Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016
A ARTE COMO UM CAMINHO I
Desde os tempos primitivos até os dias de hoje, a
arte tem contribuído para o trabalho de conscientização, acelerado nos tempos
modernos, quando o homem cada vez mais procura se assumir e se conhecer para
atuar consciente e livremente no mundo.
A arte do passado, guardada em museus ou preservada
nos monumentos públicos, mostra-nos a história do mundo em suas buscas e
inquietações. A luta do homem para sobreviver, transformar-se e evoluir é
revelada em suas obras de arte.
Observamos nos museus a força e a agressividade dos
cavaleiros da Idade Média, escondidos por detrás das armaduras de ferro, e
também a ternura das madonas medievais esculpidas por artistas anônimos.
Ação e contemplação, agressividade, lirismo, guerra
e paz, violência e compaixão nos são revelados em cada objeto de arte. Há
contrastes e semelhanças entre os diversos períodos da história. A
semiobscuridade das catacumbas revela-nos a grandeza espiritual dos primeiros
cristãos, seu desapego e coragem para enfrentar o martírio. A propagação do
Cristianismo no Ocidente está gravada nos muros de pedras das catacumbas, nas
inscrições dos mártires, nos campanários de Assis, na monumentalidade das
catedrais góticas. A arte cristã percorreu períodos históricos, atravessou os
mares e nos trouxe o Barroco como legado artístico.
Recordamos Sócrates e Platão, na brancura do mármore
grego, revivemos a civilização dos mitos e deuses, do culto ao homem em seus
aspectos físico e intelectual. Acompanhamos a influência da Grécia sobre o
Ocidente, percorrendo o caminho do pensamento, da filosofia e da arte, para
alcançar a época moderna, transfigurada e recriada nos desenhos e gravuras de
Picasso.
À luz de novas ideias, o antigo transforma-se no
moderno. Oriente e Ocidente encontram-se e interpenetram-se. Culturas diversas
se unificam. Contemplando a serenidade do Buda, encontramos outra forma de
espiritualidade, baseada no silêncio e no encontro do homem consigo mesmo. A
mesma atitude contemplativa estende-se pelos jardins e parques, percorre os
interiores despojados e reflete-se na transparência da pintura do Extremo
Oriente.
A arte, em toda a sua história, revelou o homem como
um ser voltado para as coisas do eterno. Antigamente, a arte ligava-se à
religião ou à magia. O artista empenhava-se na realização de uma forma que se
destinaria ao culto, motivado por uma realidade espiritual. Movia-lhe o impulso
desinteressado, o desejo de superar o cotidiano. Sua necessidade criadora era
dirigida para a conquista das forças da natureza ou para a tentativa de
desvendar o mistério da vida. De olhos voltados para as estrelas, indagava. Sua
arte revestia-se de um caráter místico, concentrado no sentimento universal e
eterno.
A identificação do artista ou artesão com esse
sentimento universal pro-duziu, desde épocas remotas, obras de arte que
permanecem no tempo, com a vitalidade do momento criador. Sentimos essa energia
espiritual na arte dos povos primitivos, nas esculturas egípcias, na arte
pré-colombiana, na arte cristã e na oriental. O gesto do artesão anônimo
esculpindo a pedra ou trabalhando a madeira era cheio de temor e respeito
diante do invisível. Sintonizando o movimento da mão com o movimento da alma, o
artista ou artesão integrava-se ao universo, associando a criatividade ao impulso
místico. Sua arte expressava o individual e a profundidade do sentimento
universal. (recorte do livro “os Caminhos da Arte”, editora C/Arte, 3° Edição,
2015)
*Fotos da internet
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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016
O TEATRO DA VIDA
Luciano Luppi, ator, diretor e professor de teatro,
escreveu o texto abaixo como um artigo para o jornal Hoje em Dia. Para o nosso
público interessado em arte, é bom ver o pensamento de um diretor de teatro,
com experiência de muitos anos nos palcos, falar sobre o Teatro da Vida.
