segunda-feira, 9 de maio de 2016

DHARMACRACIA E SUSTENTABILIDADE

 Recebi de Maurício Andrés Ribeiro o texto abaixo:

 "Ao passarmos os olhos pela história das nações, podemos sentir ressoar da boca coletiva do povo esta palavra que, expressa em atos, constitui a contribuição de cada nação para uma humanidade ideal e perfeita. Para o antigo Egito, tal palavra foi Religião; para a Pérsia, Pureza; para a Caldéia, Ciência; para a Grécia, Beleza; para Roma, Lei, e para a Índia - o mais velho de seus filhos -, para a Índia, Ele concedeu uma palavra que a todas resumia, a palavra Dharma. Eis a palavra da Índia para o mundo."(Annie Besant, in Dharma)

Muitas palavras de origem indiana se incorporaram ao vocabulário comum no Brasil: ioga, guru e karma são algumas entre elas. Outras, igualmente importantes, são entendidas e utilizadas apenas pelos estudiosos. Entre estas está o conceito de dharma, central para a compreensão da civilização indiana, e que permite refletir sobre o desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade de um modo não-usual.
 Dharma é um substantivo proveniente da raiz do sânscrito dhr, que significa sustentar, carregar, manter unido: “É a lei, aquilo que sustenta, mantém unido ou erguido.”

 Dharma é “o ‘suporte’ dos seres e das coisas, a lei da ordem em sua maior extensão, isto é, a ordem cósmica.”

 O lema da Índia é “ Unidade na Diversidade”. Trata-se de uma nação multinacional, culturalmente variada. O dharma, aquilo que mantém as coisas unidas, é, no dizer de Sri Aurobindo, a lei do ser, padrão de verdade, regra ou lei da ação; é a forma como o povo indiano concebe a conduta religiosa, social ou moral. O dharma pode, assim, ser visto como um fator de agregação, que evita a fragmentação de uma pessoa ou civilização.

A civilização indiana absorveu de forma seletiva as pressões culturais trazidas pelos diversos povos que invadiram o subcontinente indiano durante sua longa história. Baseada no seu dharma, aquela civilização soube sustentar-se por milênios e esconde tesouros culturais valiosos, num mundo contemporâneo voraz no consumo material e que enfrenta impasses quanto à viabilidade da sobrevivência da espécie humana.
 Estudiosos da democracia dos direitos, ao mesmo tempo em que apregoam suas virtudes, como sendo o regime político mais avançado, já alcançado pelas sociedades humanas, apontam para suas fragilidades. O filósofo Jürgen Habermas, em artigo recente na Folha de São Paulo, ressalta as tensões que permanentemente desafiam o estado democrático de direito, especialmente com o terrorismo do início do século XXI. Manuel Castells fala da necessidade da democracia se reinventar.

 ‘Dharmacracia’ é um conceito ainda ausente dos dicionários ocidentais. Seria a forma de governo baseada na aplicação do dharma e vai além da democracia que se pretende defensora de direitos e que viceja nos regimes políticos ocidentais mais abertos.
(Maurício Andrés Ribeiro é ex-pesquisador visitante no Instituto Indiano de Administração de Bangalore, autor de “Ecologizar- pensando o ambiente humano”, de “Tesouros da Índia para a civilização sustentável” e de “Ecologizando a cidade e o planeta.”
mandrib@uol.com.br / WWW.ecologizar.com.br)

*Fotos de arquivo

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