Dando continuidade a esta pequena história, revejo
quadros da minha trajetória artística
expostos nas paredes da casa do Maurício.
Em um dos quartos há uma “Via Sacra”, que foi um
projeto para a ermida da Serra da Piedade; em outro um quadro da minha fase de
astronautas.
Representando a fase construtivista, vejo nas
paredes da sala uma das minhas “Cidades Iluminadas”, pintado em 1955 e que já
correu Salões no Rio de Janeiro e Bienais em São Paulo. Essa fase é atualmente
muito solicitada, procurada por colecionadores e marchands.
Olhando para outro quadro, lembro-me da minha fase
de astronautas, exposta no Rio de Janeiro em 1969, no mesmo dia em que o Homem
pisava pela primeira vez na Lua. Fui procurada naquela ocasião por diversos
jornalistas que indagavam como eu poderia ter pintado paisagens lunares muito
antes delas aparecerem na televisão. Vejo nesse quadro um foguete sendo lançado
e uma nave espacial cheia de habitantes, em busca de outras “Terras”. Eu ouvia
naquela época, incessantemente, as músicas de Frank Sinatra. Um dia cansei de
tanto repetir o esmo LP e decidi colocar Frank Sinatra dentro de uma nave
espacial para cantar em outros planetas...
Na sala há também um quadro da minha fase de
“Mandalas”, todo em rosa. Os meus quadros de Mandalas foram feitas para
finalizar todas as fases. Mandala sempre representa um círculo em que todas as
faces são iguais. É um símbolo de integração, e
eu, naquela época, estava integrando todas as minhas fases, para começar
a pintar em grandes espaços. Os painéis surgiram exatamente depois das
Mandalas. Mandala é um símbolo cósmico muito usado pelos orientais em suas
meditações. Os cristãos também adotam a forma circular, nos vitrais de
Chartres, Notre Dame e vários outros.
Há também na sala desta casa um desenho grande
representando um veleiro. Minha fase de “Barcos” durou muitos anos e me
incentivou a realizar minhas viagens pelo mundo. Meus desenhos gestuais
nasceram daquele gesto espontâneo, feito sem nenhuma premeditação. Foram uma
consequência dos meus primeiros “veleiros”, desenhados sobre papel veludo, com
a quina do carvão para obter transparências. Muitas vezes, em minhas viagens,
foram desenhados em cima do meu próprio colchão de dormir ou sobre o tapete do
meu quarto de hotel. Fiz uma série deles nos EUA e continuei essa série no
Brasil, substituindo o carvão pela esponja de pedreiro ou pelo escovão da
faxineira.
O meu passado foi muito prazeroso, eu sempre gostei
de pintar.
Pintei a vida toda, até que a tinta passou a me
perturbar.
Hoje faço colagens, não uso mais tinta. Não preciso
de fazer esforço para pintar grandes espaços, reduzi o tamanho dos quadros, não
uso tintas e pincéis, só a tesoura e a cola. Matisse também, depois de certa
idade, passou a fazer colagens. O importante é estar sempre ocupada, sempre
produzindo algo novo, ao sabor do momento. Foram vários momentos variados como
a vida, seguindo o próprio caminho, registrando histórias. Cada quadro guarda
uma memória diferente e agora, aos 94 anos, consigo me lembrar do que eu sentia
na ocasião em que pintava cada quadro.
São experiências, registros da minha passagem pelo
Planeta, em busca de um caminho.
Arte e Vida andam juntas, sempre andaram, não é
necessário fazer performances demonstrando que a arte e a vida são uma coisa
só, é impossível separá-las. Minha vida de artista está registrada na arte, nas
paredes e nos muros, nas tapeçarias.
Em 2000 houve um ponto
de mutação na minha arte, que saiu das paredes buscando uma terceira via, a via
tridimensional. Saíram para o 3D com ajuda do computador. Hoje ganham formas
arredondadas, projetadas no papel em tiras coloridas.
O importante é seguir o próprio caminho. Vou
seguindo o meu itinerário até que Deus me chame para outra dimensão. A arte é
uma das maiores formas de sentirmos felicidade aqui na Terra. Registrando
sentimentos vamos seguindo pela vida. Até quando? Não sei.
*Fotos de Maurício Andrés Ribeiro
VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”,
CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
E sua arte, traços de tantas lembranças, enfeita e alegra a nossa casa!
ResponderExcluir