A exposição do artista holandês Escher no
Palácio das Artes, de uma beleza extraordinária, foi para mim um toque de
consciência e um despertar da percepção visual. Lembrei-me das aulas do mestre
Guignard, quando ele fazia um quadrado pequenino, dentro de uma cartolina
branca. O aluno teria de ver o mundo através daquele orifício e o mundo se
desdobrava em mil facetas diversas, apontando direções inusitadas. As coisas
eram vistas dentro de um todo imensurável, como um caleidoscópio. Este
exercício possibilitava ao jovem a compreensão da multiplicidade da vida visto
através do “aqui e agora”. Este “aqui e agora”, tão proclamado pelos orientais
que buscam o contato com a Essência, é realizado através dos tempos quando a
arte é vista como um processo, uma busca, um encontro. Escher nos abre a percepção
e nos coloca com uma visão espacial pouco vislumbrada pelo ser humano distraído,
envolvido em seus próprios pensamentos.
A volta ao passado muitas vezes é um
impedimento para o presente. Viver o presente, o “aqui e agora”, o poço onde
nos vemos em profundidade, a ilusão dos espelhos que multiplicam nossa imagem,
tudo isto é motivo de reflexão.
Ninguém consegue sair da exposição “A
magia de Escher” sem ser atingido pela magia de suas propostas.
Saio de lá refletindo no poder da
criatividade que nos permite ver a unidade na multiplicidade sem palavras,
apenas com objetos, desenhos, esculturas, instalações. Na rua, já do lado de
fora do Palácio das Artes, vou reparando que o “Escher” continua nos prédios em
torno, nas avenidas, nas janelas que se fecham escondendo mistérios, nas
escadas onde as pessoas estão sempre subindo ou descendo. O mundo é um grande
teatro, uma grande performance, sem necessidade de mostrar que é uma performance,
simplesmente o mundo a cada instante nos mostra o novo, o não visto, o não
interpretado.
Escher é um mestre disfarçado em artista,
um verdadeiro mestre, porque faz o espectador, não somente participar, mas
recriar seu próprio mundo de sonhos.
Selecionei algumas frases do seu catálogo:
“Trabalhando com conceitos clássicos da
arte pictórica, como a perspectiva, o moto-perpétuo e o reflexo,
entretecendo-os com sistemas de ladrilhamento do plano e outros conceitos
matemáticos, Escher criou universos inteiros.”
“O mundo de Escher combina objetos incompatíveis.
O artista sempre nos propõe a mesma questão: “Por que o mundo - ao menos o
mundo retratado na arte – não pode ser uma combinação de diferentes
realidades?”
“Talvez eu esteja sempre em busca do espantoso
e, por isso, procure apenas provocar espanto no espectador”(Escher)
“Não conheço prazer maior do que errar por
vales e montes, de aldeia em aldeia, deixando a natureza sem artifícios agir
sobre mim, apreciando o inesperado e o extraordinário, no maior contraste
imaginável com o dia a dia caseiro”(Escher)
*Fotos de arquivo
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VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
bacana a fala de suas percepções, Maria Helena.
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