segunda-feira, 4 de junho de 2018

PINTURA MODERNA X


O campo tem sido vasto para a arte abstrata.

         Os artistas procuram muitas vezes sua fonte de inspiração no mundo orgânico, aproximando-se dos ritmos e das formas que a natureza oferece. Um muro gasto pelo tempo propõe uma paisagem fantástica, diferente; um tronco de árvore, cortado ao meio, é um universo de formas e ritmos.

         A natureza é inesgotável. O mundo das formas naturais não é apenas aquele que enxergamos a olho nu. Existe o mundo da ciência do microscópio, onde formas abstratas movem-se como os "mobiles" de Calder, organizando em ritmos inesperados e surpreendentes. A ciência oferece à arte um campo vastíssimo de sugestões novas e o artista contemporâneo não lhe é indiferente.

         O abstracionismo é a corrente que mais fortemente se vê atingida pela influência cósmica que hoje domina as pretensões científicas do homem.

         É como que uma antecipação através da arte, das descobertas que se aproximam, no terreno misterioso e quase virgem da conquista de outros planetas.

         A pintura "tachista", sublinhando a proeminência do gesto, reflete uma ânsia incontida de liberdade, de negação a toda e qualquer disciplina.

         Em situação intermediária entre o abstracionismo e o figurativismo encontram-se tendências que procuram tirar da natureza motivação para suas abstrações. Seguem uma linha paralela à imagem, sem relação de dependência dela. Seus quadros evocam alguma paisagem, às vezes facilmente identificada pelo público, mas que vale apenas como força de sugestão para o artista se manifestar pictoricamente.

         Esta tendência que vem subsistindo desde muitos anos em artistas internacionais como Feineinger, Vieira da Silva, Duchamp e outros, volta, agora, desvendando paisagens imaginárias e fantásticas como um retorno muito livre e independente do artista à natureza.

         Rompe-se a linha divisória que limita e separa uma técnica de outra.
         Procura-se uma forma viva e orgânica que não obedeça a regras preestabelecidas.

         O desenho penetra nos domínios da pintura e da gravura, e as técnicas de relevo são aproveitadas para um enriquecimento maior das soluções de pinturas. Novos materiais começam a ser usados como motivação para uma nova tendência de arte.

         Há como que um clamor uníssono, brotado de todos os cantos da terra em favor da emancipação total dos meios de expressão do artista. (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, editora Agir, 1966)

*Fotos da internet

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