terça-feira, 3 de janeiro de 2017

PELAS VEREDAS DE SI IV

Dando continuidade ao depoimento de Artur Andrés sobre os pensamentos de Gurdjieff, transcrevo o texto abaixo:

“Segundo Gurdjieff, a fala é uma dassituações em que somos mais inconscientes. Na maioria das vezes, nos esquecemos de que falar éalgo tão contundente quanto uma ação física. Não é à toa que, empraticamente todas as tradições espiritualistas, o silêncio é considerado umaferramenta valiosa. Por exemplo, uma das principais causas de vazamentode nossa energia é a expressão repetida de emoções negativas. Como
aquelas pessoas que estão sempre reclamando detudo. Se o tempo está nublado, a pessoa reclama da chuva, se faz sol,reclama do calor, e por aí vai. É muito importante prestar atenção quando dizemos alguma coisa dessas, expressando inconscientemente essas emoções negativas, e ver o efeito que isso gera em nós, pois o efeito é só
um: perda de energia.

Uma das frases mais emblemáticas de Gurdjieff é esta: “Não há
injustiça no mundo”. Quando se tenta compreender isso, começamos a
perceber que toda e qualquer situação da vida, cada evento por que
passamos, acontece exatamente como tem que acontecer. Se quisermos
mudar o curso de nossa vida, precisamos conhecer as forças que atuam
sobre nós e, a partir dessa consciência, criar meios de nos libertarmos
dessas forças ou, pelo menos, de conseguirmos vê-las, pois a visão já é uma
porta para a liberação interior.

Segundo Mikhail Naimy, em seu “O Livro de Mirdad”, este é o caminho que leva à liberação das preocupações e da dor:
“Pensai como se cada um de vossos pensamentos tivesse de ser gravado a
fogo no céu para que todos e tudo o vissem. E, verdadeiramente, assim é.
Falai como se o mundo todo fosse um único ouvido, atento a escutar o que
dizeis. E, verdadeiramente, assim é.
Agi como se todos os vossos atos tivessem de recair sobre vossa cabeça. E,
verdadeiramente, assim é.”

Em relação a essa liberação interior, até agora falamos de uma busca
que a pessoa realiza por si mesma.

Para a educação de jovens e crianças, Gurdjieff sugere que os jovens sejam preparados para enfrentar os embates do cotidiano de uma forma diferente da que vem ocorrendo em nossa cultura, em que a educação fortalece muito o aspecto da comodidade,
dos pais tentando ao máximo proteger os filhos dos desafios da vida. O
resultado disso, como se vê, é uma geração de jovens desconectados da
realidade. 
Em oposição a isso, Gurdjieff incentiva a educação através do contato com as várias faces da existência. Muita coisa ele aprendeu com o próprio pai.
Ele o levava para tomar banho nas águas geladas do inverno russo. Outras pessoas contam como, aos seisanos de idade, se criavam situações para elas trabalharem o medo. O pai deuma criança a levava para acampar na floresta e, chegando lá, dizia:
“Vamos fazer uma fogueira, pois aqui tem muitos lobos, mas eles não se
aproximam do fogo. Assim, se você mantiver o fogo aceso, não tem
perigo”. Mas logo o pai sumia e, por mais de uma hora, a criança ficava
sozinha, cuidando de manter o fogo aceso. Claro, o pai estava por perto,
vendo tudo de trás de uma árvore, mas, para a criança, era todo um
processo de descoberta da atenção e da coragem .” (Trechos da entrevista de Artur Andrés com Lauro Henriques Jr, publicada no livro “Palavras de Poder”, vol 1, Editora Alaúde)

*  Artur Andrés Ribeiro é doutor em música pela UFMG, onde leciona. É um dos fundadores do grupo Uakti e já trabalhou com Milton Nascimento, Paul Simon e Philip Glass. É um dos coordenadores do Instituto Gurdjieff de Belo Horizonte.



*Fotos da internet

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