A série de pinturas construtivas de Celso Renato, no
momento em exposição na Grande Galeria do Palácio das Artes marcou a sua
presença definitiva no cenário das artes plásticas de Minas e do Brasil.
Percorrendo a mostra, reproduzo aqui trechos dos depoimentos de Claudia
Renault, Marcio Sampaio e Amílcar de Castro, amigos do artista e admiradores de
sua obra.
“Celso
aparece nos anos 60, no cenário das artes de Belo Horizonte, já como um homem
maduro, com uma pintura expressionista, com traços fortes e largos. A ideia é
de um sujeito à procura de si, da sua alma, na maneira mais íntima de se
expressar.
É nesse momento que as coisas do mundo começam a
conversar com ele. Celso parece escutar o silêncio e outros materiais que não a
tela. Nessa hora ele revela a sacralidade das coisas mais rudes. É com um gesto
mínimo, certeiro, de quem lança uma seta, que Celso Renato inicia suas
intervenções nas madeiras – restos de materiais de construção civil. Uma vez
que o material utilizado já carrega em si texturas, falhas, pregos, Celso
inclui esses materiais e cria uma relação muito especial entre sua proposta
geométrica e a organicidade do suporte. É nesses tapumes que o artista enfatiza
as formas e revela a sacralidade e a verdadeira alma das coisas. Nessa hora
lembro-me de Manoel de Barros ao dizer que as “coisas sem importância são bens
de poesia”. Celso Renato me ensinou isso antes de Manoel. Ele retira do refugo
da madeira e trava com ela um diálogo. Nesse diálogo amoroso com a matéria, dá
vida ao que já estava perdido.
É com suas interferências com a madeira que Celso
marca presença nas artes plásticas do Brasil e do mundo. Estabelece uma
conversa com deuses e ancestrais. Formas e cores puras que nos remetem a
rituais, conversas veladas com povos que fazem arte com verdade, como religião,
como necessidade de registro da existência.” (CLAUDIA RENAULT, curadora)
“O trabalho atual de Celso Renato parte dessa
experiência, desse diálogo com a matéria. Sua arte só é possível na medida em
que a matéria respondeu a seu apelo e se entregou totalmente para que a mão a detenhe
e a transforme.. O suporte é a madeira que ele encontra nas construções – já
usada, recosturada, escarificada pelo uso e condenada à deterioração – e que o
artista recupera , modificando-a com traços, formas pintadas, sempre seguindo
as sugestões que lhe trazem as erupções naturais e os acidentes sofridos antes
pela própria matéria.” (MARCIO SAMPAIO)
“É madeira de construção
Cheia de sinais, riscos e ranhuras
Frinchas, frestas, buracos e rachaduras
São algumas tábuas juntas a martelo
Com pregos aparentes
Às vezes aparecem pedaços como tramelas
Tramelas de portas que não se abrirão jamais.
Como se guardando imenso segredo perdido
Segredo agora revelado
E que mostra o caminho dia
Da noite
Do sol esquecido
Que volta a nos envolver
Na música de tambores longínquos” (AMILCAR DE CASTRO)
Fotos de Ivana Andrés
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