segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016


A ARTE COMO UM CAMINHO I

Desde os tempos primitivos até os dias de hoje, a arte tem contribuído para o trabalho de conscientização, acelerado nos tempos modernos, quando o homem cada vez mais procura se assumir e se conhecer para atuar consciente e livremente no mundo.

A arte do passado, guardada em museus ou preservada nos monumentos públicos, mostra-nos a história do mundo em suas buscas e inquietações. A luta do homem para sobreviver, transformar-se e evoluir é revelada em suas obras de arte.
Observamos nos museus a força e a agressividade dos cavaleiros da Idade Média, escondidos por detrás das armaduras de ferro, e também a ternura das madonas medievais esculpidas por  artistas anônimos.

Ação e contemplação, agressividade, lirismo, guerra e paz, violência e compaixão nos são revelados em cada objeto de arte. Há contrastes e semelhanças entre os diversos períodos da história. A semiobscuridade das catacumbas revela-nos a grandeza espiritual dos primeiros cristãos, seu desapego e coragem para enfrentar o martírio. A propagação do Cristianismo no Ocidente está gravada nos muros de pedras das catacumbas, nas inscrições dos mártires, nos campanários de Assis, na monumentalidade das catedrais góticas. A arte cristã percorreu períodos históricos, atravessou os mares e nos trouxe o Barroco como legado artístico.

Recordamos Sócrates e Platão, na brancura do mármore grego, revivemos a civilização dos mitos e deuses, do culto ao homem em seus aspectos físico e intelectual. Acompanhamos a influência da Grécia sobre o Ocidente, percorrendo o caminho do pensamento, da filosofia e da arte, para alcançar a época moderna, transfigurada e recriada nos desenhos e gravuras de Picasso.

À luz de novas ideias, o antigo transforma-se no moderno. Oriente e Ocidente encontram-se e interpenetram-se. Culturas diversas se unificam. Contemplando a serenidade do Buda, encontramos outra forma de espiritualidade, baseada no silêncio e no encontro do homem consigo mesmo. A mesma atitude contemplativa estende-se pelos jardins e parques, percorre os interiores despojados e reflete-se na transparência da pintura do Extremo Oriente.

A arte, em toda a sua história, revelou o homem como um ser voltado para as coisas do eterno. Antigamente, a arte ligava-se à religião ou à magia. O artista empenhava-se na realização de uma forma que se destinaria ao culto, motivado por uma realidade espiritual. Movia-lhe o impulso desinteressado, o desejo de superar o cotidiano. Sua necessidade criadora era dirigida para a conquista das forças da natureza ou para a tentativa de desvendar o mistério da vida. De olhos voltados para as estrelas, indagava. Sua arte revestia-se de um caráter místico, concentrado no sentimento universal e eterno.

A identificação do artista ou artesão com esse sentimento universal pro-duziu, desde épocas remotas, obras de arte que permanecem no tempo, com a vitalidade do momento criador. Sentimos essa energia espiritual na arte dos povos primitivos, nas esculturas egípcias, na arte pré-colombiana, na arte cristã e na oriental. O gesto do artesão anônimo esculpindo a pedra ou trabalhando a madeira era cheio de temor e respeito diante do invisível. Sintonizando o movimento da mão com o movimento da alma, o artista ou artesão integrava-se ao universo, associando a criatividade ao impulso místico. Sua arte expressava o individual e a profundidade do sentimento universal. (recorte do livro “os Caminhos da Arte”, editora C/Arte, 3° Edição, 2015)

*Fotos da internet

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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016


O TEATRO DA VIDA

Luciano Luppi, ator, diretor e professor de teatro, escreveu o texto abaixo como um artigo para o jornal Hoje em Dia. Para o nosso público interessado em arte, é bom ver o pensamento de um diretor de teatro, com experiência de muitos anos nos palcos, falar sobre o Teatro da Vida.

