do IMHA.

A cidade se movimentou para ver o cortejo passar.

Eram os integrantes da celebração, com André Salles Coelho à frente, regendo.

Havia tambores e cânticos, a turma uniformizada seguia o cortejo. O som dos tambores repercutia pelas alamedas e as pessoas abriam as janelas com entusiasmo.

Aliás, todos se envolveram neste entusiasmo que significa “Deus dentro”.

O  Maracatu veio da África, como herança dos negros, uma das preciosidades de nossa cultura.

Viva a alegria da tradição africana, que nos trouxe tanta beleza!

Lembro também da minha cunhada Lourdes, que encontrei na praça:

“Helena, só você mesmo para movimentar esta cidade!”

Deixo agora a palavra para um depoimento do André, que nos encantou com seu relato, por ocasião da live do IMHA ,do dia 14/04.

 

“O Maracatu Lua Nova foi fundado em 21 de outubro de 2002, resultado da vivência de alguns dos integrantes com a tradição do maracatu e de uma extensa pesquisa histórica e um longo trabalho em busca das raízes mais profundas de nossas tradições.

 

No início, o grupo passou por um longo período de dificuldades: sem um local próprio para ensaios, seus encontros eram cada semana em uma praça diferente da cidade o que gerava desencontros, atrasos, incômodos, insatisfações da vizinhança e problemas com a polícia e com moradores de rua; sem um número suficiente de instrumentos e roupas e sem a possibilidade de um trabalho mais profundo em relação à vida social dos seus integrantes, o grupo sobreviveu precariamente durante esse tempo.

 

Com a grande participação de moradores do bairro Aparecida (bairro que desde o início teve uma forte ligação com o grupo), tornou-se fundamental que este se fixasse nas imediações.

 

Depois de muito luta, apoios, projetos, apresentações para custear a sede, o Maracatu Lua Nova conseguiu se fixar, primeiro no imóvel alugado, depois em sede própria em uma casa na rua Dona Clara 1046, no bairro Aparecida, em Belo Horizonte.

 

Com sua sede própria, o grupo pode aumentar seu número de participantes, melhorar sua infra-estrutura com camarins para os homens e mulheres, sala de instrumentos biblioteca com um amplo acervo de livros, CDs e DVDs relacionado ao maracatu e outras manifestações tradicionais e área de ensaio e convívio social além de passar a oferecer oficinas variadas com enorme participação da comunidade. Além de oficinas de aprendizagem, reciclagem de conhecimentos e profissionalizante nas áreas de pintura, música, literatura, bordado, dança, teatro, destacaram-se nesse período oficinas de intercâmbios culturais como a oficina com Dona Valdete – do grupo Meninas de Sinhá, de Belo Horizonte – e a oficina de maracatu com Mestre Afonso – do Maracatu Leão Coroado de Pernambuco: um dos mais antigos maracatus do Brasil.

 

O Maracatu Lua Nova tem como objetivo principal motivar o gosto e hábito pela música, dança e cantos, utilizando as tradições culturais e suas práticas derivadas. Como ponto diferencial, o grupo acredita sempre na diversidade, na mistura, no intercâmbio e, principalmente, na convivência e ajuda mútua de pessoas de diferentes raças, credos, classes sociais, ideologias, idades, histórias de vida, trabalho e região onde vivem. O Maracatu Lua Nova é um grupo profundamente inserido na comunidade em que atua mas sobretudo, um grupo aberto a todas as pessoas, não fazendo discriminação de qualquer indivíduo que queira participar e compartilhar sua vivência com todos.

 

É justamente seguindo esse ideal que o grupo reúne pessoas de situações sociais inimaginavelmente diferentes, que de outra forma jamais poderiam ter a oportunidade de trocar experiências e aprender com um outro tão diferente.

 

Esse aprendizado mútuo é a base de toda a convivência do grupo e de sua inserção na comunidade em que está sediado. O grupo não acredita que pode simplesmente realizar ações assistencialistas e paternalistas a uma comunidade que merece muito mais do que isto, merece respeito por cada um de seus indivíduos seus conhecimentos e suas histórias de vida.

 

Só assim, com uma profunda noção de respeito, amor, carinho, amizade e companheirismo é que se constrói uma relação forte e duradoura que tem como resultado um grupo grande, conciso, coeso, claro de seus objetivos e íntegro na convivência de seus indivíduos.

