segunda-feira, 15 de julho de 2019

CIRCUITO POLÍMATAS


Esta exposição POLÍMATAS, sob curadoria de Maria do CarmoVeneroso, Pedro Veneroso, Marília Andrés e Tânia Araújo merece ser vista.

Percorro a mostra parando em cada stand no hall da Reitoria da UFMG, verificando o diálogo entre as diversas propostas dos artistas.

Logo na entrada os meus desenhos se desdobram na vitrine como um livro de imagens e poemas. Procurei integrar alguns poemas da década de 1950 aos desenhos de agora.
Me chamou a atenção o livro de Paulo Bruscky com poemas de grande sensibilidade. Paulo Brusky é um artista de renome internacional que vem trabalhando há muitos anos com arte conceitual e poesia.

Continuando meu roteiro na exposição encontrei nas obras de Arnaldo Dias Baptista uma integração do texto com a música. Arnaldo é músico famoso e agora desponta como artista plástico de forma nova e criativa. Em suas telas e seus cadernos de desenho a presença da música é uma constante. Ali, os instrumentos musicais e as referências aos Beatles, aos Rolling Stones e aos Mutantes fazem uma síntese da música com a pintura.

O livro de Jorge dos Anjos nos lembra o tempo da escravidão. Jorge esquenta o ferro e imprime no feltro marcas de um passado de sofrimento e dor. Ali, nasce um construtivismo africano, tecido a ferro e fogo, que remete às marcas agressivas dos colonizadores na pele dos escravos. É interessante a maneira como esse livro foi apresentado, em diálogo com sua Gravadura bidimensional e o vídeo que mostra o processo de criação do artista.

Do outro lado, as fotos de Eymard Brandão mostram as marcas de caminhões impressas no chão de Minas e lembram o momento crucial que estamos vivendo. Eymard colocou uma das fotos desse processo dentro de um antigo dicionário que pode ser consultado ao longo dos tempos.

Todo um passado recente me veio à memória quando me deparei com o trabalho de Tânia Araújo que fala de cartas, carteiros e caixas de correios. Lembrei do tempo em que eu estava na Índia e ficava na expectativa da chegada das cartas  da família. Agora, as tecnologias modernas e a internet deram um salto quântico, acelerando de forma extraordinária o processo de comunicação.

Com fotos antigas de família e objetos raros quebrados dentro da vitrine, Maria do Carmo Veneroso apresenta a quebra da tradição, do conservadorismo e dos antigos conceitos de arte. Sua apresentação me faz perceber o processo acelerado de quebra de condicionamentos ao longo da história da arte.

Continuando a reflexão sobre a quebra de condicionamentos, encontrei na obra de Adriana Penido uma proposta semelhante. Ali, a artista mostra a importância da leitura, da biblioteca e da necessidade de ler para crescer. Em seguida, ela contrapõe livros jogados no chão sujos de barro, destroçados, chamando a atenção para a cultura arrasada.

Isabela Prado também fala da destruição dos antigos rios e ribeirões de Belo Horizonte.  Vai às ruas pesquisar as águas subterrâneas da cidade e mostra um vídeo que liga a música com as ruas e os rios subterrâneos. Ela faz aulas de violino em cima desses lugares, tocando uma canção antiga que fala de ruas, de bosques e das danças de roda das crianças. Este vídeo me faz lembrar a minha infância em BH, onde brincávamos de roda na rua e catávamos caquinhos de vidro para fazer caleidoscópios. Hoje, esses rios e ruas não existem mais.

Sara não tem Nome também fala de rios e de mares, apresentando duas vitrines de vidro com água: a primeira mostra uma série de garrafas de água mineral e a segunda um depósito subterrâneo de areia com vários objetos destruídos. A proposta contém uma denúncia ecológica e vislumbra um futuro fóssil de uma civilização consumista: tesoura, celular antigo, caderno, mouse de computador, fita cassete são jogados no mar e depositados na areia. As riquezas seguem para terras distantes e o que fica é a destruição e a morte.

A proposta de Fabrício Fernandino vem completar a reflexão sobre a água e o meio ambiente, salientando a sua importância para a nossa sobrevivência. Denuncia também o lixo e os plásticos no fundo do mar, através de recortes da palavra ÁGUA jogados dentro de um aquário.

 A denúncia ecológica é uma constante nas apresentações dos jovens artistas, mostrando as suas preocupações com o meio ambiente e a sobrevivência do planeta.

*Fotos de arquivo

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