Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
segunda-feira, 23 de janeiro de 2017
COLEÇÃO ADOLPHO LEIRNER NO MUSEU DE HOUSTON
Conheci Adolpho Leirner
quando ele veio a Belo Horizonte me procurar, nos anos 1980. Naquela ocasião
ele estava formando a sua coleção de pinturas construtivas de artistas
brasileiros.
Desde aquela época pude
vislumbrar a importância de deixar nas mãos de um renomado colecionador de São
Paulo o que de certo modo representava o início de minha história artística, a
entrada na arte não figurativa. Não tinha muitas telas disponíveis, mas me
senti feliz de participar daquela coleção.
A coleção de Adolpho
Leirner deixou o Brasil para estar presente no Museu de Houston, nos Estados
Unidos. Ali ela pode ser vista por milhares de pessoas, viajar pelo mundo, ser
televisionada, pesquisada, transformada em livros. Enfim, pode mostrar que a
arte brasileira atingiu um patamar elevado de seriedade, equiparado à de outros
países do primeiro mundo.
O Brasil é um país
sério e a coleção Adolpho Leirner é o testemunho disso. A coleção causou um
impacto quando chegou aos Estados Unidos e ali em Houston apresenta o elevado
nível de nossa arte.
Volto ao começo do
concretismo, quando ele surgiu no Brasil. Foi o impacto causado pelas ideias
vanguardistas de Max Bill, a abertura da 1ª Bienal de São Paulo e o prêmio dado
ao artista brasileiro Ivan Serpa, considerado o papa do concretismo.
Foi a minha amizade com
o casal de artistas de São Paulo, Maria Leontina e Milton Da Costa, que me
possibilitou uma abertura maior para essa tendência. Milton da Costa e Maria
Leontina vinham até Belo Horizonte para me visitar e eu participava sempre de
reuniões na residência deles em São Paulo. Eles assistiram a minha entrada no
construtivismo e a eles devo apoio e incentivo. Nos corredores das primeiras
bienais de São Paulo alguma coisa nova surgia e conseguia levar nossos artistas
à formação de um grupo de alcance internacional.
Adolpho Leirner
percebeu isto e registra em seus depoimentos o início de sua coleção com uma
pintura de Milton Da Costa. Na coleção de Leirner participo como artista
independente e como independentes viajamos pelo mundo.
Recentemente pude ver,
com emoção, no youtube, a abertura da exposição construtiva brasileira em
Zurich, na Suiça. A repórter falava ao microfone, tendo por detrás dela um
quadro de Mário Silésio, nosso companheiro de arte.
Realmente, o testemunho
dado pelos artistas ultrapassa as reivindicações políticas para alcançar um
nível transcendente que unifica os povos, sem conflitos. Percorrer uma
exposição de arte construtiva nos leva a um estado elevado de concentração e
meditação.
A arte construtiva
propõe uma forma impessoal, sem fronteiras regionalistas, que congrega os
irmãos desse planeta num todo espiritual, transcendente. Isso porque o seu
processo exige disciplina e muita concentração. Exige limpeza, clareza e
desligamento do mundo real para a construção de uma outra realidade artística.
A cor teria que ser pura, a forma clara, sem nuances. O artista teria que criar
a partir dos elementos plásticos disponíveis: cor, linha, forma que seriam
organizados em determinado espaço. Isto significava mergulhar dentro de si
mesmo em busca da ideia primordial que se transformaria numa forma nova,
completamente desligada da figuração externa.
Nós os artistas
independentes de Minas, que não participamos dos movimentos concreto e neoconcreto,
estamos juntos nessa coleção. Na época formávamos um pequeno grupo e hoje
podemos ser vistos nas imensas salas do Museu de Houston, no Texas. Sair do
Brasil é uma conquista, participar de coletivas internacionais faz parte da
união planetária, tão sonhada pelos pensadores espiritualistas. Nosso recado
foi dado e hoje está visualizado nos imensos salões desse museu americano.
