sexta-feira, 13 de agosto de 2010

REFLEXÕES JUNTO À SERRA DO CURRAL

Neste lugar aprazível, junto a Serra do Curral, os idosos andam devagar, os jovens correm. Em minha frente uma jovem faz alongamento nas árvores, esticando o corpo, depois se deita no chão sobre um tapete para fazer ginástica. Junto a ela, um personal training dá as instruções. Uma senhora ainda jovem se acerca do banco onde estou sentada puxando conversa. Conduz uma cachorrinha vestida com uma roupinha de tricô cor de rosa e um lacinho na cabeça. Os olhinhos miúdos da cachorra observam tudo o que se passa. Ela celebra o ar puro e a liberdade correndo e fazendo travessuras. Agora escuto a moça: “Estou aqui com esta netinha enquanto meu marido corre.” Olhei espantada, pois a netinha era a cadelinha e pensei comigo mesma: “Como essas duas espécies se amam!”
Lembrei-me de um amigo que levava o cachorro para ouvir música. O cãozinho escutava atento, com as orelhas em pé. Depois da morte do bichinho, meu amigo escreveu versos em sua homenagem em várias línguas e os declamava emocionado debaixo da árvore onde enterrara o animal.
Voltando ao “aqui e agora” escuto a moça me falar de sua vida, de seus filhos já crescidos morando longe e do marido que adora correr. Enquanto isso a cachorrinha corre e se diverte à sombra das árvores.

A Serra do Curral vai também me contando histórias de antigamente, dos meus tempos de criança. Quando menina eu via esta Serra como se fosse a muralha da China, protegendo a cidade contra os invasores. Ela me parecia inatingível, com sua cor de ferrugem, como aqueles fogões à lenha de antigamente, brilhando como fogo incandescente ao por do sol. Eu não sabia qual brilhava mais, se o céu ou a Serra.

Uma noite, enquanto eu estudava, acompanhada por meus irmãos, numa grande mesa na sala de jantar em nossa casa na Avenida Afonso Pena, ouvimos um estrondo e sentimos a terra tremer sob os nossos pés. As paredes racharam e os vidros das janelas se estilhaçaram ameaçadoramente. Largamos tudo e fomos para a rua. Seria um terremoto em BH? Os bombeiros subiam a Avenida Afonso Pena, apitando e o povo na rua nos avisou: “É o depósito de munição localizado na Serra do Curral”.
Hoje, como naquele dia assustador, nos condomínios situados nos arredores de BH, as paredes racham e os vidros quebram com as explosões das mineradoras.

Sentada em frente à montanha fico pensando que existem muitas montanhas sagradas em várias regiões do planeta. Naturalmente, esta Serra, por sua beleza e imponência, devia ser uma delas.

Lembro-me de Arunachala, na Índia, dos Andes e dos Himalaias. Os antigos ali celebravam o Sagrado que existe na natureza. Nos tempos modernos, em nome do progresso, a natureza está sendo sacrificada.

Recuando no tempo, me vejo fazendo pic-nic num lugar que se chamava “Acaba Mundo”, situado à beira da Serra do Curral. Hoje eu me pergunto: “Acabou o Acaba Mundo”? Aos poucos a cidade vai tomando conta de tudo, apagando nossas lembranças e sepultando nosso passado nos alicerces dos espigões.

*Fotos de Maurício Andrés

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