“ Em teatro, o ato de representar, em síntese, significa compreender, assimilar e vivenciar o comportamento de um personagem. Os atores, portanto, representam os valores e crenças de um personagem. Entretanto, no palco da vida, re-a-presentamos os nossos próprios valores e crenças. Representar, portanto, os papéis que a vida nos confiou, significa reapresentar-se: ou seja, mostrar aos outros aquilo que somos através de um jogo de símbolos, imagens, metáforas. E precisamos do teatro encenado no palco para criar identificações com o que vivemos no palco da nossa vida. Podemos compreender melhor este jogo quando somos expectadores e estamos numa casa de espetáculos, e aí condoemo-nos com as atitudes de um determinado personagem, choramos com os descaminhos daquele outro, gargalhamos com as peripécias de outro mais. Enfim: identificamo-nos. E o ator é aquele que, no palco, faz aquilo que muitas vezes gostaríamos de fazer na vida, mas não temos condição ou coragem. E aplaudiremos o bom ator porque representou com muita competência e emoção aquilo que temos dificuldade de fazer. Aplaudiremos, também, porque precisamos sinalizar que aquilo é teatro, que o ator é um artista, e que um artista é uma máscara que tem a função de vestir e exibir muitas máscaras. Normalmente, não conhecemos o ser humano que assume o papel de artista. E quanto melhor o artista, melhor que permaneça nessa referência, pois sempre teremos uma máscara a nos servir com identificações adequadas e eficazes, e assim, evitaremos decepções. Contudo, só conseguiremos ser felizes com os nossos papéis na vida, quando estivermos relaxados e conscientes do teatro do qual fazemos parte e conseguirmos impor as mudanças necessárias para desenvolvê-los melhor. Com a clareza de que somos obrigados a assumir muitas atribuições sociais, temos que procurar representá-las da melhor forma possível. Entretanto, em alguns casos, deixamos a atuação enrijecer e o que era uma atribuição se transforma em algo rígido, ou seja, fica como que colado no nosso rosto – é a máscara. E precisamos de recursos para evitar que isso ocorra. A arte do teatro pode nos auxiliar neste projeto. Tendo consciência do que estamos exibindo ao mundo, com a mente aberta, o corpo relaxado, as emoções fluindo livremente, deixaremos de lado o medo e o sentimento de culpa, e poderemos expandir essa brincadeira gostosa, verdadeira e humana. E descobriremos mais: a vida nos impulsiona a transformar o “jogo de esconder” no “jogo de encontrar”. Significa encontrar, cada vez mais, a natureza essencial do ser humano que está por trás das representações, e, assim, desenvolver o sentido da existência, para transformar o sonho de crescer num espetáculo de vida.” (Artigo para coluna semanal no caderno Almanaque, do jornal Hoje em Dia)

*Fotos de Ivana Andrés e da internet


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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016


REFLEXÕES ARTE E TRANSFORMAÇÃO DO SER HUMANO

Vivemos numa época de inquietação resultado do esgotamento de conquistas materiais. O século XX acelerou de forma violenta o desenvolvimento tecnológico sem um equivalente no plano espiritual. Procura-se agora no século XXI, por todos os meios o equilíbrio do homem e seu ajustamento à vida. A psicologia em seu processo de busca, encontrou na criatividade uma das formas de liberação. Arte e psicologia estão unidas no dinamismo do século, procurando despertar e desenvolver a energia criadora do homem. Descobriu-se que a libertação desta energia promove completa modificação no comportamento humano.
 Através da arte os símbolos do inconsciente afloram, mostrando as raízes das angústias, bloqueios e emoções. Desfazem-se as máscaras, conscientizam-se fugas e a realidade aparece em sua autenticidade, sem reservas. Segundo Jung, “um símbolo não traz explicações, impulsiona para além de si mesmo na direção de um sentido ainda distante, inapreensível, obscuramente pressentido e que nenhuma palavra de língua falada poderia exprimir de maneira satisfatória”.
As pesquisas de Jung no interior do ser humano estendem-se a direções muito vastas e abrangentes, deixando as artes plásticas campo aberto para uma investigação cada vez mais consciente.
É o próprio homem em sua evolução cósmica que se revela em todos os seus movimentos e transformações. Seu comportamento, gestos e palavras são manifestações exteriores de uma realidade mais profunda que Jung buscou conscientizar. A arte foi usada por ele como instrumento desta conscientização, tornando-se porta aberta para a conquista do “self” ou arquétipo da divindade. Cada momento criador é um vislumbre desta luz interna que todo ser humano possui, obscurecida e bloqueada pelos condicionamentos e a multiplicidade de solicitações do mundo exterior.
Através do contato direto com esta fonte interna, o ser humano recupera passo a passo a unidade perdida.
Esta visão direta, intuitiva do universo é responsável também pela transformação que se processa no ser humano, ajudando-o a conscientizar seu relacionamento com o mundo. Compreendendo as relações humanas como um todo, também a vida se torna uma arte. A vivência da unidade, a captação dos símbolos do inconsciente, a busca do equilíbrio estendem-se além do objeto criado, modificando e transformando também o próprio artista.
Compreendendo isto, podemos dizer que a arte é realmente uma via de aperfeiçoamento humano, e a consciência desta integração é necessária para a nossa própria harmonização como seres humanos.

Fotos da internet

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