segunda-feira, 12 de junho de 2017

UMA PEQUENA HISTÓRIA DE VIDA E ARTE II


Dando continuidade a esta pequena história, revejo quadros  da minha trajetória artística expostos nas paredes da casa do Maurício.

Em um dos quartos há uma “Via Sacra”, que foi um projeto para a ermida da Serra da Piedade; em outro um quadro da minha fase de astronautas.
Representando a fase construtivista, vejo nas paredes da sala uma das minhas “Cidades Iluminadas”, pintado em 1955 e que já correu Salões no Rio de Janeiro e Bienais em São Paulo. Essa fase é atualmente muito solicitada, procurada por colecionadores e marchands.

Olhando para outro quadro, lembro-me da minha fase de astronautas, exposta no Rio de Janeiro em 1969, no mesmo dia em que o Homem pisava pela primeira vez na Lua. Fui procurada naquela ocasião por diversos jornalistas que indagavam como eu poderia ter pintado paisagens lunares muito antes delas aparecerem na televisão. Vejo nesse quadro um foguete sendo lançado e uma nave espacial cheia de habitantes, em busca de outras “Terras”. Eu ouvia naquela época, incessantemente, as músicas de Frank Sinatra. Um dia cansei de tanto repetir o esmo LP e decidi colocar Frank Sinatra dentro de uma nave espacial para cantar em outros planetas...

Na sala há também um quadro da minha fase de “Mandalas”, todo em rosa. Os meus quadros de Mandalas foram feitas para finalizar todas as fases. Mandala sempre representa um círculo em que todas as faces são iguais. É um símbolo de integração, e  eu, naquela época, estava integrando todas as minhas fases, para começar a pintar em grandes espaços. Os painéis surgiram exatamente depois das Mandalas. Mandala é um símbolo cósmico muito usado pelos orientais em suas meditações. Os cristãos também adotam a forma circular, nos vitrais de Chartres,  Notre Dame e vários outros.

Há também na sala desta casa um desenho grande representando um veleiro. Minha fase de “Barcos” durou muitos anos e me incentivou a realizar minhas viagens pelo mundo. Meus desenhos gestuais nasceram daquele gesto espontâneo, feito sem nenhuma premeditação. Foram uma consequência dos meus primeiros “veleiros”, desenhados sobre papel veludo, com a quina do carvão para obter transparências. Muitas vezes, em minhas viagens, foram desenhados em cima do meu próprio colchão de dormir ou sobre o tapete do meu quarto de hotel. Fiz uma série deles nos EUA e continuei essa série no Brasil, substituindo o carvão pela esponja de pedreiro ou pelo escovão da faxineira.

O meu passado foi muito prazeroso, eu sempre gostei de pintar.

Pintei a vida toda, até que a tinta passou a me perturbar.

Hoje faço colagens, não uso mais tinta. Não preciso de fazer esforço para pintar grandes espaços, reduzi o tamanho dos quadros, não uso tintas e pincéis, só a tesoura e a cola. Matisse também, depois de certa idade, passou a fazer colagens. O importante é estar sempre ocupada, sempre produzindo algo novo, ao sabor do momento. Foram vários momentos variados como a vida, seguindo o próprio caminho, registrando histórias. Cada quadro guarda uma memória diferente e agora, aos 94 anos, consigo me lembrar do que eu sentia na ocasião em que pintava cada quadro.

São experiências, registros da minha passagem pelo Planeta, em busca de um caminho.
Arte e Vida andam juntas, sempre andaram, não é necessário fazer performances demonstrando que a arte e a vida são uma coisa só, é impossível separá-las. Minha vida de artista está registrada na arte, nas paredes e nos muros, nas tapeçarias.
Em 2000 houve um ponto de mutação na minha arte, que saiu das paredes buscando uma terceira via, a via tridimensional. Saíram para o 3D com ajuda do computador. Hoje ganham formas arredondadas, projetadas no papel em tiras coloridas.

O importante é seguir o próprio caminho. Vou seguindo o meu itinerário até que Deus me chame para outra dimensão. A arte é uma das maiores formas de sentirmos felicidade aqui na Terra. Registrando sentimentos vamos seguindo pela vida. Até quando? Não sei.

*Fotos de Maurício Andrés Ribeiro

VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.



Um comentário:

  1. E sua arte, traços de tantas lembranças, enfeita e alegra a nossa casa!

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