segunda-feira, 29 de junho de 2009

O yogue e o fotógrafo


Ganges é o rio sagrado da India. Nascendo nos Himalaias, suas águas percorrem cidades, vales e campos. Sua história está ligada às antigas culturas da India, com seus deuses e mitos. Anos atrás, os tigres desciam da floresta para beber água no Ganges.

Antes da chegada dos ingleses, aquela região era povoada pelos sadhus. Sadhu em sânscrito significa pessoa boa, santa, inofensiva que dedica sua vida ao estudo dos vedas, a meditação, a repetição de mantras e ao desapego das coisas materiais. Peregrinam de cidade em cidade, vivendo o momento presente, sem guardar nada para o futuro. A tradição hindu respeita o renunciante, oferecendo-lhe apoio para subsistência. Os ingleses, também respeitando o tipo de vida dos sadhus legalizaram a permanência deles na região. Hoje, Rishikesh, (região onde passa o rio Ganges) está povoada de ashrams (comunidades espiritualistas), cada um procurando divulgar a sua própria mensagem. As pessoas costumam banhar-se no rio sagrado como purificação da alma e do corpo. “O rio é a imagem de nossa própria vida”, escrevi um dia em meu diário.

O rio Ganges corre por detrás do Dayananda Ashram em Rishkesh, numa região que antigamente era uma floresta. Do outro lado do rio pode-se ver a montanha coberta de florestas onde se escondem mosteiros e praias de areia duras cobertas de pedras.

O barulho das águas vai conduzindo a mente para um estado de quietude e paz. Um yogue vestido de branco permanece estático em estado de êxtase. Os yogues buscam esse estado de união com o universo todo através da meditação, dos rituais, da entrega e do auto conhecimento. Sentir a própria vida passando como um filme, oferece-la ao Deus onipotente e onipresente era a experiência que o Ganges nos oferecia.

Nas águas do Ganges as imagens se refletiam como num espelho; observei um sadhu concentrado em suas práticas; junto um fotógrafo, máquina a tiracolo registrava a paisagem através das lentes.

As lentes do fotografo descobriam texturas nas pedras, reflexos nas águas trazendo à tona sua vivência do momento. Seu objetivo era documentar o aqui e o agora. O sadhu buscava em silencio, um mergulho no seu mundo interno. Ele abandonara a família, deixara crescer os cabelos e usava roupas exóticas. No ocidente seria taxado de doido, mas na India os Sadhus são respeitados.

Naquele momento muitos sadhus estavam concentrados na cidade de Haridwar, morando debaixo de tendas, sobre a proteção do governo, ali celebrando o festival de Kumba Mela. O fotografo não perdia as cenas : “Olha aqueles patos em cima da pedra!” Patos amarelos, com a cabeça escondida debaixo das asas, também pareciam meditar. Enquanto isso, os esquilos subiam em uma árvore bem perto de nós. Eles não se assustam com o ser humano, pois sabem por instinto que naquele lugar não se matam animais.

Do outro lado do rio, pequenas choupanas em forma de iglus , pareciam escondidas no meio das árvores. Ali viveram os Beatles acompanhando seu guru Maharish Mahesh yogue. Naquele lugar suas composições de caráter internacional, uniram-se aos sons do oriente, numa síntese oriente- ocidente através da música. À partir da experiência na India, George Harrison realizou o concerto de Bangladesh e Paul MacCartney se tornou vegetariano. John Lennon conscientizou o mundo sobre os problemas da violência e da guerra.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

