Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
terça-feira, 25 de abril de 2017
PROFESSORA EMÉRITA DA ESCOLA GUIGNARD
No dia 19 de abril de 2017 recebi o título de
professora Emérita da Escola Guignard em solenidade no Auditório da Escola.
Emocionante sentir o carinho com que fui recebida, o entusiasmo e alegria de
seu jovem diretor Adriano Gomide. A vice diretora Lorena me entregou um buquê
de flores, previamente composto tendo como referência um quadro de Guignard.
Eu olhava para aquelas flores, de cores variadas,
com um girassol à frente, exatamente como a tela do mestre e me lembrava da
alegria e espontaneidade de Guignard, transmitindo a seus alunos o seu
entusiasmo pela arte. O importante não era seguir o mestre copiando suas telas,
mas com o seu incentivo, descobrir o próprio caminho. Desvendar a beleza dos
céus de Minas, descobrir anjos e guerreiros nas nuvens, observar os muros
velhos, as pedras, as sombras que desenham novas formas. Sob sua orientação
pude me libertar de minha formação acadêmica, para me abrir para um itinerário
próprio, mais condizente com o meu temperamento.
Recebi a homenagem pelos serviços prestados à
cultura de Minas Gerais, assim estava escrito no diploma. Ladeada pelo
representante do reitor da Universidade de Minas e do diretor da Escola, tendo
também ao meu lado minha filha Marília Andrés, presidente do IMHA (Instituto
Maria Helena Andrés), participei da entrega solene do diploma.
O momento mais emocionante aconteceu quando cantamos
de pé o Hino Nacional, pois senti que o hino é uma forma de unir todos numa só
vibração.
Em seguida Adriano Gomide subiu até um pequeno
púlpito destinado aos congressistas e disse palavras que merecem toda a minha
gratidão.
Era necessário que eu também falasse, e pronunciei
ali um improviso, lembrando a criação da escola, considerada a vanguarda
mineira da época, e o título dado à Guignard pelos intelectuais do Rio de
Janeiro e São Paulo, como o melhor professor de arte do Brasil. Os fatos do
passado nos conduzem a um início que merece ser lembrado.
“Guignard reviveu de maneira quase única o antigo
mestre, figura desaparecida nos tempos modernos. Atualmente, o ensino se
distribui em diversas cátedras, com horários marcados e contato reduzido do
professor com os alunos. Anteriormente às academias de Belas Artes, o mestre -
fosse ele filósofo ou artesão - trabalhava lado a lado com seus aprendizes e a
eles se misturava, sem preocupação de superioridade, desejando apenas
transmitir experiências. Assim foi Guignard, o mestre moderno, que ensinava uma
arte de vanguarda, não ditava leis, mas fazia o aluno descobrir o equilíbrio e
a proporção no próprio trabalho, sem demonstrações dogmáticas (...) Mais do que
ninguém, Guignard conseguia vislumbrar a coisa nova, a individualidade que se
revela na variedade de temperamentos humanos, agora estudados com grande
interesse à luz da psicologia moderna. Observações feitas à margem de um
catálogo, referindo-se às tendências de cada aluno em particular, revelam esse
senso profundo para descobrir vocações e conhecer temperamentos.” (Trecho do
meu livro “Os Caminhos da Arte”, Editora COM/ ARTE, 2015)
A Escola passou por momentos de grande pobreza, mas a
chama do entusiasmo continuou através das gerações. Agora temos um prédio
maravilhoso no alto das Mangabeiras, com vista para a cidade de Belo Horizonte.
Lembrei a generosidade de Priscila Freire doando seu
sítio na Pampulha para ser acrescentado ao patrimônio da Escola.
No momento a escola que pertence à UEMG (Universidade
estadual de Minas Gerais) abriga 500 alunos e esperamos que a criatividade do
mestre Guignard seja um ponto luminoso que nunca será esquecido.
Em seguida ao meu discurso, textos do meu livro “Os
Caminhos da Arte” referentes ao mestre Guignard, foram lidos por Ivana Andrés.
Houve um pronunciamento sobre arte na educação feito pelo
representante do reitor e para terminar, uma apresentação de música pelos
flautistas Artur e Alexandre Andrés.
Escutar com atenção os flautistas interpretando uma
página de Schultze, foi realmente um final maravilhoso para a solenidade.
