Conheci Adolpho Leirner
quando ele veio a Belo Horizonte me procurar, nos anos 1980. Naquela ocasião
ele estava formando a sua coleção de pinturas construtivas de artistas
brasileiros.
Desde aquela época pude
vislumbrar a importância de deixar nas mãos de um renomado colecionador de São
Paulo o que de certo modo representava o início de minha história artística, a
entrada na arte não figurativa. Não tinha muitas telas disponíveis, mas me
senti feliz de participar daquela coleção.
A coleção de Adolpho
Leirner deixou o Brasil para estar presente no Museu de Houston, nos Estados
Unidos. Ali ela pode ser vista por milhares de pessoas, viajar pelo mundo, ser
televisionada, pesquisada, transformada em livros. Enfim, pode mostrar que a
arte brasileira atingiu um patamar elevado de seriedade, equiparado à de outros
países do primeiro mundo.
O Brasil é um país
sério e a coleção Adolpho Leirner é o testemunho disso. A coleção causou um
impacto quando chegou aos Estados Unidos e ali em Houston apresenta o elevado
nível de nossa arte.
Volto ao começo do
concretismo, quando ele surgiu no Brasil. Foi o impacto causado pelas ideias
vanguardistas de Max Bill, a abertura da 1ª Bienal de São Paulo e o prêmio dado
ao artista brasileiro Ivan Serpa, considerado o papa do concretismo.
Foi a minha amizade com
o casal de artistas de São Paulo, Maria Leontina e Milton Da Costa, que me
possibilitou uma abertura maior para essa tendência. Milton da Costa e Maria
Leontina vinham até Belo Horizonte para me visitar e eu participava sempre de
reuniões na residência deles em São Paulo. Eles assistiram a minha entrada no
construtivismo e a eles devo apoio e incentivo. Nos corredores das primeiras
bienais de São Paulo alguma coisa nova surgia e conseguia levar nossos artistas
à formação de um grupo de alcance internacional.
Adolpho Leirner
percebeu isto e registra em seus depoimentos o início de sua coleção com uma
pintura de Milton Da Costa. Na coleção de Leirner participo como artista
independente e como independentes viajamos pelo mundo.
Recentemente pude ver,
com emoção, no youtube, a abertura da exposição construtiva brasileira em
Zurich, na Suiça. A repórter falava ao microfone, tendo por detrás dela um
quadro de Mário Silésio, nosso companheiro de arte.
Realmente, o testemunho
dado pelos artistas ultrapassa as reivindicações políticas para alcançar um
nível transcendente que unifica os povos, sem conflitos. Percorrer uma
exposição de arte construtiva nos leva a um estado elevado de concentração e
meditação.
A arte construtiva
propõe uma forma impessoal, sem fronteiras regionalistas, que congrega os
irmãos desse planeta num todo espiritual, transcendente. Isso porque o seu
processo exige disciplina e muita concentração. Exige limpeza, clareza e
desligamento do mundo real para a construção de uma outra realidade artística.
A cor teria que ser pura, a forma clara, sem nuances. O artista teria que criar
a partir dos elementos plásticos disponíveis: cor, linha, forma que seriam
organizados em determinado espaço. Isto significava mergulhar dentro de si
mesmo em busca da ideia primordial que se transformaria numa forma nova,
completamente desligada da figuração externa.
Nós os artistas
independentes de Minas, que não participamos dos movimentos concreto e neoconcreto,
estamos juntos nessa coleção. Na época formávamos um pequeno grupo e hoje
podemos ser vistos nas imensas salas do Museu de Houston, no Texas. Sair do
Brasil é uma conquista, participar de coletivas internacionais faz parte da
união planetária, tão sonhada pelos pensadores espiritualistas. Nosso recado
foi dado e hoje está visualizado nos imensos salões desse museu americano.
Estar presente no
mundo, dar testemunho de nosso país, projeta-lo coletivamente e possibilitar o
estudo de um momento importante da arte brasileira, foi oque realizou Adolpho
Leirner ao vender a sua coleção para um grande museu americano.
*Fotos de arquivo
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