Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
domingo, 27 de setembro de 2020
LEMBRANÇAS DA ESCOLA GUIGNARD
Eu era vice diretora da Escola Guignard, Pierre Santos era o diretor.
A Escola, situada no Parque Municipal de Belo
Horizonte, sob o Palácio das Artes em construção, não vivia momentos de
prosperidade econômica. Quando chovia, as salas se alagavam.
Passamos, naquela época, por momentos difíceis mas
sempre com a chama do entusiasmo nos conduzindo. Entusiasmo, significa “Deus
dentro” e, realmente, éramos conduzidos por energias superiores.
Um dia, Pierre convocou os professores para anunciar
que a Escola acabaria por falta completa de recursos. Entregou-me a diretoria
com a finalidade de resolver o problema. Levei o maior susto, mas não perdi o
entusiasmo.
Convoquei novamente os professores para uma tomada
de consciência.
- “Vamos em frente!”
Foi quando eu me lembrei dos ex-alunos de Guignard.
Fui à casa de cada um deles para pedir ajuda. Expliquei o que estava
acontecendo.
- “Vocês vão nos ajudar a manter a Escola de pé!”
- “Quem estaria disposto a dar aulas gratuitas, sem receber
nada?”
A turma foi de uma solidariedade muito rápida,
imediata.
- “Estamos prontos para colaborar”.
Sara Ávila, Solange Botelho, Ione Fonseca, Wilde
Lacerda, Lizete Meimberg, entre outros se prontificaram a dar aulas gratuitas
para salvar a Escola.
Foi assim que os artistas ganharam a solidariedade
de seus colegas e professores de arte.
Em seguida, reunindo a equipe de professores, fomos
aos políticos para oficializar a Escola. Recorremos ao Dr.
José Guimarães Alves, diretor da Imprensa Oficial, que imediatamente nos
prometeu ajuda. Ele nos sugeriu anexar a escola à Imprensa Oficial e, por algum
tempo, Dr. Guimarães foi o nosso diretor.
Esses acontecimentos foram fundamentais para o
ressurgimento de uma Escola, que era considerada, desde a sua fundação, como a
melhor Escola de Arte do Brasil, tendo à frente um dos maiores pintores
brasileiros.
Alberto da Veiga Guignard!
*Fotos da internet
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domingo, 13 de setembro de 2020
ALVORADA VERMELHA
O quadro “Alvorada Vermelha” deu início à minha fase de guerra.
Pintado logo pós a minha viagem aos Estados Unidos,
simboliza o clima de guerra que se espalhou pela América do Norte ao Sul.
Viajei no auge da guerra fria, quando a ameaça da
bomba atômica assustava os americanos.
Naquela viagem assisti a um treino de guerra em Nova
York.
O impacto de uma guerra atômica é terrível, a gente
sente a morte de perto.
Hoje, com o corona vírus, a morte continua a
amedrontar.
Os artistas de modo geral são pessoas mais sensíveis
a essas vibrações que se espalham pelo mundo. Naquela ocasião era a guerra
fria, a bomba atômica.
Eu cheguei aos Estados Unidos com a minha fase de
barcos, desenhos líricos , em papel veludo. Ali fiz quatro exposições, com muito
sucesso. Tive contato com grupos ligados
à “Action painting” e fiz um curso em Nova York na escola Art Student
League, com o professor Theodorus
Stamus. Ali conheci artistas ligados ao zen budismo e pude perceber a
espontaneidade do “Aqui e Agora” na arte, bem como a importância da arte como
forma de meditação.
Voltando ao Brasil, retomei a pintura, e o “Alvorada
Vermelha” marcou o início de uma nova fase, uma denúncia à violência a à guerra.
Nos Estados Unidos, a guerra fria, no Brasil a
violência, a tortura e a morte nas prisões da ditadura, demonstrado por mim nas
telas de guerra.
Por isso mesmo o quadro é um símbolo daquele clima
da época.
Foi pintado no Brasil na época em que chegaram as
tintas acrílicas.
“Alvorada Vermelha” é um ponto de mutação. Não
somente na sua temática explosiva, como em sua técnica.
Substituir o óleo pelo acrílico estava na época
sendo introduzido nos Estados Unidos. A tinta acrílica possibilita maior
leveza, uma semelhança com a aquarela.
O quadro foi pintado em 1968, sob um clima de grande
tensão no planeta.
Eu me lembro de pintar na ocasião, com pedaços de esponja
rasgados e pedaços de isopor também rasgados. Era necessário um contato direto
da minha mão com a tela. O pincel me parecia criar distância.
No momento da criação usamos de recursos criados na
hora.
Voltando ao “Alvorada Vermelha”, ele significou uma
mudança no meu processo. As cores vermelho
preto teriam que falar por elas mesmas, sem recursos literários.
E foi assim que o “Alvorada vermelha” foi pintado. Ele
já participou de uma Sala Especial na Bienal de São Paulo, denominada “Arte abstrata efeito Bienal”organizada por
Cassimiro Xavier, crítico de arte.
Hoje este quadro está em Lisboa, na casa de Antônio
Eugênio de Salles Coelho e Renata
Guerra. Este quadro atualmente, tem servido como inspiração para várias
releituras.
Que a sua denúncia à guerra e à opressão seja
compreendida por todos, é o que eu desejo no momento. Que esteja em boas mãos.
Fotos de Ivana Andrés e de arquivo
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domingo, 6 de setembro de 2020
SOL DO MEIO DIA
Dizem que os idosos
Devem tomar um pouco
Do sol do meio dia
Além de receber os raios
Solares
Colocar as palmas das mãos
Em direção ao sol
Saí de casa
A rua estava vazia
Todos no almoço
Ou vendo TV
Andei de um lado para
Outro repetindo o mantra
Que recebi na índia
Com a Gurumai
HAM SAH
Repetir HAM SAH
É repetir um som
Que ultrapassa as fronteiras
Do conhecido.
Preste atenção ao som
E verá que ele está em tudo:
Nas batidas do coração
Na respiração
Repetimos HAM SAH
Ininterruptamente.
Ele só termina com a morte
HAM SAH é vida.
Em frente à minha casa
Tudo é silêncio.
Os pássaros estão quietos
Mas o vento desfolha
As flores das árvores
O chão já está coberto de flores amarelas
Mas minha respiração repete
HAM SAH
*FOTOS DE MARÍLIA ANDRÉS
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