Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
sábado, 24 de abril de 2021
PIERRE WEIL
Pierre, sempre ligado às belezas naturais, andava
todas as manhãs pelas ruas do condomínio. Morava na rua logo abaixo da minha e às vezes
trocávamos ideias sobre arte e espiritualidade. Seu pensamento holístico, que mais
tarde veio a se concretizar em Brasília, começou a se manifestar aqui no
Retiro.
Devo a ele um prefácio muito bonito para o meu livro
“Os Caminhos da Arte”, que eu acabara de escrever. Minha trajetória artística
já começava a se delinear com muita nitidez. Uma outra trajetória, humanística,com abertura
para novas pesquisas no campo das religiões comparadas e a Índia, me parecia a
direção mais certa.
Naquela época, tive o apoio e o incentivo do Pierre,
que já se preparava para largar as montanhas, onde teve uma colaboração ligada
às artes e à educação, organizando peças teatrais para crianças, com a ajuda de
Zezé e Ronei, artistas do Retiro que tinham acabado de construir um teatro.
Para homenagear Pierre, escolhemos a “Praça do Sol”,
criada durante sua gestão e ali, no gramado verde, plantamos uma árvore.
A árvore não pode permanecer por muito tempo, uma
criança, passando de bicicleta a derrubou. Plantamos outra árvore. Pierre veio
a se radicarem Brasília. Inaugurou a Universidade da Paz e me deu incentivo
para participar de um concurso, como professora de arte desta Universidade em
Brasília. Aceitei a iniciativa e caminhei nesta direção.
Mais tarde, a experiência gerou uma série de
workshops na Cidade da Paz. Tudo isto, devo ao incentivo de Pierre. Agora, olhando
este céu muito azul do Retiro das Pedras,vou relembrando o quanto o Retiro deve
a este líder espiritual que foi Pierre Weil.
Passo agora a palavra ao Maurício Andrés Ribeiro, meu
filho, para falar sobre a atuação de Pierre Weil em Brasília.
“A
UNIPAZ – Universidade Holística Internacional de Brasília – foi criada no
Brasil em 1987 e abriu suas atividades em 1988 e desde então expandiu-se por
diversas cidades brasileiras e no exterior. Pierre Weil formulou a teoria
fundamental da Unipaz. A educação para a paz ali proposta contempla a paz
social, a paz com a natureza e a paz consigo mesmo. Convidado pelo governador
do Distrito Federal, José Aparecido de Oliveira, mudou-se para Brasília em 1987, fundou a
UNIPAZ e ali viveu até 2008.
Pierre propôs
como o objetivo principal da Unipaz, incentivar o encontro entre as
tradições espirituais milenares e os organismos de pesquisa da paz e promover
programas de educação integral para a paz, o que abrange o corpo, as emoções, a
mente e o espírito. Na teoria
fundamental da UNIPAZ, expunha de forma
didática os conhecimentos sobre a
ecologia interior, a consciência pessoal e a paz consigo mesmo. Ele desvendou
mecanismos subjetivos e psicológicos e elaborou um método para se alcançar a
paz com a natureza e a social, a partir
da paz consigo mesmo.
Pierre
levava a sério o tema da transcomunicação, ou seja, a comunicação com seres que habitam em outros
planos da existência. Ele escreveu: “Parece-me que uma mudança de perspectiva
está se operando em mim.... Aliás, eu
sou um espírito que mora provisoriamente neste corpo. Um corpo cansado, gordo,
pesado, com a vista enfraquecida e coberta
por uma névoa cada vez mais espessa.” Pierre se refere ao glaucoma que
praticamente o cegou no final da vida.
A
Entrega, título de seu último livro biográfico, é uma proposta presente nas antigas tradições
indianas:
render-se (to surrender) à vontade divina e deixar-se levar na vida a partir dessa força ou energia, do self universal
e não do ego individual, procurando não se mover a partir de seus desejos e
vontades pessoais.” (Maurício Andrés Ribeiro)
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domingo, 18 de abril de 2021
MARACATU LUA NOVA
Eu subi a ladeira de braço
dado com meu filho Euler, naquela época presidente do IMHA.
A cidade se movimentou para
ver o cortejo passar.
Eram os integrantes da
celebração, com André Salles Coelho à frente, regendo.