VISITA AO ASHRAM DE RAMANA MAHARISHI


O ashram de Ramana Maharshi, um dos maiores mestres da Índia, foi construído aos pés da montanha de Arunachala, deixando uma área central para as salas de meditação, o templo, as celebrações e os cânticos dos Vedas. As acomodações reservadas aos hóspedes são cabanas com dois quartos, banheiro e varanda. O refeitório fica junto da área central, e quando chegamos já era hora do jantar. Comemos assentados no chão de lajota, arroz muito apimentado servido em folhas costuradas em forma de prato. Usamos a mão direita para comer, segundo antigos costumes da Índia. Ali não existiam garfos nem colheres. Do lado de fora da sala de refeições, um grupo de macacos disputava os pedaços de chapati que sobravam dos pratos. Agarravam-se às grades das janelas e ficavam esperando que sobrasse alguma coisa para eles.
As construções na Índia dão muito valor ao espaço. Há sempre jardins com árvores ladeando os templos, as escolas ou os edifícios públicos.
Recuando para um pequeno muro de pedra podíamos ver o ashram com suas palmeiras, o lago onde os indianos vinham banhar-se e os pavões coloridos, tranquilamente sentados sobre os telhados. As vacas atravessavam as ruas em passos vagarosos, e os carros paravam para deixá-las passar. “Please horn” (por favor, buzine). A buzina também fazia parte do burburinho da Índia. Dentro do ashram, pés descalços, fizemos silêncio. Esse silêncio era necessário para entrarmos em nosso espaço interno.
Os swamis passavam espontaneamente os ensinamentos de Ramana para o visitante. Levaram-me à presença de um swami de 80 anos de idade. Sentei-me em frente a um homem de pele morena e cabelos brancos. Durante uma hora ele não disse uma só palavra, mas a sua Luz irradiava Paz e Sabedoria. O silêncio ensina mais do que as palavras. Os monges trapistas cristãos fazem voto de silêncio e as carmelitas também.
Lembrei-me da mensagem de uma carmelita francesa transmitida em seu pequeno livro intitulado “Os doze graus do Silêncio”:
“A vida interior poderia constituir nesta única palavra : Silêncio”. Essa mensagem me fez refletir sobre a Unidade existente entre os monges cristãos, mergulhados na contemplação e os yogues, recolhidos em meditação. Dentro de nós há uma energia, uma Luz que independe da forma externa. Quando nos ligamos a ela, ou nos perdemos nela, saímos fora do tempo e do espaço. Ela simplesmente existe. A Paz, a Beleza e o Amor, estão dentro e fora de nós.
Ramana estimulava o auto conhecimento e dava como mantra a ser repetido a indagação:

QUEM SOU EU?

Extraído do livro “Encontro com Mestres no Oriente” de Maria Helena Andrés, Editora Luz Azul, BH, 1993

Pinceladas

Um sucesso a apresentação da Orquestra Infantil de São Brás do Suaçuí no dia 12 de Junho na matriz da cidade.
A peça infantil, Bicho de Goiaba, de autoria de Ivana Andrés, ganhou montagem nova no Paraná.
Está acontecendo a exposição sobre os Salões de Arte Contemporânea de Belo Horizonte no Museu de Arte da Pampulha. Vale a pena conferir!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

PEPEDRO NOS CAMINHOS DA ÍNDIA


Para ilustrar o livro “Pepedro nos caminhos da Índia”, viajei pela Índia durante quase um ano, em companhia de Maurício, Aparecida e do meu neto Joaquim Pedro, que para ali se deslocaram motivados por uma bolsa de estudos do Maurício no Indian Institute of Managemanet de Bangalore.
Durante esse tempo percebi ao vivo, por experiência própria as diferenças e semelhanças entre as duas culturas, separadas por muitos mares. Isso me possibilitou receber com muita alegria os textos do livro “Pepedro nos Caminhos da Índia”, escrito por minha nora Aparecida. Aquele roteiro me possibilitava transformar em imagens coloridas o que estava vivendo no momento. Comecei a desenhar nas praças, nos parques, nos templos, nos teatros, muitas vezes cercada por uma multidão de crianças curiosas que ambicionavam as minhas canetas hidrográficas. E muitas vezes as canetas ficavam com as crianças.
O livro do Pepedro foi um testemunho de vida de um novo mundo que que se abria para mim. Naquela época (década de 70), em que não existiam computadores nem comunicação via internet, a Índia era um lugar distante, as cartas levavam às vezes 2 meses para chegar ao seu destino.
Mas assim mesmo era necessário escrever. Aqui vão alguns textos da época, recolhidos de cartas para a família:

“Queridos filhos:

