Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
segunda-feira, 24 de julho de 2017
FORO ÍNTIMO, UM FILME DE RICARDO MEHEDFF
O drama
Se desenrola
Com poucas palavras.
Cinema é imagem
Em movimento.
É luz e sombra
É expressão facial
É respiração.
O juiz procura
Um médico.
O coração bate.
São noites de insônia.
Tudo isto vai sendo passado
Na tela.
É a vida
Daquele que vai
Julgar,
Que vai decidir o
Destino de alguém.
Vou descobrindo o drama
Através das imagens.
Isto me faz lembrar
O cinema mudo.
As lentes do cineasta
Vão descobrindo
Formas geométricas
No telhado.
Depois vem a luz.
Há o passo vagaroso
Em busca de mais luz
Um corredor à frente a percorrer.
É preciso julgar.
Todo julgamento é difícil
Penoso.
O filme nos mostra
Sem diálogos
Sem palavras
Apenas com a intensidade
Da música
A intensidade da sombra
A intensidade da luz
O drama da vida.
Muitas vezes somos juízes.
(eu detesto fazer parte de júri)
Escolher o melhor quadro
Gera conflitos, ansiedades
Que não existiam antes.
É a melhor forma de
Ganhar inimigos.
Este juiz está me fazendo recordar
As vezes em que tive de julgar em Salões.
Fiquei ansiosa no cinema
Mas este filme
Consegue comover o espectador
Porque é direto, sem artifícios.
Não tem cenários espetaculares
Nem recursos extraordinários.
Ele retrata a vida
E a vida é direta e simples.
A vida pertence a todos nós.
*Fotos de Ricardo Mehedff
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segunda-feira, 17 de julho de 2017
GUERNICA, 80 ANOS
80 anos de Guernica
E o mundo
Continua violento.
Uma cidade foi
Destruída na Espanha.
Virou notícia na época
E a Guernica se
Eternizou com
Picasso.
A arte se uniu à
Política
Testemunhou
A violência
E continuou
Na força expressiva
Da própria arte.
Não precisou de
Palavras,
de adesão
A grupos
De manifestos.
A própria arte
Carrega em si
A energia propulsora
Que espalha a denuncia
Sem palavras.
Apenas o gesto
As cores
Os braços levantados
Pedindo socorro
As mães
Chorando
Pelos filhos mortos.
Guernica está viva.
Não precisa dizer
Nada
Só olhar
Sentir
Compartilhar o sofrimento
Do mundo
80 anos atrás.
Picasso criou
A Guernica
E ela está viva
Até hoje.
E continuará
Viva através
Dos séculos.
Picasso enxergou a
Agonia do mundo
Ultrapassou o
Problema local
Da Espanha.
Guernica.
Esta palavra nos
Remete ao passado
Está viva no presente
E se projeta para o
Futuro como uma
Os clamores da Guernica
Estão aí
Nos refugiados
No medo da morte
Na fome
Nos oprimidos.
Ao abrir o jornal de
Cada dia
Enquanto tomamos
Café, vamos lendo outras
Guernicas
Se espalhando
Pelo mundo.
No meu entorno
O dia amanheceu
Em paz.
Guerra e paz
São palavras
Que movem ideias.
*Fotos da internet
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segunda-feira, 10 de julho de 2017
PRÊMIO ABCA – 2016
Recebi esta
carta da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), convidando para a
cerimônia de entrega dos prêmios aos artistas, críticos e curadores que se
destacaram em 2016.
Transcrevo
abaixo a carta que me enviaram.
Cara Maria Helena
Andrés,
Foi com muita tristeza
que recebemos a notícia de que não poderás ir a cerimônia de entrega do prêmio
Destaques ABCA, receber o troféu que te corresponde. Seria uma oportunidade de que
muita gente do Brasil conhecesse pessoalmente esta artista de 94 anos, tão
ativa e produtiva, um modelo para todos nós.
Não te respondi antes,
pois estive muito atrapalhada com mil coisas de uma exposição seminário e livro
de comemorações dos 25 anos do PPG Artes Visuais da UFRGS.
Um grande abraço
Maria Amelia Bulhões.
Como não foi possível comparecer, enviei para ela a
carta abaixo.
Prezada
Maria Amélia ,
Sua
carta, muito afetuosa, me comoveu profundamente. A minha presença em São Paulo
durante a homenagem seria para mim um motivo de glória. Ali eu poderia
encontrar amigos, conhecer pessoas brilhantes que também estarão recebendo esta
importante premiação.
Estarei
ausente, mas, muito perto de vocês neste momento. Devido a minha idade, muitas vezes não posso
estar presente às comemorações, mas tenho certeza que minha filha Marília me
representará e ao Instituto Maria Helena Andrés, da qual é presidente.
