Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
sexta-feira, 24 de março de 2017
O RITMO E SUA TEORIA I
Existe em toda arte valores absolutos que fazem
leis, especulações intelectuais que preocupavam os nossos antepassados e
chegaram até nós por tradição e cultura. O artista utiliza pictoricamente a
superfície, isto é, ordena os elementos de maneira harmoniosa em benefício de
um conjunto. Para isto simplifica, escolhe o que é essencial, o que sintetiza
de maneira coerente suas ideias.
Saber compor é saber ordenar essas ideias de modo
não somente lógico como também expressivo. Muito embora as primeiras noções
teóricas venham acompanhando o desenvolvimento da capacidade de observar e de
sentir, um conhecimento mais racional das leis tradicionais se torna necessário
neste terceiro estágio, do estudo da arte.
A compreensão de que a arte exige antes de tudo
personalidade permitirá ao aluno não se escravizar às leis que lhe sufocam as
tendências.
Mas refletindo também que formação é conhecimento e
escolha (não se pode escolher sem conhecer) e que a própria espontaneidade é
conquistada através da escolha de uma direção entre várias, o aluno adquirirá
consciências quando compreender os problemas essenciais de composição, ritmo,
proporção, etc.
Estes problemas não são estáticos, modificam-se de
acordo com a época à qual pertencem.
O uso da perspectiva e do modelado, do corte de ouro
e da divina proporção, que se constituíam o fator preponderante para a arte do
passado, assumem no presente um caráter menos rígido, condicionado ao próprio
dinamismo e à inquietação de nossa época.
Uma visão objetiva dessas leis permitirá o confronto
e a escolha. O confronto entre a rigidez acadêmica e a fluidez impressionista
permitiu a Cézanne a estruturação de seus quadros de maneira a fundir as duas
tendências.
A perspectiva renascentista foi substituída por
outra perspectiva de planos superpostos, a fim de evitar os pontos de fuga que,
segundo sua opinião, prejudicavam a estética do quadro.
A exemplo de Cézanne, o artista do presente não se
prende aos moldes antigos, conhece-os através da história da arte, para
ultrapassá-los. Cézanne sabia combinar intelecto com sentimento, razão e
emoção, pode-se notar a expressividade controlada, meditada em cada centímetro
quadrado de suas telas.
A maneira de Cézanne considerar teorias adaptando-as
ao seu modo de sentir, permitiu que a sua influência se estendesse por nosso século,
e dentro dele criasse raízes. O estudante, conhecendo por necessidade histórica
a arte do passado e suas leis, saberá também que nem sempre estas mesmas leis
poderão ser empregadas no presente. Cada quadro oferece suas exigências próprias
e o julgamento deles é diferente, dependendo da harmonia final de uma lógica
interior, de um equilíbrio que varia entre razão e sentimento ou a soma dos
dois. (Artigo para o jornal Estado de Minas, provavelmente década de 60)
*Fotos da internet
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segunda-feira, 13 de março de 2017
O ETERNO RETORNO
Transcrevo abaixo o
texto escrito pela Maria Antonia, uma das associadas da Asa de Papel, onde fiz
a exposição “O Eterno Retorno”.
“Na Asa de Papel
Café&Arte , Maria Helena Andrés – artista plástica, escritora, educadora
- nos brindou com sua presença marcante
e delicada, abrindo a exposição “O Eterno Retorno”- Colagens, com belos
trabalhos de sua autoria. Em suas palavras, a exposição é um resgate do trabalho
que fazia nos anos 50, agora sob outra perspectiva. Maria Helena falou de seu
processo criativo; respondeu perguntas; enfatizou a importância do desenho na
arte; falou sobre arte e espiritualidade, dentre outros assuntos. Concluiu
dizendo que “a Vida vai fazendo ciclos de recomeços nos seus vários retornos”.
João Diniz e Marília
Andrés fizeram a apresentação de meus trabalhos e eu mesma relatei meu itinerário
e processo criativo. Caminhei muito e trabalhei muito.
Nesta mostra, procurei
um fio de ligação com o passado, com as descobertas no campo do construtivismo,
considerando os artistas mineiros como independentes. Como independente corri o mundo, como
independente aqui estou voando na Asa de Papel.
Asa de papel
Café&Arte é um lugar onde se reúnem intelectuais, artistas e profissionais
liberais da nova geração, a exemplo do Café de Flore em Paris onde se reuniam
os intelectuais do pós-guerra com Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Paul
Claudel, entre outros. Vou recordando o que vivenciei naquela noite, cercada de
pessoas jovens, numa simpática homenagem ao meu longo caminho nas artes.
