Dando
continuidade ao Livro sobre a Água, de autoria de Maurício e Aparecida Andrés,
transcrevo o trecho abaixo:
Fazer água ou ir por água abaixo
é afundar, fracassar.
Chover canivetes ou cântaros
é chover muito, muito mesmo.
Chover no molhado é repetir-se,
insistir no mesmo tema.
E quem está na chuva
é porque quer se molhar!
Ao evitar decidir-se,
Pilatos lavou as mãos,
deixou que
outros resolvessem
o que fazer com Jesus.
Tempestade em copo d’água
é reação exagerada.
E todos perguntam com indignação:
- Por que cargas d’água isso ocorreu?
Colocar as barbas de molho
é preparar-se para o pior.
Querer sombra e água fresca
é sonhar ter sossego e descanso.
A vaca foi pro brejo
quando algo se tornou difícil
e a situação não tem mais jeito.
Enxugar gelo?
É trabalhar sem resultados.
Dar nó em pingo d’água
é fazer o impossível.
Diz-se que algo é transparente
quando é claro como água.
Ser bom até debaixo d’água
é ser muito, muito bom.
Dar água na boca
é despertar o apetite;
quando algo muda muito,
é como mudar
da água para o vinho.
Cachaça, diz o povão,
é água-que-passarinho-não-bebe.
E alguém que muito bebeu?
Está na maior água
ou terá ficado de fogo
por ter bebido aguardente?
A música faz
um alerta
pra ninguém se confundir:
“Você pensa
que cachaça é água?
Cachaça não é
água, não.
Cachaça vem do alambique,
e água vem do ribeirão...”
E outra canção diz assim:
“as águas vão rolar,
garrafa cheia eu não quero ver sobrar...”.
E há também aqueles versos
que consolam o preocupado:
“a água lava,
lava, lava tudo,
a água só não lava
a língua dessa gente!”
O Carnaval me evoca
nas marchinhas
da vovó:
“Allah, meu bom Allah!
Mande água pra Ioiô
Mande água pra Iaiá
Allah, meu bom Allah!
Allah – la - la – ô, mas que calor!”
E o músico Luiz Gonzaga
lembra o drama nordestino
em sua bela
‘Asa Branca’:
“Que
braseiro! Que fornalha!
nem um pé de plantação!
Por falta d’água, perdi meu gado
morreu de sede meu alazão!”
Nas cantorias
de cordel
lá estou mais
uma vez:
“ o sertão vai virar mar
e o mar vai virar sertão”...
Gilberto Gil nos
ensina:
“Dá-me um copo d’água,
eu tenho
sede,
e essa sede pode me matar...”.
E mesmo a falta o inspira:
“É sempre bom lembrar
que um copo vazio
está cheio de ar...”
Noel Rosa cantou que
“o orvalho vem caindo,
vai molhar o meu chapéu...”
Nosso Hino Nacional
lembra as margens plácidas
de um rio de águas vermelhas
que os índios chamavam de Ipiranga.
Ary Barroso exaltou
“estas fontes murmurantes,
onde eu mato a minha sede,
e onde a lua vem brincar.”
O Presidente
JK
gostava muito de cantar:
- Como pode um peixe vivo
viver fora da água fria?
E as crianças cantarolam
logo que aprendem a falar:
“...fui na
fonte do Itororó
beber água e não achei...”
O maestro Tom Jobim
cantou as Águas de março.
“Lata d’água na cabeça, lá vai Maria”
nos lembra do papel da mulher,
lutando na lida da casa.
E você que aí está,
se lembra de outras canções?
Me encontro também nas poesias,
como a de Manuel Bandeira:
«E quando estiver cansado
Deito na
beira do rio
Mando chamar
mãe-d’água
Pra me contar
as histórias
Que no tempo
de eu menino
Rosa vinha me
contar.
Vou-me embora
pra Pasárgada.”
*ILUSTRAÇÕES DE MARIA HELENA ANDRÉS
VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”,
CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário