Recebi esta
carta da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), convidando para a
cerimônia de entrega dos prêmios aos artistas, críticos e curadores que se
destacaram em 2016.
Transcrevo
abaixo a carta que me enviaram.
Cara Maria Helena
Andrés,
Foi com muita tristeza
que recebemos a notícia de que não poderás ir a cerimônia de entrega do prêmio
Destaques ABCA, receber o troféu que te corresponde. Seria uma oportunidade de que
muita gente do Brasil conhecesse pessoalmente esta artista de 94 anos, tão
ativa e produtiva, um modelo para todos nós.
Não te respondi antes,
pois estive muito atrapalhada com mil coisas de uma exposição seminário e livro
de comemorações dos 25 anos do PPG Artes Visuais da UFRGS.
Um grande abraço
Maria Amelia Bulhões.
Como não foi possível comparecer, enviei para ela a
carta abaixo.
Prezada
Maria Amélia ,
Sua
carta, muito afetuosa, me comoveu profundamente. A minha presença em São Paulo
durante a homenagem seria para mim um motivo de glória. Ali eu poderia
encontrar amigos, conhecer pessoas brilhantes que também estarão recebendo esta
importante premiação.
Estarei
ausente, mas, muito perto de vocês neste momento. Devido a minha idade, muitas vezes não posso
estar presente às comemorações, mas tenho certeza que minha filha Marília me
representará e ao Instituto Maria Helena Andrés, da qual é presidente.
Agradeço
de coração a todos aqueles que me julgaram merecedora deste prêmio e gostaria
de recebê-los aqui em Belo Horizonte a fim de trocarmos ideias sobre arte. Meu
Instituto está localizado em Brumadinho muito próximo a Inhotim.
Lembro-me
das mudanças ocorridas no Brasil com o impacto da Primeira Bienal de São Paulo.
Formávamos em Belo Horizonte um grupo independente de artistas ligado a São
Paulo e constituímos a vanguarda das artes em Minas.
Aprendi
muito com as grandes mostras internacionais e a possibilidade de visualizar de
perto exposições retrospectivas de Picasso, Klee, Kandinsky, Mondrian, Braque,
Matisse e muitos outros. Todas elas constituem o meu acervo de memórias e
vivências inesquecíveis.
Meus
amigos daquela época, que buscavam uma nova linguagem nas artes do Brasil, já
não estão aqui. Lembro-me dos encontros promovidos por Milton da Costa e Maria
Leontina. Devo a eles incentivo e apoio às mudanças direcionadas para a arte
construtiva. O grupo de Minas, herdeiro do mestre Guignard, buscava uma
linguagem nova, na ruptura do figurativo para o abstrato.
Para
uma artista residente nas montanhas, afastada geograficamente do eixo Rio/São Paulo, a possibilidade de
percorrer as grandes mostras da Bienal e participar das palestras de Mario
Pedrosa, Lourival Gomes Machado e vários outros críticos e pensadores, foi fundamental
e gratificante. Eu sempre voltava para Minas muito enriquecida e isto promovia
mudanças na minha arte.
Aos
conhecimentos aprendidos eu incorporava o fazer artístico paciente e ininterrupto.
Registrava, em folhas de papel e em cadernos hoje amarelecidos pelo tempo, o
meu itinerário de artista. Até hoje eles existem e já se transformaram em
esculturas e colagens, recordando a fase construtiva.
Todas
essas anotações estão sendo registradas num filme organizado pelo Instituto
Maria Helena Andrés em parceria com a UFMG. Este filme é um relato da minha
trajetória e convido a todos para assisti-lo em breve.
Também
estendo meu abraço afetuoso a todos que estão recebendo homenagens e prêmios
nessa grande celebração.
Abraços,
Maria
Helena Andrés.
*Fotos
de Manuel Rolim Andrés, Eliana Andrés e do arquivo da ABCA
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