Na inauguração tive a
oportunidade de conhecer de perto Marcelo Xavier, idealizador do espaço e do
bloco carnavalesco “Todo Mundo Cabe no Mundo”, que promoveu uma grande inclusão
social nos últimos carnavais.
“Recordar é viver”.
Estou vivendo agora o que eu vivi na década de 1950, quando desenhava em papéis
pequeninos e recortava papéis para colagens. Meus quadros da época já se
espalharam pelos museus e colecionadores, mas os desenhos e colagens ficaram
guardados em pastas. Hoje eles documentam a minha predileção para os desenhos e
colagens em pequenas dimensões.
Na abertura da mostra
João Diniz apresentou o vídeo “Color Sonata” que integra a minha pintura à
“Sonata ao Luar” de Beethoven e que está sendo muito apreciado. Este vídeo está
disponibilizado no youtube e pode ser visto no site do Instituto Maria Helena
Andrés (IMHA): www.imha.org.br
*Fotos de Marília
Andrés e Ivana Andrés
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quinta-feira, 2 de março de 2017
COMPOSIÇÃO E ORGANIZAÇÃO
A famosa definição de Maurice Denis resume a pintura
ocidental, ao dizer que um quadro, quer seja um cavalo de batalha, uma mulher
nua ou qualquer outro tema, é, antes de tudo, uma superfície plana recoberta de
cores que se reúnem numa certa ordem. Consciente ou inconscientemente, o
artista procura a união dos opostos, o equilíbrio das linhas, dos espaços, a
justaposição de cores, os contrastes de luzes e sombras. Ordena o caos. A arte
é a forma de realizar esse desejo de harmonia. Os elementos dispersos
integram-se num todo.
Organizar é uma necessidade interior do ser humano,
que se manifesta de maneira concreta na criação artística. A procura do
equilíbrio é uma constante em toda a história da arte. Compor é equilibrar,
reunir, contrastar, organizar. Manifesta-se por meio da razão ou da
sensibilidade, de acordo com a tendência do artista.
A criatividade, procurando
o equilíbrio, não obedece necessariamente a medidas teóricas. A busca do
equilíbrio externo reflete a necessidade do homem de se integrar às forças
eternas que regem o cosmo, a natureza e os seres criados. Leonardo da Vinci
fundamentava suas composições no movimento dos astros e planetas. A estatuária
grega foi construída dentro de proporções ideais. O artista atual constrói sua
obra livremente, de acordo com seu tipo humano. Intelectual ou emocionalmente,
a ordem é procurada. Ela se revela na forma exata da Pop Art
ou na espontaneidade do Expressionismo. Por meio da razão ou da
intuição, do pensamento ou da sensibilidade, o artista sempre busca expressar a
ordem.
A própria elaboração de um quadro é forma de
estruturar, construir. A primeira mancha de cor sobre a tela branca exige outra
cor para contrabalança-la. A direção de uma linha desperta a necessidade de
outra. O desenvolvimento do trabalho exige a supressão de uma figura, o
deslocamento de uma forma, o aparecimento de uma cor. As tonalidades se
contrastam e se combinam, os traços se organizam, as formas se completam. O
artista cria divisões novas, destrói para construir, suprime para realçar,
dirige e comanda os elementos que integrarão o conjunto do quadro. Realizando a
ordem exterior, busca a integração de suas energias com o poder eterno que rege
céus e terra.
O princípio
Yang-Yin adotado pelos antigos mestres taoístas sempre existiu com outra
denominação na arte do Ocidente, desde os tempos mais remotos até os nossos
dias. Mudam-se as denominações, amplificam-se os termos, mas o significado é o
mesmo. A união dos contrários, das forças opostas, é a procura sempre presente,
na arte e na vida, da síntese final, da unidade na multiplicidade.
Mas a arte exige, também, expressividade. René
Huyghe, na introdução do seu livro “A
Arte e a Alma”, cita o grande escultor Rodin para esclarecer a
necessidade de expressão na obra de arte: Não existe talvez nenhuma obra de
arte que extraia o seu encanto apenas do equilíbrio das linhas e dos tons e se
dirija unicamente à vista. Também ela deve ser criada pela alma e para a alma –
e exprimi-la, nutri-la, enriquecê-la.
A expressividade é o sopro vital que ilumina o
quadro. Não se dirige ao intelecto, mas à alma. Transcende o exato equilíbrio
da forma. Dá-lhe movimento e energia. Ajuda na harmonia final do quadro. A
expressividade se manifesta numa simples pincelada ou no resultado final do
quadro. É por meio desse sopro vital que a comunicação artística se realiza. A
expressividade é a linguagem da alma, e é compreendida e admirada através da
alma.
(Trecho do meu livro “Os Caminhos da Arte”, editora
C/Arte, 2014)
*Fotos da internet
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