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segunda-feira, 17 de abril de 2017
PINTURA E FOTOGRAFIA
A
passagem da pintura para a fotografia de paisagens, do desenho linear para as
esculturas tridimensionais, não foram saltos no meu caminho, mas transições
naturais, um deslocamento espontâneo de fases anteriores, sem quebrar o ritmo
do passado, mas situando-se corajosamente no presente, no aqui e agora.
Arte
e vida são companheiras inseparáveis e a minha vida foi mudando da necessidade
das grandes viagens, ao cotidiano, a me situar no meu dia a dia, no meu em
torno. Agora vejo as montanhas que se estendem a perder de vista da minha
janela, o raio de sol que penetra dentro de casa e desenha formas geométricas
sobre a mesa.
Parti
da necessidade de me expressar com tintas e pinceis, do meu desejo lírico de transmitir
em cores, nuances, pinceladas fortes ou esponjadas transparentes, tudo aquilo
que eu via fora e correspondia ao que eu sentia naquele momento.
“É
preciso ver muitas cidades, e coisas” nos dizia Rilke em cartas a um jovem
poeta. Tendo como bandeira essa necessidade interior de viajar, conhecer outros
povos, dediquei grande parte da minha vida a pesquisar o mundo, falar outras
línguas, criar novas amizades. Buscava conhecer o todo, para voltar ao meu
país, a minha região montanhosa, à minha casa. Atualmente viajo pela internet, onde
tenho dois blogs.
Hoje
continuo o meu caminho nas artes, de forma mais intimista. Vejo ao redor de mim
as pedras do alto do morro, junto à capela. Elas ali estão há milênios como
esculturas naturais em grandes formatos.
Caminho
pelas montanhas levando o meu iPad, ou meu celular, e, algumas vezes pedindo
emprestado à Marília a sua câmera pequenina, fácil de carregar.
Vou
olhando a paisagem e fotografando a incidência da luz solar sobre as curvas
sensuais, dos montes, nas diferentes horas do dia. Muitas vezes as nuvens do
céu me parecem semelhantes aos meus quadros mais antigos, da minha fase
abstrato-lírica. Estou registrando o que vejo, o que sinto e o que me cerca
neste meu cotidiano de buscar uma celebração à natureza. A fotografia é uma das
minhas formas de expressão. Com ela, me volto também para um registro de minhas
esculturas ou mais especificamente os meus projetos de escultura feitos em
papeis de cores variadas. Com ajuda do sol que se projeta generosamente pelas
frestas das janelas, as esculturas de papel vão tomando características
diversas.
Criar
é perceber o novo a cada instante e o meu aqui e agora é sempre interessante,
registrando a sombra e a luz.
O
que é a fotografia senão este registro de sombra e luz?
Através
da fotografia aliada aos projetos de escultura, vou experimentando duas formas de arte ao mesmo
tempo, pois os projetos estão se tornando modelos para a fotografia. Gosto de
fotografa-los em posições diversas, com a ajuda do sol. São formas de arte que
refletem o cotidiano de uma pessoa. Dentro de minha sala posso ver formas
geométricas nas paredes, projetadas pelo sol através de uma fresta da cortina.
Meu
aqui e agora vai se desdobrando como um filme.
Aprendi
há muitos anos, com o mestre Guignard a perceber anjos e guerreiros nas nuvens
do céu, paisagens surrealistas nas manchas dos muros velhos. Hoje vejo estes
anjos e guerreiros nas pedras das montanhas e isto me ressuscita memórias do
passado.
A
educação do olhar é treinamento essencial para qualquer artista e é através
dela que chegamos à fotografia.
A
arte de fotografar é perceber o novo a cada instante e este novo não acaba com
o tempo, mas se prolonga ao longo dos anos como uma celebração contínua da arte
de viver.
*Fotos
de Maria Helena Andrés
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segunda-feira, 10 de abril de 2017
MEDITANDO NA EMBAIXADA DA ÍNDIA COM SRI SRI RAVI SHANKAR
Uma
das funções de uma embaixada é promover o intercâmbio entre as nações, trazendo
conferencistas, artistas, pesquisadores, pessoas que estiveram em outros países,
não apenas em viagens turísticas, mas buscando uma integração entre os povos.
Transcrevo
abaixo o depoimento de Maurício Andrés que participou de uma sessão de
meditação na Embaixada da Índia, em Brasília.
“Em
14 de dezembro de 2016 aconteceu uma sessão de meditação na Embaixada da Índia
em Brasília, conduzida por Sri Sri Ravi Shankar. Ele é o fundador do movimento A Arte de Viver, com
muitas ações em vários países e dissemina uma prática simples e profunda de meditar.
No
início ele perguntou ao público de cerca de 150 pessoas se meditar e concentrar
são a mesma coisa. E respondeu que meditar é muito diferente de concentrar,
pois exige relaxar, deixar fluir pensamentos.
Para
facilitar o estado de meditação ele propôs que todos ficassem sentados
confortavelmente, em postura que permite que se medite trabalhando em frente a
um computador, num banco de ônibus ou numa sala de espera.
Explicou
que deixaria o celular dele ligado não para receber mensagens, mas para apenas
marcar o tempo de 10 minutos.
Propôs
fechar os olhos, esticar os braços e flexionar as mãos. Depois colocar as mãos
atrás da cabeça e fazer exercícios exclusivamente com o rosto. Olhar para cima
e para baixo, para cada lado, girar os olhos no sentido horário e anti-horário,
olhar para os dois lados do nariz. Em seguida, esticar as orelhas para cima,
para baixo e para os lados. Depois, massagear as bochechas com os dedos. No
rosto há muitos feixes de músculos que podem ser relaxados.
Em
seguida, sugeriu observarmos a respiração, absorvendo a energia que está no ar
na inspiração e deixando-a sair na expiração. Deixar vir qualquer pensamento,
observa-lo e deixa-lo ir embora. Assim como peixes vivem na água, nós vivemos
no meio do ar. Propos sentir o ar que envolve nosso corpo.
Ao
final, pediu que todos abrissem os olhos. Haviam decorrido 30 minutos e ninguém
sentiu o tempo passar. Essa prática de meditação é simples, não exige ambiente
ou postura especial, é baseada no relaxamento do rosto.
Ao
final, respondeu a todas as perguntas que vieram da plateia e despediu-se
dizendo que sua meta é trazer felicidade para todos.” (Depoimento de Maurício
Andrés)
(Maurício Andrés Ribeiro é autor
de “Tesouros da Índia para a civilização sustentável”, Editora Rona e Santa
Rosa Bureau Cultural, 2003.)
*Fotos
de Maurício Andrés
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segunda-feira, 3 de abril de 2017
O RITMO E SUA TEORIA II
Equilíbrio racional, encontraremos na arte de
Leonardo e Rafael, e, no século XX, na arte de Seurat e Mondrian. Equilíbrio
emocional, ou ritmo, encontraremos na arte de Greco, Van Gogh, Munch e nos
expressionistas de modo geral.
O equilíbrio de um quadro não está condicionado à
sua obediência a determinadas leis estáticas, manifesta-se de modo
completamente diverso, de acordo com a intenção do artista, sua personalidade,
sua visão do mundo.
Não está preso a fórmulas, mas à coerência do
próprio quadro.
“Compor não é apenas compartimentar a superfície,
destinar um lugar para cada objeto, arrumar, determinar a proporção em que os
elementos imaginários devem figurar na tela, calcular a zona possível dum
vermelho ou dum azul, encher o espaço plano de acordo com um só ou com vários
pontos de observação.. Se se pode dizer que há
leis fundamentais da composição a que é impossível fugir, é preciso acrescentar
que obedecer-lhes mecanicamente seria a negação da própria arte. Essas leis são
gerais e impessoais e o conceito estético exige personalidade. É por outra
qualidade, o ritmo, que a composição se aproxima gradualmente do conceito
pessoal e abandona, pouco a pouco a generalidade.” (M. Dionisio)
Compreendendo que a composição renascentista,
revelando a ordem e a medida de determinada civilização, procura traduzir o
sentido genérico da forma, o artista saberá fazer uso dela apenas quando o seu
trabalho exigir a ordem e a medida intelectuais.
Podemos ver no início do
movimento moderno, exemplos diversos no uso da composição. Seurat, cuja atitude
mental exigia equilíbrio racionalista, orientava suas composições dentro do
corte de ouro e dos cânones; Cézanne fundia as duas tendências condicionando-as
à sua necessidade de estrutura e expressão; Van Gogh, cuja arte brotou do
impulso, apegou-se ao ritmo, estabelecendo uma ligação orgânica , emocional
entre todos os elementos do quadro.
A comparação entre várias tendências, objetivará de
modo consciente a capacidade do aluno, permitindo que ele também possa trazer a
sua contribuição à arte de nossos dias. . (Artigo para o jornal Estado de
Minas, provavelmente década de 60)
*Fotos da internet
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