Maria Helena Andrés vem há mais de sessenta anos surpreendendo aqueles que dela esperam estilo fixo e coerência formal. Sua trajetória, marcada por saltos e rupturas criativas, pode ser vista como um exercício permanente de desprendimento das forças de continuidade ligadas aos mestres, à crítica, ao público e ao mercado.
Com ela aprende-se que as rupturas não recomeçam do zero. São antes momentos em que o artista toma as rédeas da direção em que vai seu trabalho. Significam liberdade em relação aos outros e a si mesmo, mas não pressupõem abandono do já feito.
O esforço curatorial esteve em realçar os elementos que perpassam e estruturam as diversas fases do trabalho de Maria Helena Andrés. A linha, que busca ordenar as coisas, construir razões gráficas, demandando da artista a disciplina da matemática, da música, da arquitetura. (Quem se debruça sobre uma de suas pinturas concretistas pode encontrar equações geométricas, fantasias de ritmos ou cidades iluminadas). E o gesto da ação espontânea, da liberdade corporal, do esvaziamento da mente que abre portas para o inconsciente.
Buscamos desenhos há muito guardados, retomamos a passagem de Maria Helena pelo concretismo e expressionismo informal e chegamos até as esculturas atuais, que revelam as duas vertentes predominantes em sua obra: a construtiva, relacionada com a linha, e a expressionista, ligada ao gesto. Esse partido curatorial configurou a exposição em três núcleos principais: o concretista, primado da geometria na década de 1950; o primeiro gestual, que traz a chegada da artista na action painting na década de 1960; e o contemporâneo, onde essas duas vertentes se desdobram em pinturas, desenhos e esculturas.
Por razões diferentes, os três núcleos apresentam obras inéditas ao público brasileiro. Se, naturalmente, muito da sua produção recente está sendo exposta pela primeira vez, o mesmo acontece com vários desenhos da década de 1950, que, em pequeno formato, ficaram cuidadosamente guardados no acervo da artista, e com os grandes desenhos da fase de guerra, que, embora exibidos nos anos 1960 em museus nos Estados Unidos, na França e na Itália, têm agora sua primeira exibição no Brasil.
Quem conhece a obra de Maria Helena pode estranhar aqui a prevalência do preto e branco sobre a cor e do desenho sobre a pintura. Mas em um trabalho em que a cor é elemento tão marcante, a exploração do desenho parece revelar sua estrutura. Em Maria Helena a cor nunca esteve completamente solta, mas engajada nos traços, seja nas embarcações, nos astronautas ou nas madonas.
Pensando a transição da linha concretista para o gestual, Maria Helena disse certa vez que, ao jogar as cidades iuminadas no mar, elas viraram barcos – não por acaso à época da sua primeira viagem para o exterior, em 1961. Tal dissolução se fez pelas tintas: a pintura a óleo concretista enfatizava a precisão, a ausência de erro, sendo desestruturada primeiro pelo pastel, em desenhos de linhas mais sinuosas, para então chegar à transparência e espontaneidade do nanquin e do acrílico.
Ao quebrar as linhas geométricas, Maria Helena se abriu para a ação corporal, e passou a atuar constantemente na ponte entre intuição e razão, corpo e mente. Em todas as suas obras pode-se encontrar essa dualidade, como um pendular contínuo entre a vontade de liberdade e a de construir amarras. Seus voos, por mais altos que fossem, na vida e na arte, sempre tiveram um ponto estável para onde regressar.
O visitante da exposição é convidado a adentrar nesses voos, procurar seus movimentos mais fascinantes e seus portos mais seguros. Quem sabe não encontrará na linha mais reta o gesto impreciso da mão da artista, e na mancha mais borrada um pensamento aguçado e rigoroso?
Sou amigo de seu Neto, Joaquim, que mora no Rio.Eu moro em BH e tenho um antigo quadro seu, tem como tema o Parque Municipal e é pintado a "guashe". O material está com mancha de mofo embra não tenha atingido a obra. Como farei para restaura-lo. Gostaria, se possível, de sua orientação. Ficarei imensamente grato. Meu contato é jgoulart11@gmail.com ou 31-87866410. João A. Goulart
ResponderExcluirObs. Leia-se Guache e não guashe
ResponderExcluirOlá Maria Helena,
ResponderExcluirVenho aqui lembrá-la e indicar que tenho fotos da exposição DUO lá do Palácio das Artes, e que você pode usar as imagens depositadas lá no meu Flickr:
Por exemplo:
http://www.flickr.com/photos/hkclebicar/6894342113/