Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
terça-feira, 30 de julho de 2019
EXPOSIÇÃO LIVRO DE ARTISTA
Estou no Palácio das Artes em Belo Horizonte,
percorrendo a exposição do livro de Artista da Coleção ITAÚ CULTURAL. Muito bem
montada, livros nas vitrines, desenhos e gravuras nas paredes recobertas com
fundo cinza.
Fiquei meditando por algum tempo naquele imenso
salão. Aos poucos a gente vai recordando como as idéias surgiram, desde o
movimento concretista até os dias de hoje. Há uma linha criativa que abriu
perspectivas novas para a arte brasileira. Esta linha se prolongou no tempo e
de forma sutil vai trazendo sua luz para o presente e continua apontando para o
futuro.
O livro de artista é um documento vivo que evoca
reminiscências passadas, alcança a poesia e a música, sai do plano
bidimensional para o tridimensional, transforma-se em objetos.
As pessoas passam, lêem os versos, param para ver os
livros atrás de caixas envidraçadas. Uma vibração de paz e quietude envolve o
ambiente da Galeria e me faz recordar que os livros estão registrando um
sentimento, uma emoção, um momento de silêncio.
Há por detrás dessas obras o registro invisível do
Grande Livro que todos nós escrevemos e que nunca será lido: o Grande Livro de
nossa própria vida.
Desci para o andar inferior do Palácio das Artes e
procurei um banco para contemplar o Parque Municipal. As árvores foram me
trazendo histórias do passado, quando a Escola Guignard estava situada nos
porões do Palácio das Artes ainda em construção.
Não havia conforto, muitas vezes as chuvas invadiam
as salas. Mas, apesar da pobreza, dali surgiram talentos.
No hall de entrada uma escultura de Amilcar de
Castro é o testemunho desses talentos que começaram debaixo das árvores do
Parque Municipal.
Terminei a manhã escutando a Orquestra Sinfônica de
BH, que se apresenta ao meio dia da primeira terça feira de cada mês.
*Fotos de Ivana Andrés
VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”,
CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA
segunda-feira, 22 de julho de 2019
LINHAS SENSÍVEIS
A exposição Linhas Sensíveis de professores da
Escola Guignard, em sua sede no alto das Mangabeiras, me fez refletir sobre as
aulas do mestre Guignard, reunindo com entusiasmo e alegria seus alunos no
Parque Municipal.
A mesma alegria e espírito
de união pude observar no momento em que entrei na Grande Galeria da Escola.
Fui recebida com um carinho inesquecível e me senti como uma sobrevivente de
uma Escola que nunca se perdeu no tempo.
Foram 75 anos de
trabalho intenso, de altos e baixos no caminho, mas sempre carregando a
bandeira da arte como uma dádiva da vida.
A força da tradição de
Guignard nunca esteve na repetição de fórmulas, mas na constante renovação de
ideias. Guignard valorizava a “coisa nova” e percebia o aluno como um ser criativo,
com possibilidades de crescimento e renovação. Sua didática se colocava na
valorização do desenho, como forma de criar raízes seguras para os alunos.
Essas raízes não vinham de fora, mas atingiam o ser interno de cada um, para
dali se projetar no espaço externo.
A colocação do desenho
como um companheiro constante para todas as formas de arte, sejam elas
bidimensionais ou tridimensionais, possibilitou uma grande diversidade de
estilos entre seus alunos. Desenhar sempre, registrar o mundo externo e o
interno de cada um, rabiscar sempre, pois são desses registros que surgem as
ideias.
Na inauguração da
mostra, me senti participante de um grupo que dá continuidade e vida à semente
plantada pelo mestre. Ali está presente a linha sensível, não estereotipada,
aquela que brota do coração e traz à tona o novo, o inesperado.
Acredito na arte como a
grande transformadora do ser humano, é ela que nos faz perceber, através da
sensibilidade, o mundo que nos cerca e a nossa participação num universo mais
amplo. Somos parte desse universo de estrelas e a ele estamos ligados desde a
nossa origem.
Parabéns à esta Escola
que eu aprendi a amar desde o tempo em que ela foi criada. Parabéns ao jovem
diretor que sempre incentiva os alunos a crescerem como pessoas humanas.
Parabéns aos curadores da exposição que propiciaram uma troca criativa entre
alunos e professores. Parabéns ao trabalho exemplar dos professores que dão
continuidade às propostas de Guignard.
Transcrevo aqui parte
do texto curatorial da exposição:
“Um dos ensinamentos do
mestre Alberto da Veiga Guignard a seus alunos, que até hoje é difundido por
meio dos professores de sua Escola, é o de que cada artista deve buscar o seu caminho
criativo e a sua expressão individual, sem imposições, respeitando o estilo
próprio de cada um. Nesse sentido, os valores da liberdade de expressão e da
diversidade podem ser considerados uma das marcas desse
grande professor e artista, os quais se mostram presentes aqui, nas obras de 32
artistas, que são atuais professores da instituição”.
*Fotos de arquivo
VISITE TAMBÉM MEU OUTRO
BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
segunda-feira, 15 de julho de 2019
CIRCUITO POLÍMATAS
Esta
exposição POLÍMATAS, sob curadoria de Maria do CarmoVeneroso, Pedro Veneroso,
Marília Andrés e Tânia Araújo merece ser vista.
