Recebi de Maurício Andrés Ribeiro o texto abaixo:
"Ao passarmos
os olhos pela história das nações, podemos sentir ressoar da boca coletiva do
povo esta palavra que, expressa em atos, constitui a contribuição de cada nação
para uma humanidade ideal e perfeita. Para o antigo Egito, tal palavra foi
Religião; para a Pérsia, Pureza; para a Caldéia, Ciência; para a Grécia,
Beleza; para Roma, Lei, e para a Índia - o mais velho de seus filhos -, para a
Índia, Ele concedeu uma palavra que a todas resumia, a palavra Dharma. Eis a
palavra da Índia para o mundo."(Annie Besant, in Dharma)
Muitas palavras de origem indiana se incorporaram ao
vocabulário comum no Brasil: ioga, guru e karma são algumas entre elas. Outras,
igualmente importantes, são entendidas e utilizadas apenas pelos estudiosos.
Entre estas está o conceito de dharma, central para a compreensão da
civilização indiana, e que permite refletir sobre o desenvolvimento sustentável
e a sustentabilidade de um modo não-usual.
Dharma é um
substantivo proveniente da raiz do sânscrito dhr, que significa sustentar,
carregar, manter unido: “É a lei, aquilo que sustenta, mantém unido ou erguido.”
Dharma é “o ‘suporte’ dos seres e das coisas, a lei da ordem em sua maior
extensão, isto é, a ordem cósmica.”
O lema da
Índia é “ Unidade na Diversidade”. Trata-se de uma nação multinacional,
culturalmente variada. O dharma, aquilo que mantém as coisas unidas, é, no
dizer de Sri Aurobindo, a lei do ser, padrão de verdade, regra ou lei da ação;
é a forma como o povo indiano concebe a conduta religiosa, social ou moral. O
dharma pode, assim, ser visto como um fator de agregação, que evita a
fragmentação de uma pessoa ou civilização.
A civilização indiana absorveu de forma seletiva as
pressões culturais trazidas pelos diversos povos que invadiram o subcontinente
indiano durante sua longa história. Baseada no seu dharma, aquela civilização
soube sustentar-se por milênios e esconde tesouros culturais valiosos, num
mundo contemporâneo voraz no consumo material e que enfrenta impasses quanto à
viabilidade da sobrevivência da espécie humana.
Estudiosos da
democracia dos direitos, ao mesmo tempo em que apregoam suas virtudes, como
sendo o regime político mais avançado, já alcançado pelas sociedades humanas,
apontam para suas fragilidades. O filósofo Jürgen Habermas, em artigo recente
na Folha de São Paulo, ressalta as tensões que permanentemente desafiam o
estado democrático de direito, especialmente com o terrorismo do início do
século XXI. Manuel Castells fala da necessidade da democracia se reinventar.
‘Dharmacracia’
é um conceito ainda ausente dos dicionários ocidentais. Seria a forma de
governo baseada na aplicação do dharma e vai além da democracia que se pretende
defensora de direitos e que viceja nos regimes políticos ocidentais mais abertos.
(Maurício Andrés Ribeiro é ex-pesquisador
visitante no Instituto Indiano de Administração de Bangalore, autor de “Ecologizar-
pensando o ambiente humano”, de “Tesouros da Índia para a civilização
sustentável” e de “Ecologizando a cidade e o planeta.”
mandrib@uol.com.br / WWW.ecologizar.com.br)
mandrib@uol.com.br / WWW.ecologizar.com.br)
*Fotos de
arquivo
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