Estar presente no
mundo, dar testemunho de nosso país, projeta-lo coletivamente e possibilitar o
estudo de um momento importante da arte brasileira, foi oque realizou Adolpho
Leirner ao vender a sua coleção para um grande museu americano.
*Fotos de arquivo
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segunda-feira, 16 de janeiro de 2017
PELAS VEREDAS DE SI V
Dando
continuidade ao depoimento de Artur Andrés sobre os pensamentos de Gurdjieff,
transcrevo o texto abaixo:
“A sua vida,
exatamente como ela é – neste emprego, nesta
família, neste
contexto social – é a condição ideal para que você possa
se trabalhar. Ninguém
precisa ir para uma caverna para atingir a
iluminação. Tudo no
mundo pode ser material de aprendizado. A
grande questão é
desenvolver uma atitude generosa perante a vida, uma
aceitação plena em
relação ao próximo. E é apenas ao trabalhar sobre
si, aceitando suas
próprias contradições, que alguém se torna capaz de
exercer isso em
relação ao outro. Senão, ocorre o que vemos o tempo
todo: o sujeito lê
mil livros, faz isso e aquilo, mas está sempre julgando
as outras pessoas. De
novo, a palavra é aceitação. É esse o desafio, e é para dar conta
dele que estamos
aqui."
O filósofo Friedrich Nietzsche dizia que uma espécie de oração de cada
pessoa ao iniciar o dia deveria ser um pensamento do tipo “Hoje vou
dar alegria a alguém”.
Uma oração que sempre acompanhava Gurdjieff, foi lida por ocasião da sua morte: “Que Deus
e todos os seus anjos nos preservem de fazer o mal,
ajudando-nos sempre e em toda parte a nos lembrarmos de nós mesmos”.
Gurdjieff dizia:
"Um de meus maiores
aprendizados foi reconhecer que há muita coisa
a ser feita e que,
sem um trabalho constante sobre eu mesmo, não terei
chance alguma de
ajudar nesse processo. Foi compreender que liberdade
não significa fazer
apenas o que é mais cômodo, o que me dá mais prazer,
mas que liberdade é
aprender a fazer o que deve ser feito. Uma pessoa virtuosa é aquela que se dá conta de sua própria nulidade, de que, na verdade, não sabe nada. É alguém que, a partir dessa visão, desse não saber, permanece aberto a aprender. Acredito que a busca
do silêncio interno seja uma das grandes metas
do trabalho interior.
Somente quando estamos apoiados nessa condição de
um maior equilíbrio
interno é que podemos, pouco a pouco, aprender
realmente a ouvir, a
ver, a sentir. A habilidade de tocar um instrumento, de
fazer música e,
ainda, de ouvi-la, depende essencialmente dessa busca."
Segundo Gurdjieff: “O silêncio não é a ausência de sons, mas a
ausência do
ego".
Site:
www.gurdjieff.org.br
CDs:
Cantos
e Ritmos do Oriente (Gurdjieff/de Hartmann), de Artur Andrés,
Mauro Rodrigues e
Regina Amaral (Sonhos e Sons)
Hinos,
Preces e Ritos (Gurdjieff/de Hartmann), de Artur Andrés e Regina
Minhas reflexões após a leitura dos textos de
Gurdjieff:
Esquecer as coisas é um fato. Todo ser humano
esquece. Será falta de memória ou falta de atenção? Os yogues falam muito sobre
a atenção no agora. Prestar atenção nos acontecimentos e como eles nos atingem
interna e externamente. Não atuar mecanicamente, mas estar atento a tudo. Não
pensar, ver.
Vou observando as minhas distrações, tomo
consciência delas. Depois vou observando outros distraídos e tento me consolar
com isto. Ser distraído é não estar presente, não viver o momento, estar com a
cabeça no passado ou no futuro.
