Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
terça-feira, 27 de março de 2018
PINTURA MODERNA IV
Sob o impulso dos artistas realmente
criadores, tais como Van Gogh, Gauguin e Cezanne, as primeiras descobertas dos
impressionistas sofreram transformações que iriam levá-las a novas pesquisas e
tendências.
Lançaram
as primeiras sementes do expressionismo, fovismo e cubismo.
O caminho da arte moderna estava
aberto.
Os expressionistas herdeiros de Van
Gogh e do norueguês Edward Munch interpretavam a natureza à base de sentimentos
e não de sensações visuais, como fizeram seus antecessores, os impressionistas.
Procuravam trazer à tona uma realidade mais profunda e autêntica, escondida no
mistério da personalidade humana.
O expressionismo surgiu no começo do
século e teve sua expansão máxima na Alemanha, vencida e humilhada pela
Primeira Grande Guerra. Ali se desenvolveu tanto nas artes plásticas como na
música, na literatura, no cinema e no teatro. Para esse clima de expansão
expressionista vários fatores contribuíram inclusive a filosofia do super-homem
de Nietzsche, a psicanálise de Freud e o misticismo existencialista de
Kierkegaard. O conceito do belo expressivo foi levado às suas últimas conseqüências
e a arte negra e a dos povos primitivos tomadas como exemplo de criação livre e
espontânea.
O mundo das vivências íntimas ganhou
com o expressionismo, proclamando através da arte uma realidade até então
desconhecida.
Ao contrário dos impressionistas, que
tinham uma visão bastante otimista e lírica do exterior, os expressionistas,
justamente por não se preocuparem em reproduzir cenas, mas sentimentos
profundos, eram trágicos e violentos deformadores da figura.
Segundo Carlos Cavalcanti, "a
deformação é a excessiva intervenção do sentimento na imagem, para ajustá-la às
necessidades de expressão do artista. Torna-se portanto a característica mais
geral da pintura expressionista."
O expressionista, traduzindo em seus
quadros um momento de tensão emocional, não poderia prender-se a problemas de
ordem intelectual ou princípios tradicionais de estética. Afastava-se às vezes
por completo da natureza na busca veemente de uma expressão subjetiva.
Essa corrente marcou violentamente o
destino de grandes artistas e tem se renovado sob aspectos diferentes através
do tempo. (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, editora Agir, 1966)
*Fotos
da internet
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terça-feira, 20 de março de 2018
PINTURA MODERNA III
Dando
continuidade ao meu estudo sobre “Pintura Moderna”, já publicado em 2
postagens, transcrevo abaixo trecho do meu livro “Vivência e Arte”publicado
pela Agir Editora em 1966.
Foi na primavera de 1874 que jovens
pintores, hoje considerados mestres, tais como Renoir, Monet, Pisarro, Sisley,
Degas, Cezanne, inauguraram em Paris a primeira exposição de arte moderna. A
denominação "impressionistas", dada pejorativamente ao grupo por um
crítico mais exaltado, foi adotada.
Segundo John Rewald, "apesar de seus
esforços chocarem seus contemporâneos, eles foram, de fato, a verdadeira
continuação dos trabalhos e teorias de seus predecessores."
Os impressionistas nos deram uma visão
luminosa da natureza. Levavam as telas para o ar livre, procurando fixar as
constantes transformações de cores e luzes que se operam à superfície das
coisas.
Claude Monet, um dos mais conhecidos
impressionistas, pintou em diferentes horas do dia a Catedral de Rouen, tirando
dela visões completamente diversas.
Segundo Carlos Cavalcanti, "no
culto extremado da luminosidade solar e no desejo de transmitir as sensações de
fugacidade dos efeitos coloridos e luminosos, os impressionistas acabavam
representando os seres e as coisas como simples e puras vibrações de luz e cor.
A matéria perdia suas características de estrutura, solidez, forma e peso, para
dissolver-se, diafanizando-se feèricamente, às vezes, em verdadeiras névoas irisadas."
Cezanne procurou reagir a esta
destruição da forma dos objetos. Supera, assim, a sensação visual imediata,
substituindo-a por um conceito, uma ideia permanente e eterna da natureza.
Queria fazer uma arte construída, estruturada, digna dos museus, e não um
espetáculo fugidio de luminosidade e cor. Para ele, o mundo físico era o
símbolo do mundo espiritual e as descobertas de seus antecessores foram
aproveitadas e aperfeiçoadas no sentido da forma, de uma composição equilibrada
racionalmente. (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, editora Agir, 1966)
*Fotos
da internet
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segunda-feira, 12 de março de 2018
ARTE E MEDITAÇÃO II
Os artistas,
despertando a intuição, muitas vezes se assemelham aos místicos. Nos momentos
de inspiração, quando a mente se aclara num relâmpago e as ideias jorram
espontâneas, sem medidas impostas pela razão, percebemos também o encontro com
a realidade interna procurada pelos yoguis.
