Por
ocasião da minha primeira exposição de arte abstrata no Rio de Janeiro, em
1953, na Galeria do Instituto Cultural Brasil - Estados Unidos, o conhecido
crítico de arte Antônio Bento, do Diário Carioca, escreveu o texto abaixo,
motivo de grande incentivo para o meu trabalho. Guardei suas palavras com muita
atenção, o que me motivou anos mais tarde a desenvolver esculturas baseadas nos
desenhos daquela época.
“O mérito maior que revelam
os quadros de Maria Helena Andrés, principalmente os da última fase, reside no
fato da pintora ter marchado por si mesma para a arte não representativa, na
cidade de Belo Horizonte, onde, além de raras incompletas exposições, não há
museus, gabinetes de estampas ou coleções privadas em que se encontrem quadros
dessa tendência. Marchou para a abstração levada mais pelo espírito de aventura
e de pesquisa de um meio novo de expressão - do que propriamente por uma
imposição do ambiente ou por simples conformismo.
Tendo começado a fazer abstrações ou
formas baseadas na realidade, como se vê de sua tela representando um rebanho
no pasto, em breve Maria Helena Andrés
se encontrava diante dos problemas específicos da pintura não-objetiva.
Seus últimos quadros já denotam um
progresso sensível, mostrando que a artista começa a manejar a linguagem
abstrata, livremente, por si mesma, sem recorrer à gramática dos abstratos
suíços ou dos concretos, em seus exercícios intermináveis de círculos,
quadrados, triângulos, “confettis” multicores, feixes de linhas, tudo isso
arranjado, com maior ou menor habilidade dentro do espaço pictórico.
A artista procura agora estruturar suas
composições dentro de ritmos ou de combinações de forças e cores menos
estereotipadas que as concretas já conhecidas. E sabe desenhar com segurança,
como se pode verificar pela série da “Via Sacra”. Alguns desses desenhos
possuem uma grande pureza linear. E são, ao mesmo tempo, de uma qualidade
arquitetônica irrecusável. Lembram esculturas de fio de ferro, pela nitidez com
que se erguem no espaço, parecendo feitas para uma vida mais transcendente que
a do simples desenho em preto e branco. As últimas composições da artista
denotam uma segurança que não se encontra em muitos dos nossos abstratos de
maior experiência. E revelam também uma sensibilidade apurada. Sente-se que a
pintora tem alguma coisa a dizer na plástica abstrata, trazendo a sua
contribuição a uma arte que requer autenticidade, pois do contrário não passará
de um simples exercício acadêmico”. (Antônio Bento, Diário Carioca, Rio de
Janeiro, setembro de 1953)
*Fotos
de arquivo
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