Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
segunda-feira, 23 de maio de 2016
segunda-feira, 16 de maio de 2016
DHARMACRACIA E DEMOCRACIA
Recebi de Maurício Andrés Ribeiro o texto
abaixo:
Aurobindo afirma que os estados-nação e a
democracia dos direitos não constituem o último estágio da evolução política da
humanidade. Ele assim define ‘Dharmacracia’: “Já se disse que a democracia é
baseada nos direitos do homem; respondeu-se que ela deveria basear-se nos
deveres do homem; mas tanto direitos como deveres são idéias européias. Dharma
é a concepção indiana na qual direitos e deveres perdem o antagonismo
artificial criado por uma visão do mundo que faz do egoísmo a raiz da ação, e
restabelece sua profunda e eterna unidade. Dharma é a base da democracia que a
Ásia deve reconhecer, porque nisso está a distinção entre a alma da Ásia e a
alma da Europa. Por meio do Dharma a evolução asiática se realiza, ele é o seu
sagrado.
A dharmacracia integra a ética à política e articula as relações políticas aos padrões de conduta e comportamento individuais, fazendo uma ponte entre o psicológico e o social. Uma democracia será ‘dharmacrática’ quando complementar a visão dos direitos humanos com padrões aceitáveis de cuidado na relação com a natureza e na vida individual e social. Para que esse ideal se realize, é necessário transformar os valores e a energia dominantes que orientam as motivações e as ações de políticos, cientistas, formadores de opinião, assim como promover a educação para os valores humanos, em direção a uma ética ecológica, com padrões de consumo material e a estilos de vida que permitam o florescimento da civilização sustentável.
É preciso realizar um esforço de compreensão transcultural para se promover uma real aproximação entre os conceitos e visões de mundo das civilizações orientais e ocidentais. Numa visão prospectiva, é preciso que os filósofos, pensadores, cientistas políticos e os próprios políticos abram sua visão de mundo para outro repertório, para além das limitações do pensamento fragmentado. Um pensamento prospectivo e livre pode oferecer pistas para superar e transcender os impasses civilizatórios contemporâneos, que levam a guerras e destruições.
A dharmacracia integra a ética à política e articula as relações políticas aos padrões de conduta e comportamento individuais, fazendo uma ponte entre o psicológico e o social. Uma democracia será ‘dharmacrática’ quando complementar a visão dos direitos humanos com padrões aceitáveis de cuidado na relação com a natureza e na vida individual e social. Para que esse ideal se realize, é necessário transformar os valores e a energia dominantes que orientam as motivações e as ações de políticos, cientistas, formadores de opinião, assim como promover a educação para os valores humanos, em direção a uma ética ecológica, com padrões de consumo material e a estilos de vida que permitam o florescimento da civilização sustentável.
É preciso realizar um esforço de compreensão transcultural para se promover uma real aproximação entre os conceitos e visões de mundo das civilizações orientais e ocidentais. Numa visão prospectiva, é preciso que os filósofos, pensadores, cientistas políticos e os próprios políticos abram sua visão de mundo para outro repertório, para além das limitações do pensamento fragmentado. Um pensamento prospectivo e livre pode oferecer pistas para superar e transcender os impasses civilizatórios contemporâneos, que levam a guerras e destruições.
Maurício Andrés Ribeiro é ex-pesquisador
visitante no Instituto Indiano de Administração de Bangalore, autor de
Ecologizar- pensando o ambiente humano, de Tesouros da Índia para a civilização
sustentável e de Ecologizando a cidade e o planeta.
mandrib@uol.com.br / WWW.ecologizar.com.br
mandrib@uol.com.br / WWW.ecologizar.com.br
*Fotos
de arquivo
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segunda-feira, 9 de maio de 2016
DHARMACRACIA E SUSTENTABILIDADE
Recebi de Maurício Andrés Ribeiro o texto abaixo:
"Ao passarmos
os olhos pela história das nações, podemos sentir ressoar da boca coletiva do
povo esta palavra que, expressa em atos, constitui a contribuição de cada nação
para uma humanidade ideal e perfeita. Para o antigo Egito, tal palavra foi
Religião; para a Pérsia, Pureza; para a Caldéia, Ciência; para a Grécia,
Beleza; para Roma, Lei, e para a Índia - o mais velho de seus filhos -, para a
Índia, Ele concedeu uma palavra que a todas resumia, a palavra Dharma. Eis a
palavra da Índia para o mundo."(Annie Besant, in Dharma)
Muitas palavras de origem indiana se incorporaram ao
vocabulário comum no Brasil: ioga, guru e karma são algumas entre elas. Outras,
igualmente importantes, são entendidas e utilizadas apenas pelos estudiosos.
Entre estas está o conceito de dharma, central para a compreensão da
civilização indiana, e que permite refletir sobre o desenvolvimento sustentável
e a sustentabilidade de um modo não-usual.
Dharma é um
substantivo proveniente da raiz do sânscrito dhr, que significa sustentar,
carregar, manter unido: “É a lei, aquilo que sustenta, mantém unido ou erguido.”
Dharma é “o ‘suporte’ dos seres e das coisas, a lei da ordem em sua maior
extensão, isto é, a ordem cósmica.”
O lema da
Índia é “ Unidade na Diversidade”. Trata-se de uma nação multinacional,
culturalmente variada. O dharma, aquilo que mantém as coisas unidas, é, no
dizer de Sri Aurobindo, a lei do ser, padrão de verdade, regra ou lei da ação;
é a forma como o povo indiano concebe a conduta religiosa, social ou moral. O
dharma pode, assim, ser visto como um fator de agregação, que evita a
fragmentação de uma pessoa ou civilização.