Estamos neste hotel há 3 dias e já muita coisa se modificou. Cheguei amedrontada em Delhi, ainda com um pouco das tensões dos últimos tempos, mas agora já estou bem melhor. Preferi ficar sozinha para escrever, pintar se tiver vontade, ler e meditar. Visitamos os pontos turísticos da cidade, o Grande Forte, o Zoológico, mas resolvi também me virar sozinha. Procurei um templo lindíssimo que já visitara da outra vez. Está situado num bairro só de templos, contendo em grande harmonia e comunicação o templo Budista, Hinduísta e Islâmico. Assisti no templo central , todo de mármore e espelhos paralelos um concerto espontâneo de Ragas Hindus. Um velhinho tocava um instrumento pequeno, um som de harmônio. Quatro rapazes sentados o acompanhavam na tabla. O som das cordas e o ritmo das tablas ecoava por todo o imenso salão de mármore. Fiquei parada muito tempo escutando (aliás estou agora treinando a arte de ouvir em silêncio). Aqui na Índia, apesar do passaporte, não me considero turista, mas observadora ou peregrina, como diz o “I Ching”. Enquanto uma turma de turistas passa rápido absorvendo por golpes de olhar o que vêm, eu resolvi parar e sentir cada coisa que me atrai. Diante de uma imagem de Shiva em meditação, parei tanto tempo que nem cheguei a perceber um monge me coroando de flores amarelas. “Welcome, madam” soou nos meus ouvidos de repente. Ele se levantou, pegou um pouco de cinza e colocou no meu terceiro olho. Voltei mais animada para casa. As cinzas de Shiva me deram coragem para sair sozinha, encontrar pessoas, confiar no desconhecido.”

Pinceladas

O livro “Pepedro nos caminhos da Índia, editado pela Civilização Brasileira e reeditado pela Editora C/Arte, está percorrendo o Brasil com lançamentos em Brasília, Belo Horizonte, Rio, São Paulo e Entre Rios de Minas.
O presidente do IMHA Euler Andrés e sua esposa Iara acabam de chegar de Buenos Aires onde foram trocar idéias culturais com o diretor do BID Daniel Oliveira.
Kátia Santana está com exposição de pinturas na galeria de arte, no prédio da biblioteca, da PUC Coração Eucarístico.
Fomos convidados para um experimento cênico audiovisual com Luiz Sartori do Vale, Sanna Vellava e André Mintz, no dia 10 de Junho às 20:30h no Vale do Sol.
Circuito Colecionador é o livro de Delcir e Regina Costa, a ser lançado no dia 10 de junho de 2009 no museu Inimá de Paula, rua da Bahia, 1201

segunda-feira, 1 de junho de 2009

TAJ MAHAL




Um guia à frente indicava o caminho, contando fatos históricos, mas eu preferia observar sozinha o trabalho do mármore. Parece incrível que mãos humanas tenham esculpido e vazado a pedra dura, até formá-la numa janela de renda! Enxerga-se por entre as frestas, a paisagem, lá fora, os jardins e lagos que circundam o prédio.

Estávamos no Taj Mahal, uma das maravilhas do mundo. O Taj Mahal é um grande mausoléu em mármore branco, construído pelo imperador Shah Jahan em homenagem à sua amada esposa Muntaz Mahal, falecida em 1630.

De repente um som estranho, cristalino encheu o recinto. Parecia o coro de muitas vozes, mas era a voz de um indiano magro, que entoava o canto sagrado dos hindus. A grande torre circular parecia captar o som e devolve-lo em forma de eco, e o mantra OM, subia em espiral como uma revoada de pássaros e trombetas tocando. Meus ouvidos continuaram escutando por muito tempo esse canto estranho e suas vibrações se expandiam através das janelas de mármore rendado. OM é a palavra sagrada dos yogues, e segundo acreditam, tem repercussão cósmica. Entoado dentro do Taj Mahal, ele ressoava com a força de uma orquestra misteriosa, cujos acordes se perdiam no infinito. A música, de todas as artes, é realmente a que mais emociona. Atinge imediatamente a alma, provocando adesão instantânea. Sua comunicação é rápida: sensibiliza e conduz à ação. Desperta no homem o sentimento de amor ou de violência, de serenidade ou agressividade, de pureza ou erotismo. Ela dá impulso e faz mover o mundo. A intensidade mística do OM, rompendo o silêncio do Taj Mahal, puseram-me imediatamente em contato com a espiritualidade dos yogues. Neste momento, percebo claramente o papel da arte como purificadora da humanidade que se massifica. A música é a forma de expressar a saudade que temos do absoluto. Ela nos eleva a um plano superior, além das coisas criadas, iluminando-nos com a pureza dos santos e a alegria das crianças. Devolve-nos o sentimento de Amor Universal, integrando-nos ao mundo e ao cosmos.

Pinceladas

A historiadora Marília Andrés Ribeiro, apresentará em Campinas um trabalho sobre a situação das Neo Vanguardas Brasileiras, em um colóquio sobre Modernidade que vai acontecer na UNICAMP, entre 3 e 5 de Junho.
O grupo UAKTI acaba de chegar de São Paulo, tendo se apresentado com o sucesso de sempre no SESC da Vila Mariana.
O escritor José Saramago tem um blog na internet para que seus artigos possam ser lidos à distância.