Havia tambores e cânticos, a
turma uniformizada seguia o cortejo. O som dos tambores repercutia pelas
alamedas e as pessoas abriam as janelas com entusiasmo.
Aliás, todos se envolveram neste
entusiasmo que significa “Deus dentro”.
O Maracatu veio da África, como herança dos
negros, uma das preciosidades de nossa cultura.
Viva a alegria da tradição
africana, que nos trouxe tanta beleza!
Lembro também da minha
cunhada Lourdes, que encontrei na praça:
“Helena, só você mesmo para
movimentar esta cidade!”
Deixo agora a palavra para um
depoimento do André, que nos encantou com seu relato, por ocasião da live do
IMHA ,do dia 14/04.
“O
Maracatu Lua Nova foi fundado em 21 de outubro de 2002, resultado da vivência
de alguns dos integrantes com a tradição do maracatu e de uma extensa pesquisa
histórica e um longo trabalho em busca das raízes mais profundas de nossas tradições.
No
início, o grupo passou por um longo período de dificuldades: sem um local
próprio para ensaios, seus encontros eram cada semana em uma praça diferente da
cidade o que gerava desencontros, atrasos, incômodos, insatisfações da
vizinhança e problemas com a polícia e com moradores de rua; sem um número
suficiente de instrumentos e roupas e sem a possibilidade de um trabalho mais
profundo em relação à vida social dos seus integrantes, o grupo sobreviveu
precariamente durante esse tempo.
Com
a grande participação de moradores do bairro Aparecida (bairro que desde o
início teve uma forte ligação com o grupo), tornou-se fundamental que este se
fixasse nas imediações.
Depois
de muito luta, apoios, projetos, apresentações para custear a sede, o Maracatu
Lua Nova conseguiu se fixar, primeiro no imóvel alugado, depois em sede própria
em uma casa na rua Dona Clara 1046, no bairro Aparecida,
Com
sua sede própria, o grupo pode aumentar seu número de participantes, melhorar
sua infra-estrutura com camarins para os homens e mulheres, sala de
instrumentos biblioteca com um amplo acervo de livros, CDs e DVDs relacionado
ao maracatu e outras manifestações tradicionais e área de ensaio e convívio
social além de passar a oferecer oficinas variadas com enorme participação da
comunidade. Além de oficinas de aprendizagem, reciclagem de conhecimentos e
profissionalizante nas áreas de pintura, música, literatura, bordado, dança,
teatro, destacaram-se nesse período oficinas de intercâmbios culturais como a
oficina com Dona Valdete – do grupo Meninas de Sinhá, de Belo Horizonte – e a
oficina de maracatu com Mestre Afonso – do Maracatu Leão Coroado de Pernambuco:
um dos mais antigos maracatus do Brasil.
O
Maracatu Lua Nova tem como objetivo principal motivar o gosto e hábito pela
música, dança e cantos, utilizando as tradições culturais e suas práticas
derivadas. Como ponto diferencial, o grupo acredita sempre na diversidade, na
mistura, no intercâmbio e, principalmente, na convivência e ajuda mútua de pessoas
de diferentes raças, credos, classes sociais, ideologias, idades, histórias de
vida, trabalho e região onde vivem. O Maracatu Lua Nova é um grupo
profundamente inserido na comunidade em que atua mas sobretudo, um grupo aberto
a todas as pessoas, não fazendo discriminação de qualquer indivíduo que queira
participar e compartilhar sua vivência com todos.
É
justamente seguindo esse ideal que o grupo reúne pessoas de situações sociais
inimaginavelmente diferentes, que de outra forma jamais poderiam ter a
oportunidade de trocar experiências e aprender com um outro tão diferente.
Esse
aprendizado mútuo é a base de toda a convivência do grupo e de sua inserção na
comunidade em que está sediado. O grupo não acredita que pode simplesmente
realizar ações assistencialistas e paternalistas a uma comunidade que merece
muito mais do que isto, merece respeito por cada um de seus indivíduos seus
conhecimentos e suas histórias de vida.
Só
assim, com uma profunda noção de respeito, amor, carinho, amizade e companheirismo
é que se constrói uma relação forte e duradoura que tem como resultado um grupo
grande, conciso, coeso, claro de seus objetivos e íntegro na convivência de
seus indivíduos.
