Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
segunda-feira, 15 de maio de 2017
YOGA E ARTE II
Dando continuidade ao tema Yoga e Arte, segue o
texto abaixo extraído do meu livro “Os Caminhos da Arte”:
Swami Vivekananda nos diz: “Que é a beleza num rosto
humano, no céu, nas estrelas e na lua? É apenas a apreensão particular da real,
envolvente Beleza Divina.” “Tomai esta alta posição Bhakti, que nos faz esquecer imediatamente
nossas pequenas personalidades.”
Tomemos estas palavras a respeito de Bhakti Yoga para trazê-las, como analogia, ao
campo da arte. Que é a arte senão a busca desta Beleza Suprema? Ela pode se
revestir de várias formas, mas a sua linguagem direta é a procura da beleza que
existe em estado latente dentro de cada ser humano. O artista é constantemente atraído a
buscá-la. “Um dos nomes do Senhor em Sânscrito é Hari , que significa que Ele
atrai todas as coisas para si.”
“O Senhor é o
grande ímã, e somos todos como limalhas de ferro; estamos sendo sempre atraídos
por Ele, e todos lutamos por alcançá-lo.”
Swami Vivekananda nos mostra a atração para o
Absoluto que todo ser humano tem. Trazendo-a para o campo da arte, veremos como
o homem, através dos tempos, entregou-se apaixonada e totalmente à busca de um
dos atributos de Deus, que é a beleza. Para a conquista desta beleza, o artista
deixa-se entregar inteiramente ao seu trabalho, apesar das lutas que muitas
vezes enfrenta. O que dirige, impulsiona e conduz a arte ao crescimento
interior é, antes de tudo, o amor desinteressado, a entrega total ao trabalho,
independentemente de sucesso ou fracasso, como no Karma Yoga. A atitude
característica de um yogue é a
disponibilidade diante das circunstâncias externas. Ele se põe apenas como
instrumento a trabalhar sem visar a resultados materiais. Diz a Bhagavad Gita:
“Se não nos apegarmos ao trabalho que fazemos, ele não terá qualquer efeito
aprisionador sobre nossa alma.”
O yogue procura se desapegar de lucro e fama, porque
sabe que o trabalho egoístico o aprisiona, e um
yogue deseja, antes de tudo, Libertação.
(Trecho do meu livro “Os Caminhos da Arte”, editora
C/ARTE, 2015)
Fotos de Julio Margarida e da
internet
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terça-feira, 9 de maio de 2017
YOGA E ARTE I
Somente na medida em que o Yoga deixa de ser apenas disciplina e a arte deixa
de ser profissão é que podemos entender mais claramente a unidade de ambas como
formas de autorrealização.
“O que experimentamos no fundo de nossa alma é a
realização.” Estas palavras de Swami Vivekananda sobre a experiência direta nos
fazem refletir sobre o caminho da arte. O exercício da arte, feito com amor
desapegado, conduz à realização intuitiva da Verdade. Estudaremos as
semelhanças entre arte e Yoga em seus
quatro margas, ou caminhos individuais
de aperfeiçoamento.
O Yoga oferece aos seus adeptos quatro caminhos
fundamentais, que podem conduzi-los ao estado de Libertação: Raja Yoga, Bhakti Yoga, Karma Yoga e Jñana
Yoga. Estes correspondem respectivamente à união com o Supremo por meio do
domínio sobre a própria mente, do amor e devoção, da ação e do conhecimento.
O intuito do Yoga
não é afirmar a Verdade, mas conduzir o adepto, através da experiência,
à conscientização da Verdade imanente em si mesmo e em toda a natureza.
Poderíamos dizer, em nossas reflexões sobre arte e yoga , que a arte, em sua
trajetória de aprendizado de vida, muitas vezes se aproxima do aprendizado de
um yogue. O treinamento de um yogue
dentro de Raja Yoga ou disciplina mental assemelha-se ao treinamento paciente
pelo qual terá que passar um artista, desenvolvendo sua capacidade de
observação, concentração e atenção na busca de ampliar, cada vez mais, a sua
percepção do mundo.
Conjugar o movimento da alma ao movimento da mão,
suprimir o su-perfluo para melhor sugerir, intensificar, abrandar o traço;
levá-lo como a música de maior intensidade de vibração ao pianíssimo, que
apenas se pressente, é a finalidade à qual se dirige o estudante de arte em
seus primeiros esboços.
Essa síntese de nossas faculdades de concentração e
percepção nem sempre é conseguida no princípio, quando todas as experiências
ainda se escondem sob o arcabouço fechado dos preconceitos e das inibições.
