Dando
continuidade ao Livro sobre a Água, de autoria de Maurício e Aparecida Andrés,
transcrevo o trecho abaixo:
2. Em movimento
Quando o clima está bem frio,
das nuvens claras que flutuam,
posso cair como
granizo,
chuva de pedras,
flocos de neve,
leves.
As crianças me viram e reviram,
brincando comigo.
O calor do sol me derrete.
Liquefeita,
posso evaporar no ar.
No meio das nuvens escuras,
raios e
trovões me abrem caminho.
E eu me entorno em gotas
que derramam do céu
em aguaceiros e trombas d`água,
garoa fina,
chuviscos.
Chovendo sobre os telhados,
embalo o sono da noite,
com um barulho ritmado,
que é muito bom de se ouvir.
Na vidraça das janelas,
as gotinhas vão, juntinhas,
em filetes desenhados,
escorrendo até o chão.
As copas das grandes árvores
amortecem meu impacto.
Escorrego pelos galhos
e troncos dos jacarandás,
das canelas e angicos,
dos perfumados sassafrás,
e das mangueiras da Índia.
Dos eucaliptos da Austrália,
dos bambuzais vindos da China,
dos flamboaiãs de Madagascar.
E me misturo, embaraçada,
às moitas de capim da África.
As árvores e
matas, nos morros
e ao redor das nascentes,
me ajudam a entrar terra adentro.
Se caio em lagos e poças,
formam-se ondas em círculos.
Quando o
tempo se acalma,
sou espelho
cristalino
que reflete a paisagem.
Se não há
vegetação,
eu me esborracho no chão
e ali desloco
a terra.
A erosão, então, se forma
e junto com outras gotas,
vamos levando conosco
muita terra, pedras, paus.
Ao empaparmos o solo,
ocorrem deslizamentos.
Descontroladas, selvagens,
jorramos de grandes alturas
nas quedas das cachoeiras
inundando tudo.
As enchentes, transbordando,
fertilizam as margens dos rios.
Com os torós sobre as cidades,
Também há
inundações.
Enxurradas volumosas
vão formando espirais,
ao entrarem nos bueiros,
mergulharem nas bocas-de-lobo
das redes de drenagem.
Quando
penetro no solo,
eu umedeço a
terra.
Vou entrando devagar,
me infiltrando lentamente,
por dias, meses e
anos.
Pelo reino das minhocas,
pelas tocas dos tatus,
pelos ninhos das formigas,
pelos buracos das cobras,
vou passando cá e lá,
por cima e
por baixo das raízes,
num tecer a teia líquida
nos subsolos escondida.
*Ilustrações de Maria Helena Andrés
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