sexta-feira, 24 de março de 2017

O RITMO E SUA TEORIA I

Existe em toda arte valores absolutos que fazem leis, especulações intelectuais que preocupavam os nossos antepassados e chegaram até nós por tradição e cultura. O artista utiliza pictoricamente a superfície, isto é, ordena os elementos de maneira harmoniosa em benefício de um conjunto. Para isto simplifica, escolhe o que é essencial, o que sintetiza de maneira coerente suas ideias.

Saber compor é saber ordenar essas ideias de modo não somente lógico como também expressivo. Muito embora as primeiras noções teóricas venham acompanhando o desenvolvimento da capacidade de observar e de sentir, um conhecimento mais racional das leis tradicionais se torna necessário neste terceiro estágio, do estudo da arte.

A compreensão de que a arte exige antes de tudo personalidade permitirá ao aluno não se escravizar às leis que lhe sufocam as tendências.
Mas refletindo também que formação é conhecimento e escolha (não se pode escolher sem conhecer) e que a própria espontaneidade é conquistada através da escolha de uma direção entre várias, o aluno adquirirá consciências quando compreender os problemas essenciais de composição, ritmo, proporção, etc.

Estes problemas não são estáticos, modificam-se de acordo com a época à qual pertencem.
O uso da perspectiva e do modelado, do corte de ouro e da divina proporção, que se constituíam o fator preponderante para a arte do passado, assumem no presente um caráter menos rígido, condicionado ao próprio dinamismo e à inquietação de nossa época.

Uma visão objetiva dessas leis permitirá o confronto e a escolha. O confronto entre a rigidez acadêmica e a fluidez impressionista permitiu a Cézanne a estruturação de seus quadros de maneira a fundir as duas tendências.

A perspectiva renascentista foi substituída por outra perspectiva de planos superpostos, a fim de evitar os pontos de fuga que, segundo sua opinião, prejudicavam a estética do quadro.
A exemplo de Cézanne, o artista do presente não se prende aos moldes antigos, conhece-os através da história da arte, para ultrapassá-los. Cézanne sabia combinar intelecto com sentimento, razão e emoção, pode-se notar a expressividade controlada, meditada em cada centímetro quadrado de suas telas.

A maneira de Cézanne considerar teorias adaptando-as ao seu modo de sentir, permitiu que a  sua influência se estendesse por nosso século, e dentro dele criasse raízes. O estudante, conhecendo por necessidade histórica a arte do passado e suas leis, saberá também que nem sempre estas mesmas leis poderão ser empregadas no presente. Cada quadro oferece suas exigências próprias e o julgamento deles é diferente, dependendo da harmonia final de uma lógica interior, de um equilíbrio que varia entre razão e sentimento ou a soma dos dois. (Artigo para o jornal Estado de Minas, provavelmente década de 60)

*Fotos da internet

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