A famosa definição de Maurice Denis resume a pintura
ocidental, ao dizer que um quadro, quer seja um cavalo de batalha, uma mulher
nua ou qualquer outro tema, é, antes de tudo, uma superfície plana recoberta de
cores que se reúnem numa certa ordem. Consciente ou inconscientemente, o
artista procura a união dos opostos, o equilíbrio das linhas, dos espaços, a
justaposição de cores, os contrastes de luzes e sombras. Ordena o caos. A arte
é a forma de realizar esse desejo de harmonia. Os elementos dispersos
integram-se num todo.
Organizar é uma necessidade interior do ser humano,
que se manifesta de maneira concreta na criação artística. A procura do
equilíbrio é uma constante em toda a história da arte. Compor é equilibrar,
reunir, contrastar, organizar. Manifesta-se por meio da razão ou da
sensibilidade, de acordo com a tendência do artista.
A criatividade, procurando
o equilíbrio, não obedece necessariamente a medidas teóricas. A busca do
equilíbrio externo reflete a necessidade do homem de se integrar às forças
eternas que regem o cosmo, a natureza e os seres criados. Leonardo da Vinci
fundamentava suas composições no movimento dos astros e planetas. A estatuária
grega foi construída dentro de proporções ideais. O artista atual constrói sua
obra livremente, de acordo com seu tipo humano. Intelectual ou emocionalmente,
a ordem é procurada. Ela se revela na forma exata da Pop Art
ou na espontaneidade do Expressionismo. Por meio da razão ou da
intuição, do pensamento ou da sensibilidade, o artista sempre busca expressar a
ordem.
A própria elaboração de um quadro é forma de
estruturar, construir. A primeira mancha de cor sobre a tela branca exige outra
cor para contrabalança-la. A direção de uma linha desperta a necessidade de
outra. O desenvolvimento do trabalho exige a supressão de uma figura, o
deslocamento de uma forma, o aparecimento de uma cor. As tonalidades se
contrastam e se combinam, os traços se organizam, as formas se completam. O
artista cria divisões novas, destrói para construir, suprime para realçar,
dirige e comanda os elementos que integrarão o conjunto do quadro. Realizando a
ordem exterior, busca a integração de suas energias com o poder eterno que rege
céus e terra.
O princípio
Yang-Yin adotado pelos antigos mestres taoístas sempre existiu com outra
denominação na arte do Ocidente, desde os tempos mais remotos até os nossos
dias. Mudam-se as denominações, amplificam-se os termos, mas o significado é o
mesmo. A união dos contrários, das forças opostas, é a procura sempre presente,
na arte e na vida, da síntese final, da unidade na multiplicidade.
Mas a arte exige, também, expressividade. René
Huyghe, na introdução do seu livro “A
Arte e a Alma”, cita o grande escultor Rodin para esclarecer a
necessidade de expressão na obra de arte: Não existe talvez nenhuma obra de
arte que extraia o seu encanto apenas do equilíbrio das linhas e dos tons e se
dirija unicamente à vista. Também ela deve ser criada pela alma e para a alma –
e exprimi-la, nutri-la, enriquecê-la.
A expressividade é o sopro vital que ilumina o
quadro. Não se dirige ao intelecto, mas à alma. Transcende o exato equilíbrio
da forma. Dá-lhe movimento e energia. Ajuda na harmonia final do quadro. A
expressividade se manifesta numa simples pincelada ou no resultado final do
quadro. É por meio desse sopro vital que a comunicação artística se realiza. A
expressividade é a linguagem da alma, e é compreendida e admirada através da
alma.
(Trecho do meu livro “Os Caminhos da Arte”, editora
C/Arte, 2014)
*Fotos da internet
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