Meditação e criatividade são formas
de descoberta interior. Meditamos de certo modo quando nos empenhamos num
trabalho de arte, despertando energias desconhecidas.
O artista, quando cria,
traz à tona não somente o que está em seu inconsciente, mas reflete o
inconsciente coletivo, universal. Segundo Jung, “O segredo da criação e da
eficácia artística consiste em mergulhar de novo no estado original de
participação mística”.
Realmente, o impulso místico que levantou as catedrais
da França, os templos de Bangkok e da Índia, que esculpiu a serenidade dos
Budas e a expressividade dos santos barrocos, não poderia faltar em nossa
civilização. A sensibilidade espiritual do homem coloca-o num plano de
comunicação universal. O poeta, o músico, o artista plástico, o arquiteto,
quando mergulham em planos mais sutis, encontram a claridade que ilumina todos
os homens.
O exercício da
criatividade é a forma de encontro do ser humano consigo mesmo. A realidade
interna que podemos também denominar de intuição não está lá fora, mas dentro
de nós. Gandhi referiu-se a ela como voz interior. Procurou escutá-la na
meditação e trazer à tona a sabedoria que estava mergulhada no silêncio. Este
despertar da intuição não é uma fuga, mas o encontro com a verdadeira realidade
- aquela que ultrapassa as fronteiras do tempo e se projeta no infinito.
O desenvolvimento de
todas as potencialidades humanas no campo espiritual é uma necessidade no mundo
de hoje e está ao alcance de qualquer um. O encontro do ser humano consigo
mesmo, seja através da meditação, da arte ou do trabalho, constitui forma de
equilíbrio indispensável para a sua integração.
O homem total é aquele em que
corpo e alma se harmonizam. Nosso contato com as forças eternas, que pertencem
à natureza e aos seres vivos, não depende do que somos, de onde nascemos e nem
dos meios de comunicação modernos; não depende do dinheiro, da fama, da
instrução, nem da publicidade.
Os anseios do homem são os mesmos, quando eles
se voltam para o seu interior à procura da claridade que liberta. Variam apenas
os condicionamentos que mudam os aspectos exteriores; variam os caminhos, mas a
finalidade é a mesma: o despojamento do supérfluo e o encontro com a verdadeira
sabedoria.
Fotos da
internet
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segunda-feira, 5 de março de 2018
ARTE E MEDITAÇÃO I
Na Índia, ao longo da
estrada, as casas são pobres e o povo se aglomera para ver o ônibus passar.
Vendem pulseiras, colares e leques rendados.
Indianos mais velhos carregam os
colchões para frente das casas e deitam-se à beira da estrada. Procuro um lugar
distante de todos e deixo a paisagem desfilar diante de meus olhos. O verde dos
campos faz-me recordar outros verdes; a luz do sol é a mesma que ilumina o
Brasil tão longe.
A paisagem chega a se assemelhar às fazendas mineiras
trabalhadas à enxada. Sinto saudades das montanhas que não vejo.
Os arredores
de Nova Déli e Agra são planos sem acidentes geográficos; parecem mais o norte
de Minas junto à Bahia.
As montanhas existem, lá longe, no norte da Índia. Não
posso vê-las, mas imagino-as cobertas de neve como os Andes que eu vi em um dia
e nunca mais me esqueci. Lá no alto, os yoguis pedem paz e pureza para o mundo.
Afastam-se da sociedade recolhendo-se ao abrigo das montanhas, mas no silêncio
da meditação procuram também o contato com o mundo, suas percepções tornam-se
mais sutis. Embora pareçam alienados da convivência humana, são justamente eles
que mais penetram da existência real.
A meditação permite ao homem libertar sua
mente de ideias preconcebidas, colocando-o em contato com o Eu Real que habita
em nós, aquele que responde por nossas ideias mais claras. “Quem sou eu?” é a
pergunta dos seguidores de Ramana Maharishi, o sábio silencioso da montanha
Arunachala.
Lembro-me dos livros do jornalista inglês Paul Bruton e de suas
viagens ao oriente. Através do seu livro
“A Índia Secreta”, muita gente
tem se encontrado.
O desenvolvimento interior do homem, de suas potencialidades
espirituais, possibilita uma comunicação com nosso semelhante de forma direta,
sem auxílio da palavra.
*Fotos de Maria Helena
Andrés e da internet
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