Existe em toda arte valores absolutos que fazem
leis, especulações intelectuais que preocupavam os nossos antepassados e
chegaram até nós por tradição e cultura. O artista utiliza pictoricamente a
superfície, isto é, ordena os elementos de maneira harmoniosa em benefício de
um conjunto. Para isto simplifica, escolhe o que é essencial, o que sintetiza
de maneira coerente suas ideias.
Saber compor é saber ordenar essas ideias de modo
não somente lógico como também expressivo. Muito embora as primeiras noções
teóricas venham acompanhando o desenvolvimento da capacidade de observar e de
sentir, um conhecimento mais racional das leis tradicionais se torna necessário
neste terceiro estágio, do estudo da arte.
A compreensão de que a arte exige antes de tudo
personalidade permitirá ao aluno não se escravizar às leis que lhe sufocam as
tendências.
Mas refletindo também que formação é conhecimento e
escolha (não se pode escolher sem conhecer) e que a própria espontaneidade é
conquistada através da escolha de uma direção entre várias, o aluno adquirirá
consciências quando compreender os problemas essenciais de composição, ritmo,
proporção, etc.
Estes problemas não são estáticos, modificam-se de
acordo com a época à qual pertencem.
O uso da perspectiva e do modelado, do corte de ouro
e da divina proporção, que se constituíam o fator preponderante para a arte do
passado, assumem no presente um caráter menos rígido, condicionado ao próprio
dinamismo e à inquietação de nossa época.
Uma visão objetiva dessas leis permitirá o confronto
e a escolha. O confronto entre a rigidez acadêmica e a fluidez impressionista
permitiu a Cézanne a estruturação de seus quadros de maneira a fundir as duas
tendências.
A perspectiva renascentista foi substituída por
outra perspectiva de planos superpostos, a fim de evitar os pontos de fuga que,
segundo sua opinião, prejudicavam a estética do quadro.
A exemplo de Cézanne, o artista do presente não se
prende aos moldes antigos, conhece-os através da história da arte, para
ultrapassá-los. Cézanne sabia combinar intelecto com sentimento, razão e
emoção, pode-se notar a expressividade controlada, meditada em cada centímetro
quadrado de suas telas.
A maneira de Cézanne considerar teorias adaptando-as
ao seu modo de sentir, permitiu que a sua influência se estendesse por nosso século,
e dentro dele criasse raízes. O estudante, conhecendo por necessidade histórica
a arte do passado e suas leis, saberá também que nem sempre estas mesmas leis
poderão ser empregadas no presente. Cada quadro oferece suas exigências próprias
e o julgamento deles é diferente, dependendo da harmonia final de uma lógica
interior, de um equilíbrio que varia entre razão e sentimento ou a soma dos
dois. (Artigo para o jornal Estado de Minas, provavelmente década de 60)
*Fotos da internet
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