*Fotos de Maria Helena Andrés e da internet
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terça-feira, 3 de janeiro de 2017
PELAS VEREDAS DE SI IV
Dando
continuidade ao depoimento de Artur Andrés sobre os pensamentos de Gurdjieff,
transcrevo o texto abaixo:
“Segundo
Gurdjieff, a fala é uma dassituações em que somos mais inconscientes. Na maioria das
vezes, nos esquecemos de que falar éalgo tão contundente quanto uma ação
física. Não é à toa que, empraticamente todas as tradições espiritualistas, o
silêncio é considerado umaferramenta valiosa. Por exemplo, uma das principais
causas de vazamentode nossa energia é a expressão repetida de emoções
negativas. Como
aquelas pessoas que estão sempre
reclamando detudo. Se o tempo está nublado, a pessoa reclama da chuva, se faz
sol,reclama do calor, e por aí vai. É muito importante prestar atenção quando
dizemos alguma coisa dessas, expressando inconscientemente essas emoções
negativas, e ver o efeito que isso gera em nós, pois o efeito é só
um: perda de energia.
Uma das frases mais emblemáticas
de Gurdjieff é esta: “Não há
injustiça no mundo”. Quando se
tenta compreender isso, começamos a
perceber que toda e qualquer
situação da vida, cada evento por que
passamos, acontece exatamente
como tem que acontecer. Se quisermos
mudar o curso de nossa vida,
precisamos conhecer as forças que atuam
sobre nós e, a partir dessa
consciência, criar meios de nos libertarmos
dessas forças ou, pelo menos, de
conseguirmos vê-las, pois a visão já é uma
porta para a liberação interior.
Segundo Mikhail
Naimy, em seu “O Livro de Mirdad”, este é o caminho que leva à liberação das
preocupações e da dor:
“Pensai como se
cada um de vossos pensamentos tivesse de ser gravado a
fogo no céu para
que todos e tudo o vissem. E, verdadeiramente, assim é.
Falai como se o
mundo todo fosse um único ouvido, atento a escutar o que
dizeis. E,
verdadeiramente, assim é.
Agi como se
todos os vossos atos tivessem de recair sobre vossa cabeça. E,
verdadeiramente,
assim é.”
Em
relação a essa liberação interior, até agora falamos de uma busca
que a
pessoa realiza por si mesma.
Para a
educação de jovens e crianças, Gurdjieff sugere que os jovens sejam preparados
para enfrentar os embates do cotidiano de uma forma diferente da que vem
ocorrendo em nossa cultura, em que a educação fortalece muito o aspecto da
comodidade,
dos pais tentando ao máximo
proteger os filhos dos desafios da vida. O
resultado disso, como se vê, é
uma geração de jovens desconectados da
realidade.
Em oposição a isso,
Gurdjieff incentiva a educação através do contato com as várias faces da existência.
Muita coisa ele aprendeu com o próprio pai.
Ele o
levava para tomar banho nas águas geladas do inverno russo. Outras pessoas
contam como, aos seisanos de idade, se criavam situações para elas trabalharem
o medo. O pai deuma criança a levava para acampar na floresta e, chegando lá,
dizia:
“Vamos fazer uma fogueira, pois
aqui tem muitos lobos, mas eles não se
aproximam do fogo. Assim, se você
mantiver o fogo aceso, não tem
perigo”. Mas logo o pai sumia e,
por mais de uma hora, a criança ficava
sozinha, cuidando de manter o
fogo aceso. Claro, o pai estava por perto,
vendo tudo de trás de uma árvore,
mas, para a criança, era todo um
processo de descoberta da atenção
e da coragem .” (Trechos da entrevista de Artur
Andrés com Lauro Henriques Jr, publicada no livro “Palavras de Poder”, vol 1,
Editora Alaúde)
* Artur Andrés Ribeiro é doutor em música pela
UFMG, onde leciona. É um dos fundadores do grupo Uakti e já trabalhou com
Milton Nascimento, Paul Simon e Philip Glass. É um dos coordenadores do
Instituto Gurdjieff de Belo Horizonte.
*Fotos
da internet
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