A civilização indiana absorveu de forma seletiva as
pressões culturais trazidas pelos diversos povos que invadiram o subcontinente
indiano durante sua longa história. Baseada no seu dharma, aquela civilização
soube sustentar-se por milênios e esconde tesouros culturais valiosos, num
mundo contemporâneo voraz no consumo material e que enfrenta impasses quanto à
viabilidade da sobrevivência da espécie humana.
Estudiosos da
democracia dos direitos, ao mesmo tempo em que apregoam suas virtudes, como
sendo o regime político mais avançado, já alcançado pelas sociedades humanas,
apontam para suas fragilidades. O filósofo Jürgen Habermas, em artigo recente
na Folha de São Paulo, ressalta as tensões que permanentemente desafiam o
estado democrático de direito, especialmente com o terrorismo do início do
século XXI. Manuel Castells fala da necessidade da democracia se reinventar.
‘Dharmacracia’
é um conceito ainda ausente dos dicionários ocidentais. Seria a forma de
governo baseada na aplicação do dharma e vai além da democracia que se pretende
defensora de direitos e que viceja nos regimes políticos ocidentais mais abertos.
(Maurício Andrés Ribeiro é ex-pesquisador
visitante no Instituto Indiano de Administração de Bangalore, autor de “Ecologizar-
pensando o ambiente humano”, de “Tesouros da Índia para a civilização
sustentável” e de “Ecologizando a cidade e o planeta.”
mandrib@uol.com.br / WWW.ecologizar.com.br)
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*Fotos de
arquivo
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segunda-feira, 2 de maio de 2016
PADRE INÁCIO
Conheci Padre Inácio na
década de 70.
Ele viera do Oriente e
passara algum tempo no deserto, entre os beduinos. Sua presença em Belo
Horizonte reuniu grupos de pessoas interessadas no despertar espiritual. Muitas se acercavam
dele buscando conforto para conflitos pessoais, cura de doenças e até o
exorcismo de espíritos maus. Padre Inácio a todos atendia com amor e compaixão.
Muitas vezes fui
chamada para ajudá-lo em cerimônias de cura: “Você é sensitiva, coloca a mão na
cabeça do paciente e eu dou a benção.”
Os padres do deserto
têm de exercer muitas vezes a função de médicos e curandeiros. O deserto atua
de forma direta nas pessoas sensíveis, conduzindo-as a um completo despojamento
do supérfluo e possibilitando maior abertura de consciência.
O deserto obriga a
pessoa a usar o mínimo necessário para sua sobrevivência e, de certo modo, é
uma iniciação espontânea e natural. As culturas primitivas buscavam no silêncio
e no contato da natureza a percepção direta da Realidade Suprema.
A experiência
culminante é a tomada de consciência de nossa origem cósmica.
Padre Inácio entrava em
êxtase quando consagrava a hóstia e seu rosto resplandecia ao levantar o
cálice.
Vinha gente de longe
para participar daquele momento abençoado. Depois da missa ele atendia aos
fiéis.
Sentávamos numa sala
pequenina e ali ele ia aconselhando e trazendo conforto. Meus tios vieram do
Rio para conhecê-lo. Tinham acabado de perder o filho de forma trágica. Padre
Inácio conversou com os dois e elogiou muito o trabalho social que faziam.
Meu filho Euler, que
tinha 18 anos na época, veio nos pegar de carro. Quando ele apareceu à porta,
minha tia comentou em tom de censura: “Padre, o senhor já viu um rapaz dessa
idade com cabelos compridos?” Respondeu o padre: “Já vi sim, Nosso Senhor Jesus
Cristo”.
Padre Inácio não tinha
preconceitos, era ecumênico, abençoava casais que iniciavam um novo casamento,
organizava grupos de reisado e congado.
Sua presença em Belo
Horizonte veio acelerar o processo de integração de culturas.
No livro “Padre Inácio,
vida, missão e curas”, há uma introdução de Pierre Weil.
“Mensagens de Padre Inácio vinte anos depois de sua morte - um
testemunho de Pierre Weil:
"Como relatei no meu livro, “Lagrimas de compaixão”, tive
a felicidade de conhecer meu amigo Amyr Amiden, um sensitivo extraordinário,
descendente de árabes e sujeito às experiências místicas, cuja intensidade
afeta o seu coração, tal como o padre Inácio Farah. Há muitos anos eu assinalei
estas semelhanças para o próprio Amyr.
Após mais de uma década,
desde o nosso primeiro encontro, por ocasião de uma visita na minha casa, Amyr
foi o canal de um especial fenômeno que presenciamos: o aparecimento de hóstias
nas paredes de minha sala de estar. Descobrimos que uma das hóstias foi alojada
num retrato do padre Inácio, tirado em Belo Horizonte, pelo meu amigo que é
arquiteto ambientalista, Maurício Andrés. O retrato estava pendurado na parede
de meu quarto de meditação e representava o padre Inácio, elevando uma patena
durante a missa, como mostra a foto da capa deste livro. A hóstia tinha sido
alojada exatamente no lugar correto, em cima da patena, como mostra a foto a
seguir. Na porta do meu quarto de meditação apareceu um coração feito de óleo,
divinamente perfumado.” (Texto integrante do livro “Padre Inácio – vida ,
missao e curas”. Coletanea, introdução de Pierre Weil)
*Fotos de Maurício
Andrés
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