terça-feira, 29 de outubro de 2013

ESCHER, UM DESPERTAR DO “VER”

A exposição do artista holandês Escher no Palácio das Artes, de uma beleza extraordinária, foi para mim um toque de consciência e um despertar da percepção visual. Lembrei-me das aulas do mestre Guignard, quando ele fazia um quadrado pequenino, dentro de uma cartolina branca. O aluno teria de ver o mundo através daquele orifício e o mundo se desdobrava em mil facetas diversas, apontando direções inusitadas. As coisas eram vistas dentro de um todo imensurável, como um caleidoscópio. Este exercício possibilitava ao jovem a compreensão da multiplicidade da vida visto através do “aqui e agora”. Este “aqui e agora”, tão proclamado pelos orientais que buscam o contato com a Essência, é realizado através dos tempos quando a arte é vista como um processo, uma busca, um encontro. Escher nos abre a percepção e nos coloca com uma visão espacial pouco vislumbrada pelo ser humano distraído, envolvido em seus próprios pensamentos.
A volta ao passado muitas vezes é um impedimento para o presente. Viver o presente, o “aqui e agora”, o poço onde nos vemos em profundidade, a ilusão dos espelhos que multiplicam nossa imagem, tudo isto é motivo de reflexão.
Ninguém consegue sair da exposição “A magia de Escher” sem ser atingido pela magia de suas propostas.
Saio de lá refletindo no poder da criatividade que nos permite ver a unidade na multiplicidade sem palavras, apenas com objetos, desenhos, esculturas, instalações. Na rua, já do lado de fora do Palácio das Artes, vou reparando que o “Escher” continua nos prédios em torno, nas avenidas, nas janelas que se fecham escondendo mistérios, nas escadas onde as pessoas estão sempre subindo ou descendo. O mundo é um grande teatro, uma grande performance, sem necessidade de mostrar que é uma performance, simplesmente o mundo a cada instante nos mostra o novo, o não visto, o não interpretado.
Escher é um mestre disfarçado em artista, um verdadeiro mestre, porque faz o espectador, não somente participar, mas recriar seu próprio mundo de sonhos.
Selecionei algumas frases do seu catálogo:
“Trabalhando com conceitos clássicos da arte pictórica, como a perspectiva, o moto-perpétuo e o reflexo, entretecendo-os com sistemas de ladrilhamento do plano e outros conceitos matemáticos, Escher criou universos inteiros.”
“O mundo de Escher combina objetos incompatíveis. O artista sempre nos propõe a mesma questão: “Por que o mundo - ao menos o mundo retratado na arte – não pode ser uma combinação de diferentes realidades?”
“Talvez eu esteja sempre em busca do espantoso e, por isso, procure apenas provocar espanto no espectador”(Escher)
“Não conheço prazer maior do que errar por vales e montes, de aldeia em aldeia, deixando a natureza sem artifícios agir sobre mim, apreciando o inesperado e o extraordinário, no maior contraste imaginável com o dia a dia caseiro”(Escher)

*Fotos de arquivo
VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.


Um comentário: