“Existem no planeta vários tipos de climas, dos árticos aos tropicais, e as soluções de abrigos se adaptam a eles. Iglus, ocas, tendas foram abrigos desenvolvidos para adaptar-se aos vários climas. Ao construí-los, o ser humano usou materiais locais e procurou proteger-se do clima e de suas variações térmicas de calor e frio, bem como de luminosidade. Desde o homem das cavernas, até as aldeias indígenas e os assentamentos dos esquimós ou dos tuaregs no deserto, os ambientes construídos procuravam tirar o máximo proveito da iluminação e da ventilação natural.
A partir do século XIX e durante a primeira metade do século XX, a energia elétrica e o uso intensivo do petróleo produziram uma abundância de energia barata. Na primeira metade do século XX, a arquitetura moderna avançou conceitualmente, ao aliar forma e função, defender a liberdade formal e ao despojar a arquitetura de maneirismos decorativos.
A arquitetura popular é econômica em energia, mas criou-se uma grande dependência de condicionamento mecânico. A complexidade, especialização e divisão de tarefas não incentivam a economia.
Arquitetos e construtores passaram a corrigir os problemas térmicos, de iluminação e de isolamento acústico com o uso intensivo de energia barata. Nas aulas de conforto ambiental, o dimensionamento de sistemas de ar condicionado era o conteúdo da matéria.
As construções envidraçadas tiveram um grande impulso com o final da 2ª guerra mundial, ocasião em que havia superprodução de vidro, pois não era mais necessário repor aqueles que eram estilhaçados pelos bombardeios. Esse padrão de edificações com alto consumo de energia propagou-se dos países de clima temperado para os tropicais, numa imitação equivocada que, no início do século XXI, no contexto de crise energética e climática, torna-se ainda mais absurda. Em dias claros e ensolarados é comum encontrar prédios envidraçados com cortinas que obstruem a luz natural. Como o vidro não é um bom isolante térmico, o calor é neutralizado por aparelhos de ar condicionado. A iluminação é proporcionada por lâmpadas elétricas. O uso desse tipo de espaço construído demanda grande consumo de energia elétrica.
A arquitetura de alto consumo de energia e alto índice de emissão de carbono é uma normose que agrava os desequilíbrios climáticos e ambientais. Conforme Pierre Weil, uma normose é “o conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar ou de agir aprovados por um consenso ou pela maioria de uma população e que levam a sofrimentos, doenças ou mortes. São patogênicos ou letais, e são executados sem que os seus atores tenham consciência desta natureza patológica, isto é, são de natureza inconsciente. As normoses são estágios ainda não percebidos pela sociedade como doenças, tais como as neuroses ou psicoses.” (Mauricio Andrés Ribeiro - Seminário internacional sobre Sustentabilidade e EcoConstrução realizado em setembro em Belo Horizonte )
Este depoimento nos mostra de maneira clara o quanto as construções atuais consomem energia e agravam os desequilíbrios climáticos e ambientais.
À propósito deste desequilíbrio climático, assisti na BIENAL ZERO, organizada por Fabrício Fernandino e Marília Andrés a um vídeo, fruto do trabalho de equipe de um grupo de jovens estudantes da UFMG.
Este vídeo vai nos mostrando uma cerimônia de criação e desconstrução, utilizando objetos de cerâmica. Tudo feito em silêncio, sem música. A água vai desmanchando, dissolvendo e transformando em barro tudo o que foi construído por mãos humanas. Vai criando rios e regatos e levando o pensamento para as inundações que destróem as casas no tempo das águas. Vídeo é uma arte que faz pensar, refletir. Este vídeo nos remete ao avanço do mar e aos deslizamentos dos morros. O artista não colocou título na obra, mas o seu objetivo foi alcançado – objetos construídos pelas mãos de artistas e depois descontruídos pelas águas.
Este vídeo me fez refletir sobre as catástrofes do momento que são desconstruções ecológicas.
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