quinta-feira, 19 de março de 2020

LIVRO SOBRE A ÁGUA X


Dando continuidade ao Livro sobre a Água, de autoria de Maurício e Aparecida Andrés, transcrevo o trecho abaixo:

Águas passadas não movem moinho.
Fazer água ou ir por água abaixo
é afundar, fracassar.
Chover canivetes ou cântaros
é chover muito, muito mesmo.
Chover no molhado é repetir-se,
insistir no mesmo tema.
E quem está na chuva
é porque quer se molhar!
Ao evitar decidir-se,
Pilatos lavou as mãos,
deixou  que outros resolvessem
o que fazer com Jesus.

Tempestade em copo d’água
é reação exagerada. 
E todos perguntam com indignação:
- Por que cargas d’água isso ocorreu? 

Colocar as barbas de molho
é preparar-se para o pior. 
Querer sombra e água fresca
é sonhar ter sossego e descanso.
A vaca foi pro brejo
quando algo se tornou difícil
e a situação não tem mais jeito.
 
Enxugar gelo?
É trabalhar sem resultados.
Dar nó em pingo d’água
é fazer o impossível.
Diz-se que algo é transparente
quando é claro como água. 
Ser bom até debaixo d’água
é ser muito, muito bom.
Dar água na boca
é despertar o apetite;
quando algo muda muito,
 é como mudar da água para o vinho.

Cachaça, diz o povão,
é água-que-passarinho-não-bebe.
E alguém que muito bebeu?
Está na maior água
ou terá ficado de fogo
por ter bebido aguardente?                            

A  música faz um alerta
pra ninguém se confundir:
 “Você pensa que cachaça é água?
 Cachaça não é água, não.
Cachaça vem do alambique,
e água vem do ribeirão...”

E outra canção diz assim:
“as águas vão rolar,
garrafa cheia eu não quero ver sobrar...”.

E há também aqueles versos
que consolam o preocupado:
 “a água lava, lava, lava tudo,
a água só não lava
a língua dessa gente!”

O Carnaval me evoca
nas marchinhas  da vovó:
“Allah, meu bom Allah!
Mande água pra Ioiô
Mande água pra Iaiá
Allah, meu bom Allah!
Allah – la - la – ô, mas que calor!”

E o músico Luiz Gonzaga
lembra o drama nordestino
em sua bela  ‘Asa Branca’:
 “Que braseiro! Que fornalha!
nem um pé de plantação!
Por falta d’água, perdi meu gado
morreu de sede meu alazão!”

Nas  cantorias de cordel
lá estou  mais uma vez:
“ o sertão vai virar mar
e o mar vai virar sertão”...
Gilberto Gil  nos ensina:
“Dá-me um copo d’água,
 eu tenho sede,
e essa sede pode me matar...”.
E mesmo a falta o inspira:
“É sempre bom lembrar
que um copo vazio
está cheio de ar...”


Noel Rosa cantou que
“o orvalho vem caindo,
vai molhar o meu chapéu...”

Nosso Hino Nacional 
lembra as margens plácidas
de um rio de águas vermelhas
que os índios chamavam de Ipiranga.

E na Aquarela do Brasil,
Ary Barroso exaltou
“estas fontes murmurantes,
onde eu mato a minha sede,
e onde a lua vem brincar.”

 O Presidente JK
gostava muito de cantar:
- Como pode um peixe vivo
viver fora da água fria?

E as crianças cantarolam
logo que aprendem a falar:
 “...fui na fonte do Itororó
beber água e não achei...”

O maestro Tom Jobim
cantou as Águas de março.

“Lata d’água na cabeça, lá vai Maria”
nos lembra do papel da mulher,
lutando na lida da casa.  
E você que aí está,
se lembra de outras canções?
Me encontro também nas poesias,
como a de Manuel Bandeira:
«E quando estiver cansado
 Deito na beira do rio
 Mando chamar mãe-d’água
 Pra me contar as histórias
 Que no tempo de eu menino
 Rosa vinha me contar.
 Vou-me embora pra Pasárgada.”

*ILUSTRAÇÕES DE MARIA HELENA ANDRÉS

VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.





Nenhum comentário:

Postar um comentário