 

Atualmente o Maracatu Lua Nova conta com cerca de 100 integrantes fixos, em sua maioria crianças e adolescentes do ensino público de Belo Horizonte. Nesses quase dez anos de existência mais de 1000 pessoas já passaram por suas oficinas, aulas e ensaios. Pessoas que aprenderam as noções básicas de ritmo, dança, ritual e respeito de uma das mais importantes manifestações folclóricas do país. Nesse tempo o grupo já realizou quase 200 apresentações em mais de 30 cidades de Minas Gerais, nos mais variados locais e situações, sempre em grandes eventos como carnaval de Ouro Preto, festivais de inverno pelo estado, Fit, Fan, festas do rosário entre outras.

 

Desde a sua fundação, o grupo apresenta seu cortejo utilizando os ritmos, os instrumentos, as danças e as canções típicas do maracatu de baque virado.

 

Atualmente o grupo tem todos os personagens mais importantes do maracatu: os batuqueiros, as catirinas (meninas que dançam ladeando o grupo) as baianas (senhoras que dançam no centro) rei, rainha, bandeira, a dama do buquê, a calunga (a boneca preta – símbolo máximo do maracatu) e a dama do paço (a pessoa responsável por carregar a boneca).

Na instrumentação, vozes, alfaias (tambores graves) caixas claras (tambores agudos) e o gonguê (espécie de agogô com uma só campânula).

 

O grupo já lançou dois DVDs, parte de seu objetivo de difundir o maracatu, ser um mantenedor de sua tradição e contribuir para a auto-estima e valorização de seus integrantes.

 

O primeiro DVD, lançado em 2008, tem 15 minutos de duração e é um documentário com entrevistas e cenas de apresentações e de bastidores. O segundo tem cinquenta minutos de duração e foi lançado em 2009. É o registro de um show realizado em Nova Lima no dia 13 de novembro de 2008.

 

Acreditamos ser essa uma das formas de se construir uma política cultural e social que sirva também como agente multiplicador das tradições voltadas para o patrimônio, o ensino das artes, o aprendizado recíproco e a participação de um indivíduo com plena consciência de sua participação na construção do que podemos chamar de Nação.

 

Contatos:

André Salles-Coelho (coordenador)

Fone: 9625.6195

e-mail: andresallescoelho@gmail.com

Site: www.maracatuluanova.com.br

 

*FOTOS DE ARQUIVO

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sábado, 10 de abril de 2021

FORTUNA CRÍTICA

 


Recebi de Nelyane Santos o texto sobre a Fortuna Crítica de minha trajetória artística,que transcrevo abaixo:

 

“Encontrar a fortuna crítica de um artista organizada e disponível não é tão comum como nós pesquisadores gostaríamos. Nos estudos de história da arte no Brasil nos deparamos com múltiplas atividades que vão muito além da análise de obras. Procurar nos acervos museológicos, coletar fontes documentais que dão conta do registro de sua trajetória, manuseá-las sem as condições adequadas de exposição. Enfim, múltiplas tarefas que nos colocam na missão de reconhecer e valorizar a arte.

E quando nos deparamos com uma coleção de fontes que registram a memória de uma artista com atuação tão vasta como é Maria Helena Andrés, a satisfação do trabalho engrandece e nos motiva. Mesmo demandando organização, catalogação, conservação e acondicionamento, o acervo que encontrei estava admiravelmente muito bem preservado. E me surpreendi com a variedade das fontes, o que demonstra o quanto esteve comprometida, tanto Maria Helena como sua família, com o registro de sua trajetória, reconhecendo a importância de sua produção e a de seus pares para a história da arte no nosso país. Diante disso, só tenho que agradecer e sentir-me lisonjeada pela função que a mim foi atribuída no Projeto de Elaboração da Fortuna Crítica da Artista Maria Helena Andrés. Como produtos foi elaborado o E-book, reunindo parte da fortuna crítica, e feita a conservação e acondicionamento de todo o material.

Mas meus privilégios com o trabalho não terminaram por aí. Tive a companhia de Marília Andrés na coordenação do Projeto e isso me rendeu inspiradoras manhãs de discussões acerca da história da arte e temas correlatos. Para definirmos os critérios de seleção das críticas que comporiam o E-book, conversamos muito sobre o perfil da crítica de arte no Brasil e as diferentes manifestações artísticas ao longo do século XX. Marília, com sua vasta experiência de professora, pesquisadora e curadora de arte moderna e contemporânea, tornou o trabalho ainda mais envolvente, sempre muito aberta à troca de conhecimentos.

Ao longo dos meses de janeiro a março de 2021 foram realizadas as seguintes atividades: o reconhecimento do conteúdo do acervo; a seleção das críticas mais relevantes para publicação no E-Book; a digitação das mesmas e a organização cronológica, assim como a escolha de obras de Maria Helena que ilustrassem os textos.

Na sequencia, foi realizada a higienização de todo o acervo, sua catalogação com o registro de referência bibliográfica nas normas acadêmicas e acondicionamento em pastas e caixas próprias.

Diante da minha formação como historiadora e conservadora restauradora, conciliar a atividade de elaboração da fortuna crítica com a conservação de todo o material colecionado por Maria Helena Andrés e família ao longo de sua trajetória foi uma realização profissional muito grande. Não poderia deixar de ressaltar que isso só foi possível em razão da Lei Aldir Blanc, que instituiu auxílio financeiro para ações emergenciais destinadas ao setor cultural. Como já é de costume na cultura do nosso país, as políticas públicas quase sempre apresentam esse caráter de urgência, tentando salvaguardar a memória dos nossos artistas. Poeta e compositor, acometido tragicamente pela pandemia de Covid-19, deixou-nos um legado e ainda serviu de inspiração e manifesto para todos aqueles que lutaram pela efetivação dessa lei. Sigamos em luta pela nossa arte, como diria Aldir, “pra frente é que se anda”, “o show [ou melhor, a exposição] de todo artista, tem que continuar”.

 



Trabalho de seleção, digitação e catalogação dos materiais da Fortuna Crítica de Maria Helena Andrés. Foto Marília Andrés Ribeiro, Fev. 2021.



Trabalho de higienização dos recortes de periódicos. Foto Marília Andrés Ribeiro, Fev. 2021.



Exemplares de recortes de jornais sobre a trajetória de Maria Helena Andrés. Foto Nelyane Santos, Mar. 2021.



Detalhe do recorte de periódico MOTTA, Morgan da. 50 anos de arte com Maria Helena Andrés. Jornal Hoje, Belo Horizonte, 12 dez. 1994. Foto Nelyane Santos, Mar. 2021.

 

*Fotos de arquivo

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sábado, 3 de abril de 2021


 

PRODUÇÃO MUSICAL DE ALEXANDRE ANDRÉS

 


Recebi do meu neto Alexandre Andrés, o texto sobre a sua produção musical, que transcrevo abaixo:

 Na aula que dei para o projeto do IMHA, junto a Aldir Blanc, falei sobre um tema importante para músicos e artistas em geral, que se trada do funcionamento da produção musical, na trajetória e carreira de um músico/performer.

Falamos sobre várias questões que envolvem o tema, como os diferentes processos de gravação musical e também sobre a evolução dessa área.

Independente do tipo de gravação, se ela é analógica, digital, se é feita ao vivo ou de maneira separada (a conhecida gravação em overdub), isso corresponde somente a uma das diversas vertentes que compõe o tema.

A produção musical se trata de uma função primordial para qualquer músico que queira desenvolver uma carreira, gravar e lançar discos. Essa prática abrange diversas vertentes: não somente a gravação do conteúdo musical, mas toda a criação estética do trabalho, desde a escolha das músicas que irão compor o repertório, os arranjos dessas composições, os músicos que estarão envolvidos na gravação, o local onde será gravado, como será gravado e qualquer outra questão que possa modificar esteticamente o projeto.

Ou seja, o produtor musical não precisa necessariamente executar as diversas ações dentro de uma produção, ele não precisa necessariamente ser o engenheiro, ser o arranjador e um dos músicos da banda. Ele pode ser somente um visionário, que consegue escolher todos os ingredientes de uma receita que deve ficar extremamente saborosa em seu desfecho. Contudo, ele pode cumprir todas essas funções e, ao meu ver, quando ele se envolve praticamente nas diversas ações, há uma postura ainda mais musical, talvez por haver ali uma maior intimidade com a área.

Por fim podemos dizer que é esse produtor musical o responsável pelo sucesso ou fracasso de uma obra conduzida por ele. É ele quem assina essa função, que tem como objetivo principal o sucesso da gravação de uma obra, obviamente em acordo com as pretensões apresentadas pelo artista principal.