“ Em teatro, o ato de representar,
em síntese, significa compreender, assimilar e vivenciar o comportamento de um
personagem. Os atores, portanto, representam os valores e crenças de um
personagem. Entretanto, no palco da vida, re-a-presentamos os nossos próprios
valores e crenças. Representar, portanto, os papéis que a vida nos confiou, significa
reapresentar-se: ou seja, mostrar aos outros aquilo que somos através de um
jogo de símbolos, imagens, metáforas. E precisamos do teatro encenado no palco
para criar identificações com o que vivemos no palco da nossa vida. Podemos compreender
melhor este jogo quando somos expectadores e estamos numa casa de espetáculos, e
aí condoemo-nos com as atitudes de um determinado personagem, choramos com os
descaminhos daquele outro, gargalhamos com as peripécias de outro mais. Enfim:
identificamo-nos. E o ator é aquele que, no palco, faz aquilo que muitas vezes
gostaríamos de fazer na vida, mas não temos condição ou coragem. E aplaudiremos
o bom ator porque representou com muita competência e emoção aquilo que temos
dificuldade de fazer. Aplaudiremos, também, porque precisamos sinalizar que
aquilo é teatro, que o ator é um artista, e que um artista é uma máscara que
tem a função de vestir e exibir muitas máscaras. Normalmente, não conhecemos o
ser humano que assume o papel de artista. E quanto melhor o artista, melhor que
permaneça nessa referência, pois sempre teremos uma máscara a nos servir com
identificações adequadas e eficazes, e assim, evitaremos decepções. Contudo, só
conseguiremos ser felizes com os nossos papéis na vida, quando estivermos
relaxados e conscientes do teatro do qual fazemos parte e conseguirmos impor as
mudanças necessárias para desenvolvê-los melhor. Com a clareza de que somos
obrigados a assumir muitas atribuições sociais, temos que procurar representá-las
da melhor forma possível. Entretanto, em alguns casos, deixamos a atuação
enrijecer e o que era uma atribuição se transforma em algo rígido, ou seja,
fica como que colado no nosso rosto – é a máscara. E precisamos de recursos
para evitar que isso ocorra. A arte do teatro pode nos auxiliar neste projeto. Tendo
consciência do que estamos exibindo ao mundo, com a mente aberta, o corpo
relaxado, as emoções fluindo livremente, deixaremos de lado o medo e o
sentimento de culpa, e poderemos expandir essa brincadeira gostosa, verdadeira
e humana. E descobriremos mais: a vida nos impulsiona a transformar o “jogo de
esconder” no “jogo de encontrar”. Significa encontrar, cada vez mais, a
natureza essencial do ser humano que está por trás das representações, e,
assim, desenvolver o sentido da existência, para transformar o sonho de crescer
num espetáculo de vida.” (Artigo para coluna semanal no caderno Almanaque, do
jornal Hoje em Dia)
*Fotos de Ivana Andrés e da
internet
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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016
REFLEXÕES ARTE E TRANSFORMAÇÃO DO SER HUMANO
Vivemos
numa época de inquietação resultado do esgotamento de conquistas materiais. O
século XX acelerou de forma violenta o desenvolvimento tecnológico sem um
equivalente no plano espiritual. Procura-se agora no século XXI, por todos os
meios o equilíbrio do homem e seu ajustamento à vida. A psicologia em seu
processo de busca, encontrou na criatividade uma das formas de liberação. Arte
e psicologia estão unidas no dinamismo do século, procurando despertar e
desenvolver a energia criadora do homem. Descobriu-se que a libertação desta
energia promove completa modificação no comportamento humano.
Através da arte os símbolos do inconsciente
afloram, mostrando as raízes das angústias, bloqueios e emoções. Desfazem-se as
máscaras, conscientizam-se fugas e a realidade aparece em sua autenticidade,
sem reservas. Segundo Jung, “um símbolo não traz explicações, impulsiona para
além de si mesmo na direção de um sentido ainda distante, inapreensível, obscuramente
pressentido e que nenhuma palavra de língua falada poderia exprimir de maneira
satisfatória”.
As
pesquisas de Jung no interior do ser humano estendem-se a direções muito vastas
e abrangentes, deixando as artes plásticas campo aberto para uma investigação
cada vez mais consciente.
É
o próprio homem em sua evolução cósmica que se revela em todos os seus
movimentos e transformações. Seu comportamento, gestos e palavras são
manifestações exteriores de uma realidade mais profunda que Jung buscou conscientizar.
A arte foi usada por ele como instrumento desta conscientização, tornando-se
porta aberta para a conquista do “self” ou arquétipo da divindade. Cada momento
criador é um vislumbre desta luz interna que todo ser humano possui,
obscurecida e bloqueada pelos condicionamentos e a multiplicidade de
solicitações do mundo exterior.
Através
do contato direto com esta fonte interna, o ser humano recupera passo a passo a
unidade perdida.
Esta
visão direta, intuitiva do universo é responsável também pela transformação que
se processa no ser humano, ajudando-o a conscientizar seu relacionamento com o
mundo. Compreendendo as relações humanas como um todo, também a vida se torna
uma arte. A vivência da unidade, a captação dos símbolos do inconsciente, a
busca do equilíbrio estendem-se além do objeto criado, modificando e
transformando também o próprio artista.
Compreendendo
isto, podemos dizer que a arte é realmente uma via de aperfeiçoamento humano, e
a consciência desta integração é necessária para a nossa própria harmonização
como seres humanos.
Fotos
da internet
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