Estou descansando na casa do meu filho Maurício, em
Brasília, revisitando o meu itinerário artístico. A minha primeira fase ali
está, distribuída nas paredes da sala. Vejo em minha frente o primeiro barco,
pintado em 1944, há 80 anos atrás!
Os anos foram passando mas os temas dos meus quadros
se repetem, se transformam, retratam uma época feliz, as paisagens do mar, da
cidade e da zona rural, uma constante em meu itinerário.
O barco simboliza
viagens e eu, desde aquele tempo, já antecipava minhas viagens. Muitos quadros
dessa primeira fase ficaram na fazenda da Barrinha, onde tive um atelier rural
na década de 60. Me lembro do dia em que meu cunhado Camil Caram veio me
entregar este pequeno barco.
“Este quadro é histórico, deve ficar com um dos seus
filhos”.
Realmente, ele está muito bem guardado com Maurício
e Aparecida. Bem guardado e bem situado.
Logo em seguida vou percorrendo nas
minhas lembranças outro quadro, pintado na mesma época. É uma lembrança do meu
quarto de solteira. Da minha janela eu registrei nesse quadro a paisagem que eu
via em minha frente, a cidade de Belo Horizonte em 1944. Naquela época não
existiam prédios altos em BH. Vejo no quadro um pedaço do Colégio Sagrado
Coração de Jesus, telhados e mais telhados, o Colégio Padre Machado, muitas
árvores e o céu de Minas se estendendo sobre as casas. Eu pintava paisagens e
marinhas, depois voltava para o atelier da Escola no parque para pintar a nossa
sala de aula com os alunos e alunas trabalhando. Guignard tinha uma assistente,
Edith Bhering e eu consegui retratá-la atrás de uma aluna, corrigindo um
quadro. Um voo pelo passado me reconduz ao tempo em que eu frequentava a escola
e estava me libertando do academismo, para abraçar o modernismo.
Eu estudava na Escola Guignard quando conheci meu
marido Luiz Andrés. Ele gostava de arte, antes de me conhecer conheceu meus
quadros numa exposição. Naquela exposição, Luiz estava em companhia de seu
amigo, o professor de filosofia, padre Orlando Vilela que naquela ocasião
escrevia sobre arte. Seu livro,
“Realidade e Símbolo”, baseado nas ideias de Jacques Maritain era o meu livro
de cabeceira da época, bem como “Cartas a um jovem poeta” de Rainer Maria
Rilke.
Quando nos conhecemos, estudávamos juntos a
filosofia de Maritain, assim como os poemas de Rabindranath Tagore, Paul
Claudel e Murilo Mendes. Desde essa época, acompanhada por Luiz e sua irmã,
Lourdes Resende, comecei a refletir sobre Arte e Espiritualidade. Dali nasceram
os primeiros capítulos do meu livro “Vivência e Arte”, editado pela Agir em
1966. Naquela ocasião, eu participava de um grupo de jovens católicos chamado
“Grupo da Vigília”, onde me convidaram para fazer palestras sobre Arte e
Espiritualidade.
Depois de casada passei a frequentar a fazenda do meu
sogro, perto de Entre Rios de Minas. Paisagens do interior, com festas juninas,
casamento na roça e vários motivos rurais vieram povoar o meu imaginário de
artista.
A alegria e a descontração de uma festa junina
serviu de inspiração para outro quadro, que estou vendo na mesma sala.
Guignard gostava de festas juninas, balões voando
pelo céu. A minha festa junina é um registro de festas populares muito comuns
no interior.
As crianças me acompanhavam enquanto eu pintava e
algumas vezes eram incluídas nos meus quadros. Gostavam de brincar no fundo do
quintal com as galinhas e os cachorros da fazenda.
*Fotos de Maurício Andrés Ribeiro
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Ótimos quadros, ótimas memórias!
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