Na minha apresentação ao IMHA falei, dentre outros temas, a respeito da produção que fiz do disco do Duo Foz, duo que corresponde a parceria da vibrafonista Natália Mitre com o guitarrista P.C. Guimarães. Acabei assinando a produção do disco junto aos músicos, e gravando no meu estúdio “Macieiras”.

Todo esse processo começou quando assisti um vídeo de Natália e do P.C., uma live desenvolvida pela “Veredas Produções” e pude perceber ali uma incrível conexão entre os músicos, algo raro, a meu ver, em produções semelhantes. Nesse momento eu buscava a gravação de um disco para estrear meu estúdio, que acabara de ser reformado. O convite foi feito aos músicos e respondido imediatamente por eles, que se mostraram extremamente motivados e agradecidos.

A produção ocorreu no mês de agosto de 2020, bem no meio da pandemia. Para isso, fizemos uma boa quarentena e partimos para uma imersão na fazenda das Macieiras, onde trabalhamos juntos por cinco dias (nós três e o vídeo-maker Lucca Mezzacappa), que registrou todo o processo.

Essa produção consistiu, dentre todo o trabalho musical, das reformulações de cada música, a criação musical sobre o material levantado pelos músicos e reformulações gerais de cada composição, na busca pela presença durante cada processo de ensaio e/ou gravação.

Mas o que seria essa tal presença? Vale ressaltar que isso tem total ligação com a proposta de trabalho de Maria Helena Andrés, que sugere a integração da arte com a espiritualidade e, naturalmente, com a busca espiritual. Naturalmente, esse viés parece promover uma amplificação do conteúdo artístico, uma vez que esse passa a ser desenvolvido em um terreno onde o espiritual é valorizado e buscado, em consonância com cada movimento artístico.

Partindo desse viés de produção artística, apresentei a seguinte proposta para Natália, P.C. e Lucca: cada momento que estivéssemos tocando, dentro do estúdio, estaríamos ali buscando a presença. Essa, para mim, se trata de estar, o máximo possível, consciente de cada movimento, de cada escuta, respiração e a sensação do corpo como uma âncora que nos trás, a todo momento, de volta para dentro de nós mesmos. O fazer musical suscita uma infinidade de forças, dentre elas o ego do artista, que se preocupa a todo momento com os erros e acertos, com o bonito e o feio. Assim o artista se irrita frequentemente, sempre que algo não acontece como o planejado.

A proposta mais importante da nossa produção foi justamente a de se desprender de todas essas preocupações e de estar conectados, ao máximo, a nós mesmos e aos que estariam junto de nós. A ideia é que isso que poderíamos produzir ali, energeticamente falando, é o que seria registrado em disco. Isso é o que, hoje, acredito: se tocamos e gravamos e nesse momento estamos com raiva, estamos registrando ali a nossa raiva; se estamos tocando com medo, estamos registrando o nosso medo; se no momento da performance estamos mais conectados, buscando estar presentes, ou melhor, atentos a cada centímetro de vida que se passa, há, naturalmente, uma amplificação daquilo que se produz e, em uma gravação, isso é o que se registra.

A minha maneira de produzir música, para além de todas as questões musicais, se encontra em consonância com essas ideias e, certamente, desenvolvi tais ferramentas por influência direta de minha vó Maria Helena Andrés. Foi extremamente importante ver de perto sua maneira ímpar de produzir arte. Me percebo hoje buscando algo muito semelhante ao que vejo ela fazendo e ensinando no âmbito das artes plásticas e em outras vertentes artísticas onde transita. Estamos falando de uma das maiores artistas e espiritualistas, que construiu um trabalho enorme com respeito a possibilidade de se fazer arte partindo de lugares diferentes, mais profundos e conectados a outros planos astrais. Trata-se de um segredo muito valioso que, quando compreendido por um artista, pode elevar seus caminhos artísticos de forma exponencial. Como músico e produtor musical, deixo aqui meu agradecimento a minha vó e amiga, Maria Helena Andrés, por tudo que me ensinou e por todo o conhecimento que tem deixado registrado, para os artistas que tiverem uma mínima abertura à esse segredo profundo que se pode ter contato.

 

*FOTOS DE ARQUIVO

 

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