O texto abaixo foi uma introdução à minha Oficina de
Papel:
Sempre gostei de mutirões, porque através deles
aparecem talentos e doações generosas.
Dividir com os outros os nossos conhecimentos é
muito importante.
Hoje, vou dividir com vocês um pouco dos meus 83
anos de arte e trabalho ininterruptos.
Comecei aos 14 anos desenhando artistas de cinema e
até hoje o desenho é companheiro inseparável de tudo o que eu fiz na minha vida
de artista.
O meu itinerário artístico se expandiu em Entre Rios
de Minas, na fazenda da Barrinha. Ali,
munida de pincéis e aquarelas, eu me enveredava pelos morros e vales, buscando
situações do cotidiano de uma fazenda mineira. Os currais, vacas sendo
ordenhadas, os cavalos preparados para serem montados pelos empregados ou
crianças, o interior da fazenda com seus móveis antigos, a cozinha de fogão de
lenha, o relógio antigo que dava badaladas, tudo isso era novo para mim. Eu
tinha sido criada em Belo Horizonte e a vida no campo era uma novidade.
O Campo das Vertentes foi fundamental para um
despertar de um novo caminho. Ali encontrei sugestões variadas para a minha
arte.
Desenhar é fundamental, rabiscar é importante, pois é
dos rabiscos que surgem as ideias. O desenho pode ser disciplinado ou livre,
correspondendo à necessidade de cada artista.
É importante que cada um e cada uma de vocês
encontre o seu próprio caminho, seja copiando paisagens, cenas do cotidiano,
festas populares, tais como a festa da colheita, famosa na região. É importante
anotar tudo, e Entre Rios oferece oportunidade para isto.
Desenhar na rua ou das janelas da cidade, documentar
o movimento do povo, depois percorrer os campos, desenhar os carros de boi, as
festas juninas, tudo isto serve de motivação para novos quadros ou livros de
artista.
Nesta aula iremos inicialmente experimentar a “Linha
contínua”, ensinada pelo próprio mestre Guignard, de quem fui aluna. Iremos
partir de um ponto no papel, percorrer um desenho figurativo (ou não) e voltar
para o mesmo ponto, sem tirar a caneta do papel, e sem se preocupar em cruzar
linhas já traçadas.
Mostrarei em seguida algumas experiências com a arte
não figurativa.
Iremos lembrar uma frase do famoso crítico de arte
Maurice Denis :
“Um quadro, antes de ser uma paisagem ou uma figura
humana, é um conjunto de linhas e formas que se harmonizam numa certa ordem.”
Iremos trabalhar com figuras geométricas recortadas
por vocês em papéis coloridos e depois coladas no papel suporte. Cada um de
vocês irá procurar esta “certa ordem”, a que se refere Maurice Denis. Esta
ordem se chama “Composição”, e será colada no papel. A sua aplicação pode ser
em quadros, em toalhas, sacolas, jogos americanos, bolsas, etc.
Ajustando formas e combinando cores, chegaremos a um
resultado feliz.
Partindo da linha contínua já experimentada no
desenho, vocês irão criar uma escultura de papel, que mais tarde servirá de
base para novas criações.
Mostrarei finalmente como recuei no tempo em busca
das origens da minha arte, figurativa e não figurativa, transformando as ideias
de décadas passadas em colagens e em esculturas. As primeiras esculturas
partiram de desenhos geométricos, chamados de “construtivos” e, através de
programas de computação, tornaram-se tridimensionais.
Vamos começar?
Um grande abraço,
Maria Helena Andrés
*Fotos de Natália França
VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”,
CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
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