Agradeço
de coração a todos aqueles que me julgaram merecedora deste prêmio e gostaria
de recebê-los aqui em Belo Horizonte a fim de trocarmos ideias sobre arte. Meu
Instituto está localizado em Brumadinho muito próximo a Inhotim.
Lembro-me
das mudanças ocorridas no Brasil com o impacto da Primeira Bienal de São Paulo.
Formávamos em Belo Horizonte um grupo independente de artistas ligado a São
Paulo e constituímos a vanguarda das artes em Minas.
Aprendi
muito com as grandes mostras internacionais e a possibilidade de visualizar de
perto exposições retrospectivas de Picasso, Klee, Kandinsky, Mondrian, Braque,
Matisse e muitos outros. Todas elas constituem o meu acervo de memórias e
vivências inesquecíveis.
Meus
amigos daquela época, que buscavam uma nova linguagem nas artes do Brasil, já
não estão aqui. Lembro-me dos encontros promovidos por Milton da Costa e Maria
Leontina. Devo a eles incentivo e apoio às mudanças direcionadas para a arte
construtiva. O grupo de Minas, herdeiro do mestre Guignard, buscava uma
linguagem nova, na ruptura do figurativo para o abstrato.
Para
uma artista residente nas montanhas, afastada geograficamente do eixo Rio/São Paulo, a possibilidade de
percorrer as grandes mostras da Bienal e participar das palestras de Mario
Pedrosa, Lourival Gomes Machado e vários outros críticos e pensadores, foi fundamental
e gratificante. Eu sempre voltava para Minas muito enriquecida e isto promovia
mudanças na minha arte.
Aos
conhecimentos aprendidos eu incorporava o fazer artístico paciente e ininterrupto.
Registrava, em folhas de papel e em cadernos hoje amarelecidos pelo tempo, o
meu itinerário de artista. Até hoje eles existem e já se transformaram em
esculturas e colagens, recordando a fase construtiva.
Todas
essas anotações estão sendo registradas num filme organizado pelo Instituto
Maria Helena Andrés em parceria com a UFMG. Este filme é um relato da minha
trajetória e convido a todos para assisti-lo em breve.
Também
estendo meu abraço afetuoso a todos que estão recebendo homenagens e prêmios
nessa grande celebração.
Abraços,
Maria
Helena Andrés.
*Fotos
de Manuel Rolim Andrés, Eliana Andrés e do arquivo da ABCA
segunda-feira, 3 de julho de 2017
O BRANCO DO MUNDO
“Bem vindo ao Teatro Nossa Senhora das Dores. Quem
roubou o branco do mundo?”
Uma turma de crianças sai na maior algazarra, outros
entram.
Sentamos no fundo, atrás das crianças. Esta peça já
viajou, percorreu cidades no Brasil e foi montada em Portugal. A peça foi
escrita por Luciano Luppi há 32 anos atrás, e nesta montagem do grupo Aldeia
Comunicação e Arte tem um elenco composto por 8 atores.
A peça começa com a participação de todas as
crianças. O diretor Paulo Lobo, ao microfone, indaga: “Quem roubou o branco do
mundo?”
As crianças fazem silêncio aos poucos, as luzes se
apagam e as cortinas vão se abrindo. Todos cantam.
Vejo um grande painel com biombos coloridos. Cada
biombo representa uma cor e as cores se movem. Os personagens também são cores.
Da última fileira vou apreciando o movimento das cores e das crianças,
Carlinhos e Duda, em busca do branco. O branco do mundo desapareceu. Quem
roubou o branco do mundo? Em torno desta busca a peça se desenrola. Cores
diversas se movimentam, cantam, dançam, sobem e descem dos blocos de cores
colocados no chão. Estão numa fábrica de tintas e competem umas com as outras
em busca do sucesso.
Há dois personagens principais, os outros são cores
em forma de gente, gente em forma de cores.
Às vezes vejo o Oriente nos leques, nos biombos, nas
sombrinhas. Apenas vejo e sinto a beleza e a leveza da peça. Cantam os atores,
canta a plateia, as crianças participam, vibram, ninguém sabe onde está o
branco.
No centro do palco, um círculo mostra o famoso disco
de Newton com todas as cores. O disco deve rodar para mostrar aos jovens, de
forma criativa, uma das descobertas da ciência. De acordo com a velocidade, as
cores vão desaparecendo, para surgir o branco. Na realidade, todas as cores
contêm o branco. É só rodar o disco para ver.
Quando as cores enxergam o branco
no disco de Newton, elas compreendem que o branco é luz e não pigmento. E que
cada uma tem a sua luz interna. É só se darem as mãos para voltar a existir o
branco, para voltar a paz e a harmonia.
Se as cores
nos chegam
em forma
de dores
Por que lamentar?
Coloque essas
Cores
No disco
De Newton
E deixe
Girar.
E gire.
Girando
A dor
Vai passar.
*Fotos de arquivo
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