Atualmente
o Maracatu Lua Nova conta com cerca de 100 integrantes fixos, em sua maioria
crianças e adolescentes do ensino público de Belo Horizonte. Nesses quase dez
anos de existência mais de 1000 pessoas já passaram por suas oficinas, aulas e
ensaios. Pessoas que aprenderam as noções básicas de ritmo, dança, ritual e
respeito de uma das mais importantes manifestações folclóricas do país. Nesse
tempo o grupo já realizou quase 200 apresentações em mais de 30 cidades de
Minas Gerais, nos mais variados locais e situações, sempre em grandes eventos
como carnaval de Ouro Preto, festivais de inverno pelo estado, Fit, Fan, festas
do rosário entre outras.
Desde
a sua fundação, o grupo apresenta seu cortejo utilizando os ritmos, os
instrumentos, as danças e as canções típicas do maracatu de baque virado.
Atualmente
o grupo tem todos os personagens mais importantes do maracatu: os batuqueiros,
as catirinas (meninas que dançam ladeando o grupo) as baianas (senhoras que
dançam no centro) rei, rainha, bandeira, a dama do buquê, a calunga (a boneca
preta – símbolo máximo do maracatu) e a dama do paço (a pessoa responsável por
carregar a boneca).
Na
instrumentação, vozes, alfaias (tambores graves) caixas claras (tambores
agudos) e o gonguê (espécie de agogô com uma só campânula).
O
grupo já lançou dois DVDs, parte de seu objetivo de difundir o maracatu, ser um
mantenedor de sua tradição e contribuir para a auto-estima e valorização de
seus integrantes.
O
primeiro DVD, lançado em 2008, tem 15 minutos de duração e é um documentário
com entrevistas e cenas de apresentações e de bastidores. O segundo tem
cinquenta minutos de duração e foi lançado em 2009. É o registro de um show
realizado
Acreditamos
ser essa uma das formas de se construir uma política cultural e social que
sirva também como agente multiplicador das tradições voltadas para o patrimônio,
o ensino das artes, o aprendizado recíproco e a participação de um indivíduo com
plena consciência de sua participação na construção do que podemos chamar de
Nação.
Contatos:
André
Salles-Coelho (coordenador)
Fone:
9625.6195
e-mail:
andresallescoelho@gmail.com
Site:
www.maracatuluanova.com.br
*FOTOS
DE ARQUIVO
sábado, 10 de abril de 2021
FORTUNA CRÍTICA
“Encontrar a
fortuna crítica de um artista organizada e disponível não é tão comum como nós
pesquisadores gostaríamos. Nos estudos de história da arte no Brasil nos
deparamos com múltiplas atividades que vão muito além da análise de obras. Procurar
nos acervos museológicos, coletar fontes documentais que dão conta do registro
de sua trajetória, manuseá-las sem as condições adequadas de exposição. Enfim,
múltiplas tarefas que nos colocam na missão de reconhecer e valorizar a arte.
E quando nos
deparamos com uma coleção de fontes que registram a memória de uma artista com
atuação tão vasta como é Maria Helena Andrés, a satisfação do trabalho
engrandece e nos motiva. Mesmo demandando organização, catalogação, conservação
e acondicionamento, o acervo que encontrei estava admiravelmente muito bem
preservado. E me surpreendi com a variedade das fontes, o que demonstra o quanto
esteve comprometida, tanto Maria Helena como sua família, com o registro de sua
trajetória, reconhecendo a importância de sua produção e a de seus pares para a
história da arte no nosso país. Diante disso, só tenho que agradecer e
sentir-me lisonjeada pela função que a mim foi atribuída no Projeto de
Elaboração da Fortuna Crítica da Artista Maria Helena Andrés. Como produtos foi
elaborado o E-book, reunindo parte da fortuna crítica, e feita a conservação e
acondicionamento de todo o material.
Mas meus
privilégios com o trabalho não terminaram por aí. Tive a companhia de Marília
Andrés na coordenação do Projeto e isso me rendeu inspiradoras manhãs de discussões
acerca da história da arte e temas correlatos. Para definirmos os critérios de
seleção das críticas que comporiam o E-book, conversamos muito sobre o perfil
da crítica de arte no Brasil e as diferentes manifestações artísticas ao longo
do século XX. Marília, com sua vasta experiência de professora, pesquisadora e
curadora de arte moderna e contemporânea, tornou o trabalho ainda mais envolvente,
sempre muito aberta à troca de conhecimentos.