Somente o exercício constante e o amor ao trabalho poderão vencer as barreiras
que se erguem diante de um aluno iniciante e indeciso. Essa entrega total, esse
amor ao trabalho pode ser comparado ao caminho Bhakti.(Trecho do meu livro “Os
Caminhos da Arte”, editora C/ARTE, 2015)
Fotos de Maurício Andrés e da internet
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segunda-feira, 1 de maio de 2017
ESCAMBOS
Quando nos desligamos dos incentivos, ganhamos
outras dimensões.
Os artistas de Minas Gerais afastados dos grandes
centros por cadeias de montanhas estão sobrevivendo quase heroicamente. Formam
uma resistência que começou há séculos e continua viva até os dias de hoje.
Estamos isolados, mas em compensação, temos o
silêncio necessário à criação. Participar de tudo à distância, enxergar o mundo
e permanecer ao mesmo tempo no recolhimento de si mesmo, é uma dádiva de Deus.
Estou presente no aqui e agora, estou presente no
mundo sem me atordoar com os ruídos ensurdecedores de “muitas cidades, homens e
coisas”, como dizia Rainer Maria Rilke em seu livro “Cartas a um jovem poeta”.
É preciso conhecer as cidades, o mundo lá fora, mas também perceber “o voo dos
pássaros e o gesto das flores que se abrem nas madrugadas”
Enquanto escrevo, vou lembrando o livro que foi para
mim fundamental, “Cartas a um jovem poeta”.
À proporção que o tempo vai passando, vou
compreendendo melhor as palavras de Rilke.
Coloquei este texto no meu primeiro livro “Vivência
e Arte” e, não sei porque, ele está me surgindo no momento.
Enquanto escrevo vou observando o meu entorno, as
flores que caíram de uma árvore em frente à minha casa.
“Pise a grama”, nos diz Roberto, meu neto. Estou
pisando a grama e refletindo. Pisar a grama é necessário para qualquer um –
descarrega emoções negativas e nos possibilita um contato direto com a Mãe
Terra. Sim, somos filhos da Terra, mas muitas vezes procuramos o asfalto.
Voltar para a Terra é importante, ela nos
reabastece, nos alimenta.
Estar na cidade constantemente é um sufoco. Enquanto
escrevo, conservo um jornal no banco ao meu lado. Ele me traz notícias do mundo
e eu pertenço ao mundo também, faço parte dele, sou parte integrante de uma
sociedade que está sofrendo muito.
Nunca esquecer disso.
Leio as notícias dos artistas reclamando dos
políticos, da falta de apoio à cultura, da necessidade de deixar Minas Gerais e
ir para São Paulo ou Rio.
Aqui em Belo Horizonte os artistas plásticos
continuam vivos. São muitos...
Continuam trabalhando em silêncio porque gostam
deste silêncio. Não têm marqueteiros nem compradores, não pertencem a grupos.
Reúnem-se nalgum lugar para trocar ideias. Encontrei esse lugar no bairro de Santa
Efigênia, BH. Chama-se “Asa de papel”. Ali um coletivo de artistas,
intelectuais e profissionais liberais promove encontros, palestras, bate-papos
com outros artistas. Trocam-se ideias, trocam-se quadros, cerâmicas,
esculturas, livros.
Durante o encerramento da minha exposição, saí muito
realizada. Meus quadros valeram trocas fabulosas. Agora posso ter em casa um
quadro de Jayme Reis, uma escultura de Jorge dos Anjos, uma cerâmica de Erli
Fantini. Troquei o que tinha na hora para trocar, até por alguns vídeos de
Guignard feitos por Izabel Lacerda.
Sempre fui a favor dos escambos entre artistas.
Estamos revivendo os antigos incas que iam para as praças aos domingos levando
o produto da semana para ser trocado por outros produtos. O dinheiro não corria
e nesta época de crise, os incas estão nos ensinando.
A resistência francesa teve na época da guerra seu
ponto de encontro no Café de Flore em Paris, onde se reuniam os intelectuais
Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Paul Claudel entre outros. A “Asa de
Papel” está reunindo a resistência de Minas Gerais, a possibilidade de se criar
sem necessidade de se aliar às grandes empresas.
Micro empresa é incentivo ao pequeno que algum dia
será exemplo para a grande comunidade do século XXI.
Não é preciso abandonar as montanhas em busca de
apoio e incentivo. Apoio e incentivo temos aqui, na iniciativa desses jovens
construtores de uma nova versão da vida e da arte.
*Fotos da internet
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