segunda-feira, 19 de junho de 2017

ESCUTAR O CORPO

Dizem que a casa
É o corpo
Outros falam
Que o corpo é a casa.
Eu simplesmente
Paro
E escuto a voz do meu corpo.
Ele fala de mansinho
Ninguém escuta
Mas eu sinto
O desconforto
De uma tinta
Já mudei do óleo
Para o acrílico
Cortei a cor.
Cortei o gesto agressivo
Movido pela emoção
De sentir coisas
Erradas acontecendo
Ou o gesto vagaroso
Sensual ou sensível
De madrugadas violetas
Das flores se abrindo
Dos poentes vermelhos
Laranjas, rosas, verde bem claro
Azul violeta, amarelos
Cidades imaginárias
Castelos nas nuvens.
O corpo sente, se emociona
E chora
(Escuto a voz da Ivana cantando
 “Solamente una vez”
E me lembro do Luiz
Ele incentivava os filhos
A serem artistas
E todos são artistas)
Volto ao corpo
Ao ouvir a música do filho e do neto
A flauta chega aos ouvidos
Chega aos olhos
Chega às mãos
A tinta entra pelas
Unhas, entra no corpo
O amarelo cádmio
Azul de cobalto
Cores venenosas.
Meu corpo sentiu
Parei de usar cores
Entrei na dieta do
Preto e branco
Que era mais fácil
Mais direta.
A emoção chegava
Diretamente vinda do
Pincel ou da esponja.
Esponja de pedreiro
Escovão de faxineira.
Entrei para uma
De dona de casa e artista.
Pincéis?
Nunca mais!
Apenas o preto e o branco.
Lembrei-me da minha
Fase de papel veludo
Sempre pintada nas
Viagens pela América.
Fizeram tanto sucesso!
Acabaram com o tempo...
Agora ressurgiram de outra forma
Pintar com esponjas
É mais direto, mas a
Tinta entra pelos dedos.
Meus dedos doem
Meu corpo dói.
“O corpo fala”, dizia
Pierre Weil.
Sim, o corpo fala
Já dói nas costas
Os dedos sentem.
Parar de pintar?
Não.
Parar de usar tintas
Que poluem.
Voltar aos tempos do
Desenho em nanquim
Nos pequenos cartões.
Vou me distraindo e o tempo vai passando.
Vou desenhando sem parar
Tudo pequeno
Distribuo os desenhos.
Não vendi nenhum!
Volto aos tempos
Em que eu desenhava
Sem parar
Seguindo simplesmente
O desejo de criar.
De repente percebo que as
Mãos doem, as costas também.
Vou ter que parar?
Nunca!
Vou fazer outras coisas
Com as mãos
Pobres mãos...
Não podem ficar à toa
Contemplo as montanhas
Olho a paisagem
É a minha forma de
Meditar – ver, observar, sentir
Depois volto ao trabalho.
Só uso papel.
Sinto falta das cores
Uso papel colorido
Deixei os pincéis, as esponjas
As tintas.
Agora é a tesoura e o
Papel
Só recorto e colo.
Às vezes faço esculturas de papel
Brancas, pretas, coloridas.
Vou produzindo.
Quando canso, descanso.
Assim é a vida.
Sentir o corpo
Ele fala conosco
“body talk”
Não é que dá certo?
O corpo fala, adivinha, alerta.
Escuto a voz do corpo, é sempre a direção
Mais certa.
As mudanças não
Importam, acontecem.
A vida é uma constante mudança
Vou seguindo a voz
Do corpo até um dia
Parar.

*Fotos de arquivo

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Um comentário:

  1. Artista craque é assim: ocorpo leva pra lá, a criatividade vai. Pra cá, ela também vem. Não pode ser assim, então será de outro modo. Não tem fim. É tudo é bom, tudo é bonito!

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