domingo, 2 de agosto de 2020

UM MÊS NO MATO, O QUE APRENDI NESSE PERÍODO

Um mês no mato. O que eu aprendi nesse período.

 

Recebi de Paulo Gontijo, marido da minha neta Alice, o texto que transcrevo abaixo:

 

“Pouco mais de um mês atrás, Alice e eu pegamos as meninas, alugamos um carro de uma amiga e viemos continuar nossa quarentena em Entre Rios de Minas. A cidade tem 15 mil habitantes, 4 casos de Covid confirmados e, o mais importante, espaço. Para quem tem filhas de 3 e 2 anos a rotina de elevador-1 hora de banho de sol-higieniza tudo – repete - era particularmente perigosa, ainda mais com a Cecília, minha caçula tendo um quadro de doenças respiratórias frequentes.

A família da Alice tem uma terrinha, como eles dizem em Minas. E nela a casa da avó dela, apesar de bastante rústica, foi sendo arrumada ao longo desse mês. Já podemos dizer que temos algo perto de uma rotina aqui. Alice caminha todo dia cedo, depois do café eu e as meninas damos comida para os porcos, a internet por satélite, apesar de cara tem funcionado bem o suficiente e vamos trabalhando, cuidando da casa e tentando dar o máximo de atenção que conseguimos,  para as meninas.

Nesse período o mais importante foi começar a fazer um exercício de reavaliar o que é fundamental na minha vida e o que, surpreendentemente, não é.

É muito legal viver perto do burburinho em Pinheiros, ter bons restaurantes na quadra e ir a pé para o escritório. É muito mais importante ver as minhas filhas brincando com a Pipoca, cachorrinha vira-lata que nos adotou e poderem brincar ao ar livre. Carrapatos incomodam, sempre temos terra ou lama para limpar no chão da casa e elas vivem sujas e felizes. A creche bilíngue com pedagogia de ponta é espetacular, mas enquanto as escolas não reabrem, a Cora colhe flores todos os dias, vê tucanos e seriemas (que a Ceci chama de Cinemas) e aprende o que é ordenhar uma vaca.

Tia Iara e Tio Euler, que moram na casa de cima, produzem laticínios, então queijo bom nunca falta. Nos sábados de manhã os moradores do entorno fazem uma espécie de feira pop-up organizada pelo whatsapp. Sempre compro umas garrafas de cerveja artesanal, uns sacões de tangerina e, algumas vezes, uma goiabada. Somando isso tudo, talvez eu conseguisse pagar um café expresso no aeroporto de Congonhas ou beber uma coca com esfirra (ou seria esfiha) em Pinheiros.

A hora de voltar para a cidade grande vai chegar, talvez agosto, setembro quem sabe. Nesse tempo, descobri que aproveitar as horas, ter espaço e não viver cultivando a falta de tempo e a correria podem fazer de mim uma pessoa mais produtiva, conectada com a minha mulher e as minhas filhas e atenta ao que importa de verdade. E talvez seja esse o nosso desafio pós Covid, achar espaço e tempo, parar um pouco mais, olhar um pouco mais para quem e o que importa.” (Paulo Gontijo)

 

*Fotos de arquivo

 

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