Percorro
a mostra parando em cada stand no
hall da Reitoria da UFMG, verificando o diálogo entre as diversas propostas dos
artistas.
Logo
na entrada os meus desenhos se desdobram na vitrine como um livro de imagens e
poemas. Procurei integrar alguns poemas da década de 1950 aos desenhos de
agora.
Me
chamou a atenção o livro de Paulo Bruscky com poemas de grande sensibilidade.
Paulo Brusky é um artista de renome internacional que vem trabalhando há muitos
anos com arte conceitual e poesia.
Continuando
meu roteiro na exposição encontrei nas obras de Arnaldo Dias Baptista uma
integração do texto com a música. Arnaldo é músico famoso e agora desponta como
artista plástico de forma nova e criativa. Em suas telas e seus cadernos de
desenho a presença da música é uma constante. Ali, os instrumentos musicais e
as referências aos Beatles, aos Rolling Stones e aos Mutantes fazem uma síntese
da música com a pintura.
O
livro de Jorge dos Anjos nos lembra o tempo da escravidão. Jorge esquenta o
ferro e imprime no feltro marcas de um passado de sofrimento e dor. Ali, nasce
um construtivismo africano, tecido a ferro e fogo, que remete às marcas
agressivas dos colonizadores na pele dos escravos. É interessante a maneira
como esse livro foi apresentado, em diálogo com sua Gravadura bidimensional e o vídeo que mostra o processo de criação
do artista.
Do
outro lado, as fotos de Eymard Brandão mostram as marcas de caminhões impressas
no chão de Minas e lembram o momento crucial que estamos vivendo. Eymard
colocou uma das fotos desse processo dentro de um antigo dicionário que pode
ser consultado ao longo dos tempos.
Todo
um passado recente me veio à memória quando me deparei com o trabalho de Tânia
Araújo que fala de cartas, carteiros e caixas de correios. Lembrei do tempo em
que eu estava na Índia e ficava na expectativa da chegada das cartas da família. Agora, as tecnologias modernas e a
internet deram um salto quântico, acelerando de forma extraordinária o processo
de comunicação.
Com
fotos antigas de família e objetos raros quebrados dentro da vitrine, Maria do
Carmo Veneroso apresenta a quebra da tradição, do conservadorismo e dos antigos
conceitos de arte. Sua apresentação me faz perceber o processo acelerado de
quebra de condicionamentos ao longo da história da arte.
Continuando
a reflexão sobre a quebra de condicionamentos, encontrei na obra de Adriana
Penido uma proposta semelhante. Ali, a artista mostra a importância da leitura,
da biblioteca e da necessidade de ler para crescer. Em seguida, ela contrapõe
livros jogados no chão sujos de barro, destroçados, chamando a atenção para a
cultura arrasada.
Isabela
Prado também fala da destruição dos antigos rios e ribeirões de Belo
Horizonte. Vai às ruas pesquisar as
águas subterrâneas da cidade e mostra um vídeo que liga a música com as ruas e os
rios subterrâneos. Ela faz aulas de violino em cima desses lugares, tocando uma
canção antiga que fala de ruas, de bosques e das danças de roda das crianças.
Este vídeo me faz lembrar a minha infância em BH, onde brincávamos de roda na
rua e catávamos caquinhos de vidro para fazer caleidoscópios. Hoje, esses rios
e ruas não existem mais.
Sara
não tem Nome também fala de rios e de mares, apresentando duas vitrines de
vidro com água: a primeira mostra uma série de garrafas de água mineral e a
segunda um depósito subterrâneo de areia com vários objetos destruídos. A
proposta contém uma denúncia ecológica e vislumbra um futuro fóssil de uma
civilização consumista: tesoura, celular antigo, caderno, mouse de computador,
fita cassete são jogados no mar e depositados na areia. As riquezas seguem para
terras distantes e o que fica é a destruição e a morte.
A
proposta de Fabrício Fernandino vem completar a reflexão sobre a água e o meio
ambiente, salientando a sua importância para a nossa sobrevivência. Denuncia
também o lixo e os plásticos no fundo do mar, através de recortes da palavra ÁGUA
jogados dentro de um aquário.
A denúncia ecológica é uma constante nas
apresentações dos jovens artistas, mostrando as suas preocupações com o meio ambiente e a sobrevivência do planeta.
*Fotos
de arquivo
VISITE
TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
segunda-feira, 8 de julho de 2019
JOSÉ ISRAEL, UM FOTÓGRAFO BRASILEIRO NA ÍNDIA
Caminhando
Pelas estradas
Da Índia,
Máquina à
Tiracolo,
O olhar atento
Para o entorno:
Um velho vestido de
Alaranjado
Medita imóvel
À beira do Ganges.
Carros passam
Buzinando.
Bois e vacas
Interrompem
O trânsito.
E o trem de
Ferro corta
As cidades.
Nas ruas
A multidão colorida.
Há os homens de
Turbantes nas cabeças
Moças envolvidas em sáris.
Tudo é cor na Índia!
O povo reza nos templos
E os turistas fotografam
O Taj Mahal,
Patrimônio da humanidade.
José Israel registra
Em sua câmera o
Burburinho da Índia
E transforma tudo
Em poesia.
*Fotos de José Israel
VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”,
CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
Assinar:
Postagens (Atom)