“Há quase trinta anos, o poema Triste horizonte de Carlos Drummond de Andrade, publicado na imprensa em 1976, emocionou e sensibilizou os cidadãos para a degradação ambiental em Belo Horizonte. Ele dizia:
Sossega minha saudade. Não me
Cicies outra vez
O impróprio convite.
Não quero mais, não quero ver-te
Meu triste horizonte e destroçado amor.
Naquela ocasião, esse único poema fez mais pela expansão da consciência ecológica do que muitos estudos técnicos aprofundados que apontavam os problemas, porém eram dotados de menor poder de comunicação. Esse foi um exemplo do poder da poesia para aguçar a percepção sobre o meio ambiente por meio do sentimento estético e da beleza, indissociáveis da ética ecológica.
No âmbito global, são inúmeros os casos em que os artistas compromissados e responsáveis puseram sua voz, criatividade e poder de comunicação a serviço da ecologia, da paz, de causas generosas e voltadas para o bem-estar social.
A arte é um caminho poderoso por tocar direto as emoções e os sentimentos. Vai além da razão e do intelecto e seu poder é aplicável de múltiplas e criativas maneiras. Muitas vezes, a emoção, difusa e intuitiva, nebulosa e indefinida, é o motor que deflagra processos mais racionais e sistematizados das questões relacionadas à ecologia. A emoção move, a razão organiza.
Grupos de teatro que abordam em suas peças e encenações a temática ambiental; a produção de textos de teatro e de literatura para serem adotados nas escolas; o envolvimento de escultores e artistas plásticos no projeto de novos espaços urbanos, ao lado de arquitetos e paisagistas; a música e a poesia que refletem a realidade ambiental; a produção de VT’s ecológicos e de manifestações artísticas modernas: essas são algumas modalidades de trabalho nas quais o potencial criativo da arte pode estar a serviço da melhoria ambiental. Veiculadas nas escolas públicas e privadas, tais atividades podem mudar mentalidades e valores, num processo de ecologização da educação formal e informal. A criação de jogos informatizados, nos quais se usem elementos do ecossistema local, constitui forma de mobilizar a criatividade artística no âmbito da informática.
A mobilização dos artistas que trabalham profissionalmente na publicidade, na concepção e produção de peças voltadas para a educação nas escolas, promove a integração entre arte e meio ambiente. Até mesmo a publicidade, freqüentemente a serviço de consumismo e de valores materiais elementares, tem grande potencial de comunicação para prestar serviços que facilitem o exercício da cidadania ecologicamente responsável.
Para a aprendizagem do viver sustentável, a arte adquire realce especial. Ao extrapolar a abordagem racional e intelectual sobre o meio ambiente, ressaltada no ensino de ciência e técnicas, e cuja comunicação com o grande público é mais difícil, as artes têm o dom de possibilitar comunicação imediata.” (Maurício Andrés Ribeiro)
Dando continuidade às idéias do Maurício, intercalo um pequeno texto do meu livro “Os caminhos da Arte”, no capítulo “Volta à Natureza”.
O artista plástico Frans Krajcberg, nascido na Polônia mas naturalizado brasileiro, é o exemplo de um artista consciente dos problemas ecológicos. Quando visitou a Amazônia pela primeira vez, Krajberg decidiu se dedicar à defesa da natureza, documentando a devastação das florestas brasileiras. Sua arte passou então a ser uma arte de denúncia: árvores destruídas e troncos retorcidos, transformados em escultura. Percorrendo aquela região, Krajberg fotografou o drama das queimadas e, com a sensibilidade do fotógrafo, documentou a morte do verde que se torna deserto.
*Fotos: Maurício Andrés e Ivana Andrés
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