“Guardanapos” é o título do livro de Carlos Starling
, escrito ao sabor do momento, nas mesas, nos jantares, nos encontros com
amigos. Carlos Starling é médico infectologista, especialista em Medicina
Preventiva e Social, mestre e professor de Medicina, poeta, escritor, gourmet e
ciclista.
Logo de cara, me simpatizei com o livro, pois também
escrevo em qualquer papel que estiver
à minha frente. Somos escritores repentistas, do momento. Guardanapos,
escrito em guardanapos, é um depoimento sensível das vivências de um médico,
cientista, escritor, pai de família. Nada escapa à sua visão da vida, o mundo
externo provocando palavras, rimas poéticas.
O dia a dia de um poeta é registrado no seu
cotidiano, no trem que passa, nas filhas brincando, nas vivências íntimas de um
médico escritor...
Aliás, por que os médicos, de um modo geral, gostam
tanto de arte?
Meu marido, Luiz Andrés, não escrevia poemas, mas
apreciava a arte, enxergava o futuro de seus familiares artistas, dava incentivo
e preparava para mim telas enormes...
Fico pensando no quanto devo a ele o incentivo e
coragem para seguir em frente. Ele me dizia sempre:
“Artista não pode ficar parado aqui em Belo
Horizonte, tem de conhecer outros lugares. E com este incentivo tive coragem de
me aventurar pelo mundo...
Mas, voltemos ao nosso amigo Carlos, casado com
minha neta Joana.
Agora tenho nas mãos o seu livro e volto a refletir
sobre o médico poeta.
A medicina é também uma arte, a arte de cuidar do
ser humano, tornar mais leve o seu sofrimento, curá-lo.
No momento, tendo Joana ao seu lado, Carlos pesquisa
sobre o papel que está em sua frente, no restaurante, enquanto espera o almoço
chegar.
É ali, naquele momento, que a poesia vem à tona em
sua intensidade. Quantos guardanapos seriam necessários para um poema intensivo
como “Síria”?
Da sua coletânea este poema é o que mais nos toca no
momento em que a Síria está sendo destruída e arrasada pela ira dos canhões.
O problema dos refugiados, da Síria destruída ali
está registrado de forma poética.
“Guardanapos” é uma coletânea de 26 poemas de
centenas escritos por Carlos. O livro foi idealizado e produzido por sua esposa
Joana Caporali Andrés Starling. Produzido secretamente, o livro foi um presente
de aniversário de Joana para Carlos, e apresenta um pequeno recorte de décadas
de escrita.
SÍRIA
Fujo
para a vida,
Lanço
minha sorte ao mar.
Deixo
meu quintal,
Meu
parreiral,
Meus
lírios que não floriram.
Ondas
levam meus sonhos,
Meus
filhos,
Meus
álbuns de família.
Ancoro
num deserto de farta solidão,
Sou
um número,
Uma
onda dissonante,
Uma
imagem repetida.
Abro
os olhos do mundo
Para
o futuro incerto...
Amor
é o que espero,
Vida
é o que quero,
Apenas
vida.
Síria,
Síria,
Minha
Síria,
Otomana,
desértica,
Minha
Síria, Assíria, Curda, Turca,
Minha
Síria Grega, Armena,
Minha
Síria Druza,
Sunita,
Alaudita...
Bendita
Minha
Síria Yasidi,
Árabe
e Cristã.
Minha
Síria tiranizada,
Arrasada
pela ira dos canhões insensatos...
Minha
Síria milenar,
Romana,
Francesa,
Levante,
Levante...
Abrace
seus filhos com carinho.
Minha
Síria plural,
Plana,
Fertil,
Eufrates.
Onde
foram seus filhos?!
Abrace-os,
abrace-os...
Minha
Síria Damasco,
Alepo,
Latakla,
Hama,
Ama
teus filhos,
Para
onde foram teus filhos?!
Abrace-os...
Levante...
Levante...
Minha
Síria de Bana Alabed,
De
Bana e Fatermah
Pede
paz,
Paz
é o que pede Bana Alabed...
Paz Levante.
Levante
paz...
(Novembro
de 2016)
*Fotos
de arquivo
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