Encontrei
este artigo de Mari’Stella Tristão, quando ela me entrevistou em 1989, ocasião
em que eu regressava a Belo Horizonte, após ter participado da Bienal de São
Paulo. Este artigo nós dá uma visão histórica de como se realizaram as
primeiras Bienais.
“A
consagrada artista mineira Maria Helena Andrés também foi convocada a
participar da Bienal de São Paulo, que se inaugura no dia 14. Sobre essa
participação, conversamos com a artista. “O convite partiu do crítico Casimiro
Xavier de Mendonça, coordenador da sala especial “Pintura Abstrata – Efeito
Bienal – 1954/1963”. Desta sala, farão parte 22 artistas , cada um participando
com duas obras que tenham sido realizadas naquele período. A seleção articula
um amplo painel da pintura da época, com ênfase no abstracionismo informal”
Sobre outras
salas especiais e bienais que tenha participado, Maria Helena diz: “A minha
carreira como artista foi realizada em grande parte através das Bienais e
Salões. Residindo em Belo Horizonte, fora do eixo Rio- São Paulo, eu buscava
uma forma de crescer e me atualizar , e essa forma era estar presente com meus
quadros em São Paulo de dois em dois anos. Naquele tempo os artistas
participavam enviando seus quadros ao Ibirapuera para serem submetidos ao
julgamento de um júri nacional e internacional. O resultado saía nos jornais.
Para mim, a grande alegria era deixar um pouco a vida doméstica e viajar para
São Paulo a fim de conviver com grandes artistas internacionais. Através das
Bienais, fiquei conhecendo de perto obras de mestres nas retrospectivas de
Picasso, Paul Klee, Chagal, Mondrian, Pollock, Kandinsky e tantos outros que a
gente conhecia através dos livros. A visão do mundo como um todo ali estava. As
primeiras Bienais foram realmente fonte de enriquecimento para os artistas.
Abria direções mais amplas, apontando novos caminhos aos jovens que se
iniciavam. Dalí surgiram no Brasil o concretismo, o neo-concretismo, o
abstracionismo informal e lírico e várias outras tendências.
Maria Helena
foi a artista mineira que mais vezes esteve presente às Bienais, pelo processo
de seleção ou como convidada. Perguntamos à artista: na XII Bienal, você foi
convidada a participar de uma retrospectiva da pintura concreta no Brasil.
Fale-nos sobre essa fase da sua pintura.
“Participei
do movimento concreto e considero essa fase de grande rigor técnico como uma
disciplina necessária. Foi a época das “Cidades iluminadas”, que circularam pela
Europa e Estados Unidos, a convite do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Meus quadros viajaram por dois anos percorrendo várias cidades. Um dia eu
também senti vontade de “viajar” e daí surgiram os primeiros “barcos”, de uma
longa série, ainda sob a influência do geométrico. Em 1960 , os barcos
começaram a ficar mais soltos, as pinceladas mais livres e as transparências
renasceram nas telas. Foi o início do abstracionismo informal. Nessa época
recebi convite do consulado americano para viajar pelos Estados Unidos a fim de
visitar museus e galerias, quando passei quatro meses entre Washington e Nova York. Estudei com
Theodorus Stamus, um dos grandes nomes da “action painting” e conheci vários
artistas da pintura gestual americana. Considero essa viagem muito importante
para a definição do meu caminho na arte. Foi lá que percebi, pela primeira vez,
o relacionamento do “gestual” com o “aqui e agora” do Zen Budismo.
A pintura
informal tem muito a ver com a busca interna, pois possibilita uma viagem em
nosso inconsciente. No momento está existindo um retorno a esse tipo de pintura
e cada vez mais a busca da espontaneidade necessária.
De novo
pergunto: e por falar em retorno, o que você acha destas iniciativas da Bienal
de retornar ao passado?
_ “Essa
iniciativa é de grande importância histórica. Para se ter uma idéia do que foi
feito, é necessário uma revisão, uma síntese das diversas tendências, a fim de
se estudar, com base no passado, as manifestações que surgem. A arte moderna
sempre se baseou na ruptura, na quebra de condicionamentos para se conquistar o
novo. Mas essa ruptura pressupõe também uma síntese, uma reconquista dos
valores do passado em termos do presente. Então é necessário um olhar para trás
a fim de sentir de perto o que já foi feito. Isso ganha seriedade e sentido
histórico. Agora chegou a vez de se fazer um estudo sobre o gestual, a
necessidade de reconquista da espontaneidade na arte. O gestual é a
manifestação direta da energia de criatividade, sem os bloqueios e
condicionamentos da mente. Através da espontaneidade criativa, conquista-se
também a mesma espontaneidade na vida.”
Da sala
especial de pintura abstrata da Bienal 89, fazem parte dois mineiros : Maria
Helena Andrés e Celso Renato de Lima, entre os mais conceituados nomes da mesma
linha de arte, tais como Antônio Bandeira, Archangelo Ianelli, Ivan Serpa,
Krajcberg, Iberê Camargo, Danilo di preti, Loio Persio, Tomie Otake, Sansor
Flexor, Mira Shendel, Maria Leontina, Piza, Ernestina Karman e outros. (ARTIGO
DE 3/10/1989 – MARI’STELLA TRISTÃO)
*Fotos de
arquivo
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