Ao longo dos meses de janeiro a março
de 2021 foram realizadas as seguintes atividades: o reconhecimento do conteúdo
do acervo; a seleção das críticas mais relevantes para publicação no E-Book; a
digitação das mesmas e a organização cronológica, assim como a escolha de obras
de Maria Helena que ilustrassem os textos.
Na sequencia, foi realizada a higienização de todo o acervo,
sua catalogação com o registro de referência bibliográfica nas normas
acadêmicas e acondicionamento em pastas e caixas próprias.
Diante da
minha formação como historiadora e conservadora restauradora, conciliar a
atividade de elaboração da fortuna crítica com a conservação de todo o material
colecionado por Maria Helena Andrés e família ao longo de sua trajetória foi
uma realização profissional muito grande. Não poderia deixar de ressaltar que
isso só foi possível em razão da Lei Aldir Blanc, que instituiu auxílio
financeiro para ações emergenciais destinadas ao setor cultural. Como já é de
costume na cultura do nosso país, as políticas públicas quase sempre apresentam
esse caráter de urgência, tentando salvaguardar a memória dos nossos artistas.
Poeta e compositor, acometido tragicamente pela pandemia de Covid-19,
deixou-nos um legado e ainda serviu de inspiração e manifesto para todos
aqueles que lutaram pela efetivação dessa lei. Sigamos em luta pela nossa arte,
como diria Aldir, “pra frente é que se anda”, “o show [ou melhor, a exposição]
de todo artista, tem que continuar”.
Trabalho de seleção, digitação e catalogação dos
materiais da Fortuna Crítica de Maria Helena Andrés. Foto Marília Andrés
Ribeiro, Fev. 2021. |
Trabalho de higienização
dos recortes de periódicos. Foto Marília Andrés Ribeiro, Fev. 2021. |
Exemplares de recortes de jornais sobre a trajetória
de Maria Helena Andrés. Foto Nelyane Santos, Mar. 2021. |
Detalhe do recorte de
periódico MOTTA, Morgan da. 50 anos de arte com Maria Helena Andrés. Jornal Hoje, Belo Horizonte, 12 dez.
1994. Foto Nelyane Santos, Mar. 2021. |
*Fotos de
arquivo
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sábado, 3 de abril de 2021
PRODUÇÃO MUSICAL DE ALEXANDRE ANDRÉS
Falamos
sobre várias questões que envolvem o tema, como os diferentes processos de
gravação musical e também sobre a evolução dessa área.
Independente
do tipo de gravação, se ela é analógica, digital, se é feita ao vivo ou de
maneira separada (a conhecida gravação em overdub), isso corresponde somente a
uma das diversas vertentes que compõe o tema.
A
produção musical se trata de uma função primordial para qualquer músico que
queira desenvolver uma carreira, gravar e lançar discos. Essa prática abrange
diversas vertentes: não somente a gravação do conteúdo musical, mas toda a
criação estética do trabalho, desde a escolha das músicas que irão compor o
repertório, os arranjos dessas composições, os músicos que estarão envolvidos
na gravação, o local onde será gravado, como será gravado e qualquer outra
questão que possa modificar esteticamente o projeto.
Ou
seja, o produtor musical não precisa necessariamente executar as diversas ações
dentro de uma produção, ele não precisa necessariamente ser o engenheiro, ser o
arranjador e um dos músicos da banda. Ele pode ser somente um visionário, que
consegue escolher todos os ingredientes de uma receita que deve ficar
extremamente saborosa em seu desfecho. Contudo, ele pode cumprir todas essas
funções e, ao meu ver, quando ele se envolve praticamente nas diversas ações,
há uma postura ainda mais musical, talvez por haver ali uma maior intimidade
com a área.
Por
fim podemos dizer que é esse produtor musical o responsável pelo sucesso ou
fracasso de uma obra conduzida por ele. É ele quem assina essa função, que tem
como objetivo principal o sucesso da gravação de uma obra, obviamente em acordo
com as pretensões apresentadas pelo artista principal.
Na
minha apresentação ao IMHA falei, dentre outros temas, a respeito da produção
que fiz do disco do Duo Foz, duo que corresponde a parceria da vibrafonista
Natália Mitre com o guitarrista P.C. Guimarães. Acabei assinando a produção do
disco junto aos músicos, e gravando no meu estúdio “Macieiras”.
Todo
esse processo começou quando assisti um vídeo de Natália e do P.C., uma live
desenvolvida pela “Veredas Produções” e pude perceber ali uma incrível conexão
entre os músicos, algo raro, a meu ver, em produções semelhantes. Nesse momento
eu buscava a gravação de um disco para estrear meu estúdio, que acabara de ser
reformado. O convite foi feito aos músicos e respondido imediatamente por eles,
que se mostraram extremamente motivados e agradecidos.
A
produção ocorreu no mês de agosto de 2020, bem no meio da pandemia. Para isso,
fizemos uma boa quarentena e partimos para uma imersão na fazenda das Macieiras,
onde trabalhamos juntos por cinco dias (nós três e o vídeo-maker Lucca
Mezzacappa), que registrou todo o processo.
Essa
produção consistiu, dentre todo o trabalho musical, das reformulações de cada
música, a criação musical sobre o material levantado pelos músicos e
reformulações gerais de cada composição, na busca pela presença durante cada
processo de ensaio e/ou gravação.
Mas
o que seria essa tal presença? Vale ressaltar que isso tem total ligação com a
proposta de trabalho de Maria Helena Andrés, que sugere a integração da arte
com a espiritualidade e, naturalmente, com a busca espiritual. Naturalmente,
esse viés parece promover uma amplificação do conteúdo artístico, uma vez que esse
passa a ser desenvolvido em um terreno onde o espiritual é valorizado e
buscado, em consonância com cada movimento artístico.
Partindo
desse viés de produção artística, apresentei a seguinte proposta para Natália,
P.C. e Lucca: cada momento que estivéssemos tocando, dentro do estúdio,
estaríamos ali buscando a presença. Essa, para mim, se trata de estar, o máximo
possível, consciente de cada movimento, de cada escuta, respiração e a sensação
do corpo como uma âncora que nos trás, a todo momento, de volta para dentro de
nós mesmos. O fazer musical suscita uma infinidade de forças, dentre elas o ego
do artista, que se preocupa a todo momento com os erros e acertos, com o bonito
e o feio. Assim o artista se irrita frequentemente, sempre que algo não
acontece como o planejado.
A
proposta mais importante da nossa produção foi justamente a de se desprender de
todas essas preocupações e de estar conectados, ao máximo, a nós mesmos e aos
que estariam junto de nós. A ideia é que isso que poderíamos produzir ali,
energeticamente falando, é o que seria registrado em disco. Isso é o que, hoje,
acredito: se tocamos e gravamos e nesse momento estamos com raiva, estamos
registrando ali a nossa raiva; se estamos tocando com medo, estamos registrando
o nosso medo; se no momento da performance estamos mais conectados, buscando
estar presentes, ou melhor, atentos a cada centímetro de vida que se passa, há,
naturalmente, uma amplificação daquilo que se produz e, em uma gravação, isso é
o que se registra.
A
minha maneira de produzir música, para além de todas as questões musicais, se
encontra em consonância com essas ideias e, certamente, desenvolvi tais
ferramentas por influência direta de minha vó Maria Helena Andrés. Foi extremamente
importante ver de perto sua maneira ímpar de produzir arte. Me percebo hoje buscando
algo muito semelhante ao que vejo ela fazendo e ensinando no âmbito das artes
plásticas e em outras vertentes artísticas onde transita. Estamos falando de
uma das maiores artistas e espiritualistas, que construiu um trabalho enorme
com respeito a possibilidade de se fazer arte partindo de lugares diferentes,
mais profundos e conectados a outros planos astrais. Trata-se de um segredo
muito valioso que, quando compreendido por um artista, pode elevar seus
caminhos artísticos de forma exponencial. Como músico e produtor musical, deixo
aqui meu agradecimento a minha vó e amiga, Maria Helena Andrés, por tudo que me
ensinou e por todo o conhecimento que tem deixado registrado, para os artistas
que tiverem uma mínima abertura à esse segredo profundo que se pode ter
contato.
*FOTOS
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